Com novas altas de juros, o aperto financeiro vai continuar, nos próximos meses, dificultando o crescimento econômico, atrapalhando a criação de empregos e impondo maiores custos ao Tesouro Nacional e aos consumidores endividados. Esta é a promessa mais importante do Banco Central (BC), empenhado em conduzir a inflação à meta neste ano ou no próximo. Mas os novos aumentos da taxa básica de juros poderão ser mais moderados. Esta foi a única mudança anunciada pelo Copom, o Comitê de Política Monetária do BC, depois de elevar a taxa de 9,25% para 10,75% na reunião encerrada na quarta-feira. Não será uma trégua, porque o crédito, afinal, continuará encarecendo. Só o ritmo do aperto deverá ser diminuído.
Acuado pela inflação e esfolado pelos juros, o brasileiro pode encontrar pelo menos um sinal positivo na mensagem do Copom. Há um toque de otimismo na mudança anunciada: a inflação deverá cair neste ano e no próximo, segundo o comunicado, quando se manifestarem os efeitos cumulativos dos aumentos de juros. Esses dois anos compõem, neste momento, o “horizonte relevante” para a política monetária.
Mas antes do alívio será preciso passar pelo Purgatório. No cenário de referência mencionado pelo Copom – e baseado em projeções do mercado –, os juros básicos deverão chegar a 12% e em seguida recuar para 11,75%, taxa prevista para o final de 2022. Se as projeções estiverem corretas, a inflação ainda poderá superar 5% neste ano. Se isso ocorrer, mais uma vez a alta dos preços ao consumidor terá ultrapassado o teto da meta.
Esse desvio aconteceu em 2021, quando o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) aumentou 10,06%, passando muito acima do limite de tolerância, fixado em 5,25%. Cumprindo uma regra estabelecida em 1999, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, mandou uma carta de explicações ao ministro da Economia, Paulo Guedes, presidente do Conselho Monetário Nacional (CMN). O teto, neste ano, é 5%.
O aumento recém-anunciado levou os juros ao nível mais alto desde maio de 2017, quando chegaram a 10,25%, num recuo de 1 ponto em relação à taxa anterior. A redução continuou nos anos seguintes, até se alcançar, em agosto de 2020, a taxa de 2%. Essa taxa foi mantida até março de 2021, quando o Copom decidiu reagir à alta de preços.
A reação foi lenta e, segundo muitos analistas, iniciada com atraso. O novo surto inflacionário foi descrito pelo Copom, durante meses, como passageiro – um engano comparável àquele cometido pelo Federal Reserve, o banco central americano. Lá, como no Brasil e na Europa, o ressurgimento da inflação, depois da primeira fase da pandemia, foi muito mais forte e mais duradouro do que indicaram, por algum tempo, as autoridades monetárias.
O erro foi percebido, afinal, e a orientação começou a mudar. Nos Estados Unidos uma reação mais forte poderá ocorrer a partir de março. Juros mais altos na economia americana produzem efeitos no mercado financeiro internacional e nos fluxos de dólares, tornando impraticáveis políticas brandas no Brasil e em muitos outros países.
Também por isso seria irrealista esperar uma orientação mais frouxa do Copom. Os ajustes adicionais poderão ser mais suaves, mas a mensagem é clara quanto à continuação da política restritiva: por enquanto, “é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista”.
A evolução do conjunto de preços continuará a depender das cotações internacionais de produtos básicos, do funcionamento das cadeias de suprimentos de insumos industriais, da cotação do dólar e das expectativas dos empresários e dos investidores financeiros. O dólar e essas expectativas serão em grande parte determinados pelas perspectivas das finanças federais, da evolução da dívida pública e, portanto, das atitudes e decisões do presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados num ano de eleições. Sem autoridade para impedir desmandos na Praça dos Três Poderes, resta ao Copom tentar cuidar das consequências, apertando sua política, se for necessário.