A decisão da Prefeitura que restringiu a circulação de táxis nos corredores de ônibus traz a marca da improvisação que caracteriza tantos atos do atual governo municipal, em especial os relativos ao transporte. Um sinal claro disso foi a tentativa de compensar os transtornos causados aos taxistas e aos passageiros com a liberação da circulação em algumas das faixas exclusivas implantadas atabalhoadamente. A forma e o momento em que essas medidas foram tomadas, assim como as justificativas apresentadas, mostram a ligeireza e a pouca seriedade com que assuntos de grande interesse para a população vêm sendo tratados.De segunda a sexta-feira, os táxis não mais poderão utilizar os corredores nos horários de pico. No restante do dia e da noite poderão fazê-lo desde que estejam com passageiros, como estabelecia a regra anterior. Os taxistas, como já era previsto - e certamente com o apoio dos seus clientes -, criticaram a medida tão logo ela começou a vigorar, na segunda-feira. Descontentamento que deve aumentar, quando as multas pela desobediência às novas normas começarem a ser aplicadas no dia 14 de abril. As entidades que representam os taxistas anunciaram que vão pedir ao prefeito Fernando Haddad que reveja sua decisão e não descartam a possibilidade de promover uma paralisação do serviço que prestam. A mudança resultou da pressão exercida pelo Ministério Público Estadual (MPE), à qual Haddad não teve dificuldade de ceder, porque ela está de acordo com a sua defesa da prioridade do transporte coletivo - demagógica, porque feita de olho nas eleições e com medidas apressadas e de eficácia duvidosa. O promotor Maurício Ribeiro Lopes, da Promotoria de Habitação e Urbanismo, pediu um estudo à Prefeitura para esclarecer se os táxis prejudicam - e em que medida - o desempenho dos ônibus nos corredores. A conclusão foi de que os ônibus seriam 20% mais velozes, se os táxis saíssem dos corredores.É preciso divulgar esse estudo - não apenas sua conclusão - para que a população saiba se suas bases são realmente sólidas. Ela tem o direito de conhecê-lo, porque contraria o bom senso mais elementar que os táxis possam atrapalhar tanto os ônibus. Como, se eles são mais velozes e ágeis? Outro dado importante a ser considerado é a interferência - mais uma - do MPE em assuntos da administração pública. Como não há nesse caso nenhuma lei sendo contrariada, a sua intervenção não se justifica.Já é mais do que tempo de levantar a questão dos limites da ação do MPE, em vista de uma interpretação muito larga de seus poderes, que permite a alguns de seus integrantes se arrogar o direito de interferir em assuntos que são da alçada de governantes eleitos. Hoje, Haddad aceita essa interferência, porque ela corresponde a seus interesses, esquecido de que amanhã ela pode contrariá-los. Outro elemento que deixa mal a Prefeitura é o "jeitinho" encontrado para acalmar - inutilmente, ao que parece - os taxistas e os passageiros. Como uma espécie de prêmio de consolação, eles terão o direito de circular com passageiros por algumas faixas exclusivas, como as do Corredor Norte-Sul e das Avenidas Corifeu de Azevedo Marques, Indianópolis e Sumaré. Quer dizer que eles prejudicam os ônibus nos corredores, mas não nas faixas, embora ambos tenham a mesma vocação e a mesma finalidade? A explicação do secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, é um primor. Aquelas faixas, diz ele, "puderam ser liberadas, porque o fluxo de ônibus ali é menor do que nos corredores". Se é assim, por que isso não foi feito antes? O caso reforça ainda mais a impressão de que a atual administração trata questões importantes com uma ligeireza inaceitável, que leva em conta, antes de mais nada, seus interesses políticos e eleitorais. Em outras palavras, joga para a plateia, indiferente aos verdadeiros interesses da população.Para ela, se essa medida pode causar boa impressão passageira, porque favoreceria - o que não é verdade - o transporte coletivo, embora prejudique milhares de paulistanos que usam táxi, tudo bem.