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Trânsito cada vez mais violento

O que a Prefeitura de São Paulo faz para evitar mortes no trânsito não está dando certo

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Por Notas & Informações

A cidade de São Paulo bateu um triste recorde em 2024. No ano passado, de acordo com o Infosiga, sistema estadual de monitoramento da letalidade no trânsito, 1.031 pessoas morreram em decorrência de acidentes nas vias da capital paulista. O dado representa um aumento de 11% em relação aos 928 óbitos registrados em 2023. Se comparado ao indicador do ano anterior (863 óbitos), o salto mortal é ainda maior, de 20%, aproximadamente. Ou seja, a tendência é de agravamento da violência no trânsito paulistano. E o que quer que a Prefeitura esteja fazendo para reverter esse quadro funesto, obviamente, não está dando certo.

Atento ao problema, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) deu 45 dias para que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) apresentasse ações concretas para reduzir a alta letalidade do trânsito da capital paulista. Normalmente, a expressão “ações concretas” soaria como um pleonasmo, mas neste caso faz todo o sentido. Sempre que confrontado com indicadores que atestam suas deficiências administrativas, Nunes traz na ponta da língua um rosário de explicações e um inventário de medidas que estariam sendo tomadas pela Prefeitura para mitigar os problemas enfrentados pelos paulistanos. No contraste com a realidade, porém, nenhuma delas têm se materializado em resultados perceptíveis.

No que concerne ao trânsito, a Prefeitura alega ter criado “mais de 12 mil faixas de travessia” e “reduzido a velocidade máxima permitida de 50 km/h para 40 km/h em 24 vias”. A Prefeitura informa ainda que São Paulo “conta com a maior malha cicloviária do País, totalizando 753,7 km”, malgrado parte dessa malha estar muito mal conservada e ter sido sequestrada por maus motociclistas para, na prática, lhes servir de via expressa ilegal.

Sobre as motos, a propósito, Nunes alega que a Prefeitura sinalizou “mais de 215,2 km de vias para motociclistas, reduzindo em 47,2% o número de mortes nesses trechos”. Em que pese a importância da chamada Faixa Azul para a segurança no trânsito, os números apresentados pelo prefeito são ínfimos diante da enormidade da malha rodoviária da cidade que ele administra desde maio de 2021. Ademais, de nada adianta pintar faixas azuis em 1,11% das vias de São Paulo para o tráfego exclusivo de motos, se motociclistas dispostos a matar ou morrer no trânsito, em nome sabe-se lá de que, seguem a salvo de fiscalização para barbarizar nas ruas em outros pontos da cidade.

O trânsito de São Paulo é conhecido por sua alta complexidade. Todos os dias, em qualquer horário, veículos pesados, carros, motos, bicicletas e pedestres disputam cada palmo de espaço pelos quase 20 mil quilômetros de ruas, avenidas, túneis, pontes e viadutos que compõem a malha rodoviária da maior cidade do País. E todos quase sempre com pressa, como sói acontecer em qualquer metrópole. Entretanto, o fato de o trânsito da capital paulista ser complexo e altamente adensado não deveria, por si só, fazê-lo tão mortal.

A seguir nesse ritmo, 127 pessoas terão morrido durante o prazo dado pelo MP-SP para que o prefeito Ricardo Nunes informe o que está fazendo para reduzir a letalidade do trânsito paulistano.