A vida nacional parece travada por um estado de torpor, como se o País vivesse à espera da próxima miríade de crises que se interpõem entre uma nação que deseja apenas viver em segurança, trabalhar, educar os seus filhos, produzir, enfim, desenvolver-se, e a construção de um saudável ambiente político em que vicejem as condições para que aqueles justos desejos se materializem para cidadãos e empresas.
É fundamental deixar claro que por “saudável” não se deve entender “pacífico”. É próprio da política, dada a complexidade de seu exercício diário, sobretudo em regimes democráticos como o nosso, passar por constantes fricções. Só as ditaduras são monocórdias. Entretanto, é a política, e tão somente a política, o principal meio de costura da infinidade de interesses que animam todos os estratos que compõem o tecido social. Sem a boa política, restam apenas os autoritários, os populistas, os vendedores de sonhos irresponsáveis que a médio prazo só aprofundam as fissuras, em vez de repará-las.
O problema no caso brasileiro, no entanto, não se deve às disputas próprias da política, fundamentais para o vigor da democracia. Em que pese a ação deletéria dos maus políticos, trata-se, antes de tudo, de um estado de indiscriminada criminalização da política. A democracia dispõe dos meios legítimos para lidar com aqueles que traem a confiança dos eleitores. Mas, quando paira sobre todos uma carregada nuvem de suspeição, é mais difícil distinguir os bons e os maus. Pavimenta-se, assim, o terreno para salvadores de ocasião e oportunistas.
Tome-se como exemplo a campanha engendrada por alguns membros do Poder Judiciário e do Ministério Público para desqualificar os políticos indistintamente, criando um clima de constante apatia e desesperança na população que serve para desacreditar a política como um todo. Deste modo, susta-se o avanço do País por meio da interrupção das discussões dos temas de real interesse da Nação até que a crise da hora seja transposta.
Nos últimos anos, projetos do mais relevante interesse público, como a reforma da Previdência, a reforma tributária e a reforma política, têm sido negligenciados porque uma enorme quantidade de energia da Nação é drenada pelas crises que se sucedem sem perspectiva de fim. É preciso virar a página e avançar.
A agenda nacional deveria estar integralmente ocupada por debates acerca de grandes temas, acerca de projetos voltados para o crescimento econômico, para a melhoria da oferta de serviços públicos como saúde, educação e segurança, projetos que reduzam o crônico déficit de infraestrutura do País, que constantemente desafia a nossa capacidade de crescer.
É fundamental a retomada da agenda de projetos essenciais para o desenvolvimento do País, a começar pela votação da reforma da Previdência.
Não menos importante é a reforma política, há muito tida como a solução para as distorções de nosso sistema eleitoral. Está na Câmara dos Deputados o projeto que institui o voto distrital misto nas eleições proporcionais a partir de 2020, já aprovado no Senado. Sozinho, este projeto não tem o condão de resolver todos os vícios de nossa democracia representativa, mas é sem dúvida um bom começo. Outras iniciativas destinadas a melhorar o ambiente econômico e político e assegurar o crescimento poderiam ser citadas.
Não obstante as sucessivas crises havidas nos últimos dois anos, é importante registrar os significativos avanços na pauta apresentada pelo Executivo e sustentada pelo Legislativo, como foram a aprovação da reforma trabalhista, a reforma do ensino médio e a fixação de um limite constitucional para os gastos públicos.
Isso mostra que com empenho e boa vontade é possível superar as armadilhas instaladas por aqueles que sobrepõem seus interesses corporativos ao interesse público e avançar nos projetos que, de fato, levarão o País ao patamar de desenvolvimento há muito esperado.