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Economista (UFMG, USP e Harvard), professor sênior da USP, consultor econômico e de ensino superior, Roberto Macedo escreve na primeira e na terceira quinta-feira do mês na seção Espaço Aberto

Opinião|Economia desacelera desde o 3º trimestre de 2022

Crescimento econômico no ano passado será mais um tema a alimentar a polarização entre bolsonaristas e lulistas

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Atualização:

Os dados inicialmente apresentados a seguir alcançam o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) e de seus setores mais importantes no ano passado até novembro, além de previsões para a variação do PIB em 2022 e 2023. Mais à frente, também incluirei alguns números sobre a confiança dos empresários diante da economia relativos a janeiro deste ano.

A previsão para outubro de 2022 do Índice de Atividade Econômica (dessazonalizado) do Banco Central, o IBC-Br, foi de uma variação de -0,05%. Já o índice, também dessazonalizado, de Volume Mensal do PIB, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), que é também uma previsão, mostrou-se estável em outubro e em novembro. Ou seja, os dois índices mostraram uma economia sem crescimento no quarto trimestre de 2022.

A previsão para o PIB de 2022 conforme o mais recente (6/1/2023) boletim Focus, do Banco Central, que ainda publicou estimativas para o ano passado, é de um crescimento de 3%. Mas isso veio com variações trimestrais efetivas de 1,2%, 1% e 0,4%, para o primeiro, segundo e terceiro trimestres, respectivamente, segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E, com as previsões citadas nos dois parágrafos anteriores, a perspectiva é de taxa ainda menor no quarto trimestre do ano.

Com esses números até aqui, no âmbito político haverá quem ressaltará mais a taxa de 3% para o PIB anual de 2022, enquanto seus opositores destacarão a tendência de queda das taxas trimestrais mais perto do final do ano, com efeito também na taxa prevista para a variação do PIB de 2023, no valor de 0,8%, segundo o mais recente boletim Focus – bem mais baixa que a de 2022. Será mais um tema a alimentar a polarização entre bolsonaristas e lulistas.

Passando a dados setoriais, um quadro sintético é este, conforme publicado pela Folha de S.Paulo em 13/1/2023, tendo como fonte o IBGE, com os números representando, respectivamente, as taxas de variação da produção setorial calculadas para os meses de outubro e novembro de 2022: serviços (-0,5% e zero), comércio varejista (0,3% e -0,6%) e indústria (0,3% e -0,1%). O setor de serviços é o mais importante, representando cerca de 70% do PIB, e inclui o comércio. Esses dados são coerentes com a visão de um PIB com crescimento ainda mais fraco no último trimestre de 2022.

Quando eu escrevia este artigo surgiram também dados da Fundação Getúlio Vargas informando que a confiança entre os empresários de serviços começou 2023 em queda, com uma redução de 2,7 pontos de porcentagem do Índice de Confiança do setor de Serviços e de 4,4 pontos do Índice de Confiança do Comércio, conforme informações publicadas pelo jornal Valor Econômico em 31/1/2023. Esta matéria do jornal aborda fatores responsáveis por esses resultados dos índices e destaca um ambiente macroeconômico desfavorável ao consumo, com juros altos, inflação ainda num nível expressivo e maior endividamento das famílias, uma visão consensual entre grande parte dos economistas. Aponta, também, um fator que tem recebido menos atenção dos analistas: o enfraquecimento da chamada “demanda reprimida”. Em 2022, as melhores condições sanitárias ligadas à pandemia da covid-19 melhoraram e a demanda dos consumidores se ampliou, favorecendo o aumento do PIB, mas, conforme apontei acima, tudo indica que essa demanda reprimida se enfraqueceu bastante a partir do terceiro trimestre de 2022.

Na esfera da política econômica, o governo Lula ainda não definiu um rumo claro, e suas afirmações quanto à questão fiscal geram incertezas que têm efeito desfavorável sobre a confiança dos empresários, conforme os índices de confiança da FGV já citados. O que vejo também como um fator desfavorável a essa confiança é que o Congresso Nacional não se interessa pelo tema do crescimento econômico brasileiro, sem o qual, a taxas maiores e sustentáveis, não haverá solução para os imensos problemas econômicos e sociais que afetam o nosso país. O Congresso não debate o assunto com profundidade e seus membros mostram-se mais interessados em benesses pessoais envolvendo verbas e cargos, sempre com vistas a alimentar sua clientela política e seus interesses pessoais. Um caso típico desse comportamento vem sendo denunciado por este jornal, o do ministro das Comunicações do governo Lula, Juscelino Filho, deputado licenciado que destinou verba do tal orçamento secreto para pavimentar uma estrada que passa em frente à sua fazenda. Na disputa entre candidatos à presidência das Casas do Congresso, no contexto da eleição que deve ter sido decidida ontem, tampouco eles se ocuparam do que fariam pelo crescimento econômico, mas sim da distribuição de cargos e outras benesses em busca de apoio político.

A expressão a seguir é curta, mas sintetiza o descaso que vejo da classe política diante do tema do crescimento econômico, salvo exceções cada vez mais excepcionais: assim não dá!

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ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), É CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR

Opinião por Roberto Macedo

Economista (UFMG, USP e Harvard), é consultor econômico e de ensino superior

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