O aumento expressivo da população de Roraima, o maior registrado no País nos últimos 12 anos, como apontou o Censo 2022, colocou diante do governo do Estado – e do governo federal, na medida de sua responsabilidade – um desafio sem precedentes na história recente. Como administrar um salto tão concentrado de 41,2% na população, que saiu de 450 mil habitantes, em 2010, para 636 mil, em 2022, mantendo a oferta de serviços públicos em patamares mínimos de qualidade?
Esse crescimento populacional em escala inaudita está diretamente relacionado, é evidente, ao fluxo migratório decorrente da tragédia humanitária na Venezuela, país com o qual o Brasil divide uma fronteira de 2,2 mil km. A violência e a fome resultantes dos desmandos do ditador Nicolás Maduro têm levado milhões de venezuelanos a buscar guarida em países vizinhos, sobretudo Colômbia e Brasil. De acordo com o Ministério da Justiça, entre 2017 e 2022, 702 mil venezuelanos viram o Brasil como a via de acesso para uma nova vida; cerca de metade desse contingente aqui permaneceu e fez do País a sua nova pátria.
Para escapar dos horrores do regime chavista, os venezuelanos mais ricos emigraram para os Estados Unidos e para a Europa; os mais pobres não puderam ir tão longe. Os milhares que chegaram ao Brasil aumentaram sobremaneira a demanda por serviços públicos oferecidos pelos governos estaduais, particularmente o de Roraima, que recebeu o maior afluxo de estrangeiros. Isso, é claro, custa dinheiro. Ao Estadão, o governador do Estado, Antonio Denarium, disse que tem cobrado do governo federal o ressarcimento pelo custeio desses serviços, sem sucesso. “Crescemos tudo isso (em número de habitantes) e pagamos sozinhos o gasto com saúde, educação e segurança”, disse o governador.
A bem da verdade, o governo federal contribuiu para a ajuda humanitária por meio da Operação Acolhida, iniciada em março de 2018. A operação estabeleceu abrigos provisórios para os refugiados venezuelanos na área urbana de Boa Vista e alguma infraestrutura de acolhimento. O papel do Exército nessa empreitada foi, e continua sendo, decisivo para o bom andamento das ações humanitárias. Contudo, como toda ação emergencial, passadiça por definição, a Operação Acolhida tem deficiências e ao Palácio do Planalto cabe a responsabilidade de dar-lhes soluções.
A gestão de uma crise migratória dessa magnitude impõe a atuação coordenada dos governos nas três esferas administrativas. É fundamental um planejamento adequado, centralizado pelo governo federal, para lidar com o aumento da demanda por serviços de saúde, moradia, segurança e educação em Roraima de forma perene, haja vista que muitos refugiados, como foi dito, vieram para ficar.
O presidente Lula da Silva precisa compreender que a crise provocada pelo arbítrio de seu “companheiro” Maduro tem impacto direto no bem-estar de milhares de brasileiros e venezuelanos. Condescender com o furor liberticida de Maduro só contribui para agravar a crise.
Uma Venezuela democrática e estável representará um novo sopro de vida para milhões de pessoas, inclusive, e sobretudo, no Brasil.