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Polarização total no Equador

Eleição equatoriana é teste para liderança do Brasil na região, vença quem vencer

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Por Notas & Informações

Assolado pelo crime organizado e por apagões energéticos frequentes, o outrora estável Equador decidirá em 13 de abril quem será seu próximo presidente: Daniel Noboa, que cumpre mandato-tampão, ou Luisa González, apadrinhada do ex-presidente Rafael Correa, a quem Noboa já derrotou em 2023. Tal polarização, para o bem do Equador e também do Brasil, precisa ficar para trás tão logo o segundo turno seja realizado.

González perdeu há dois anos, mas saiu fortalecida do primeiro turno eleitoral recém-realizado. Pesquisa de boca de urna chegou a cravar a reeleição do atual presidente em primeiro turno, mas os resultados finais foram bem apertados. Em uma eleição com 16 candidatos, Noboa e González tiveram algo como 44% dos votos válidos cada um, com ligeira vantagem para o incumbente, o que antecipa uma intensa disputa por votos nos próximos dois meses.

Desencantados com a democracia, apenas 42% dos equatorianos apoiavam o sistema em 2024, depois de um pico de 71% em 2015, segundo o Latinobarómetro. De um lado está Noboa, filho do homem mais rico do Equador, fã de Donald Trump e defensor de linha duríssima contra o crime. Do outro, está González, uma esquerdista evangélica cujo partido, o Revolução Cidadã, busca restaurar o auge do correísmo, movimento do ex-presidente, condenado por corrupção à revelia e atualmente exilado na Bélgica.

Além de importante do ponto de vista da liderança regional brasileira e do equilíbrio de forças ideológicas na região – Noboa tende a se alinhar a Trump, enquanto o partido de González é próximo do ditador Nicolás Maduro –, as eleições equatorianas são particularmente relevantes para o Brasil em razão da internacionalização cada vez maior do tráfico de drogas na Região Amazônica.

Há evidências de laços entre o crime equatoriano e facções criminosas brasileiras, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV). O país andino, que faz fronteira com os grandes produtores de cocaína Colômbia e Peru, serve como entreposto de armazenamento de drogas, que depois são escoadas pelo Brasil, tanto para o abastecimento interno como para o envio a grandes centros consumidores na Europa e nos Estados Unidos.

Cada vez mais conectados, os grupos criminosos de países sul-americanos exploram o tráfico na região de maneira profissional, maximizando ganhos enquanto aterrorizam as empobrecidas populações locais, que, sem oportunidades, se tornam presas fáceis do crime organizado.

Vença quem vencer no Equador, cabe ao Brasil exercer a liderança que lhe cabe como maior economia da região e buscar integração regional efetiva. Além do compartilhamento de inteligência policial, a elaboração de plano de desenvolvimento efetivo para a população local é fundamental para que a criminalidade não encontre mais ali terreno fértil para a proliferação de negócios sangrentos.

Não se trata de tarefa fácil nem para o conflagrado Equador nem para o Brasil, mas é algo necessário e urgente. Se o clima de polarização não for superado tão logo o resultado do segundo turno seja conhecido, as perspectivas para a região serão sombrias.