Andar pelas ruas de São Paulo é hoje um ato de coragem, e os paulistanos que encaram esse desafio diariamente se cercam de estratégias de guerra. Falar ao celular, infelizmente, deixou de ser um direito dos transeuntes na maior metrópole do País, sob pena de ter o aparelho levado a qualquer hora do dia, em qualquer lugar. Roubos de carteiras, joias ou mesmo bijuterias, entre outros pertences, também são ameaças constantes. Uma das saídas acaba sendo esconder objetos até nas meias. Como se fosse normal viver assim.
Chama especial atenção o fato de que essa violência ganhou contornos de epidemia na Avenida Paulista − uma das vias públicas mais vigiadas na região central de São Paulo. Como revelou o Estadão, a avenida-símbolo da capital registrou no ano passado o maior número de roubos dos últimos dez anos: 1.106, média de três ocorrências por dia. Houve aumento também de furtos, atingindo o segundo maior patamar do período, com mais de 6 mil casos denunciados à polícia.
Ora, se a situação chegou a esse ponto na Paulista, é assustador imaginar o que pode estar ocorrendo em outras áreas da cidade. A propósito, vale lembrar que a Pinacoteca de São Paulo, no centro, recentemente colocou um aviso na calçada para alertar seus frequentadores quanto ao risco de usar celular nas imediações do prédio − algo que hotéis na região da Paulista também fazem.
As estatísticas de roubos e furtos foram obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) e são reveladoras da dinâmica dessas formas de crime. Conforme informou o Estadão, 42,3% dos casos se deram nos arredores do Museu de Arte de São Paulo (Masp), num raio de 350 metros. Por outro lado, domingo, quando a avenida é fechada para carros, foi o dia da semana com maior quantidade de furtos e roubos − 34,7% −, seguido por sábado, com 14,2%. Em outras palavras, quase metade das ocorrências concentrou-se nos fins de semana ou numa área específica – o que, em tese, deveria facilitar a prevenção e a repressão.
Eis um ponto de partida para o efetivo combate a esse tipo de violência. Para isso, é essencial que as forças policiais façam uso adequado dos dados. Mais que respostas protocolares sobre reforço do policiamento ostensivo − iniciativa necessária, mas insuficiente −, o que se espera são ações coordenadas de inteligência para mapear e prevenir riscos. O mesmo vale para a Guarda Civil Metropolitana sob o comando da Prefeitura. A rigor, essa mesma atitude deve orientar o policiamento em toda a cidade e não somente na Avenida Paulista.
Lamentavelmente, a situação na avenida mais paulista de São Paulo é sintoma de uma onda de violência que se espalha pelas ruas. Ao tirar os pés de casa, o paulistano se vê forçado a encarar um campo de batalha. Roubos a transeuntes, como se sabe, afetam diretamente a percepção sobre segurança pública, o que tende a ter dramático impacto econômico e social. Sem a preservação do direito de ir e vir, prevalecem a desconfiança, o medo e o trauma. Não se faz uma cidade saudável assim.