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Concurso Mestre-cervejeiro: o Paraná, o picante e o 'tabu'

A Eisenbahn acaba de anunciar o vencedor da terceira edição do Concurso Mestre-Cervejeiro: é o paranaense SandroSebastião Singer, com a dubbelSão Sebá. Sua cerveja teve média de 83,2 pontos em 100 possíveis, a melhor entre os 57 concorrentes - ela tinha o número 84, daí o "mistério" do post abaixo, para frustração dos fãs que acharam se tratar da Samuel Adams. Em segundo lugar, ficou o catarinenseDaniel Ropelato, com suaBlumentsolz, que cravou 76,7 pontos na avaliação dos 19 jurados. Num duelo apertado, o santistaEdwar Bustamante da Fonsecaficou em terceiro com aMont Serrat, que obteve 75,2 pontos. Sandro vai poder produzir 3 mil litros de sua cerveja na fábrica da Eisenbahn, em Blumenau, e receber parte do lote: o restante será comercializado pela cervejaria. Daniel e Edwar receberão cervejas da Eisenbahn. O resultado leva a três considerações: A primeira constatação é que o Paraná entrou, de vez, no mapa cervejeiro. Em 2009, escrevi um texto sobre o assunto depois de provar a india pale ale Diabólica, feita em Curitiba. Até há alguns meses sem produções de destaque no cenário nacional e localizada entre Santa Catarina e São Paulo, já com microcervejarias desenvolvidas, a cena cervejeira paranaense vem crescendo de forma considerável. O pessoal de lá chegou a fazer um curso específico sobre produção de dubbel para os cervejeiros caseiros em função do torneio. O segundo fato notável é que ganhou uma cerveja que, apesar de seguir um estilo clássico, se valeu da originalidade ao utilizar um ingrediente a mais: uma especiaria que a tornou bastante "apimentada" e foi adicionada logo após a fervura no processo. E, de fato, deixou sua marca na receita. Ao prová-la, estranhei o fato de a boca continuar dormente segundos após a degustação e atribuí o fato a um possível álcool destacado demais. Soube depois que era efeito do tal condimento. A São Sebá nasceu de uma produção conjunta de Singer com os amigos Carlos de Manuel e Ricardo Seara. Foi feito um mosto (líquido adocicado resultante da fervura do malte, ao qual será adicionado lúpulo e fermento) comum e, a partir daí, cada um finalizou sua cerveja de modo diferente. Além da vencedora, foi adicionada em outra parte da produção, que concorreu mas não levou, pimenta jamaica e endro. A terceira receita ficou sem condimentos. Já provei, na Itália, uma imperial stout com pimentas, e o resultado foi surpreendente: adicionadas de forma equilibrada com a cerveja, dão uma sensação de refrescância e vontade de beber mais, mesmo em uma cerveja mais alcoólica e intensa como o estilo em questão. A terceira - e mais importante - constatação vem do uso da especiaria. Que desafio terá a Schincariol, controladora da Eisenbahn, para aprovar a receita de uma cerveja com esse adjunto? Já é de amplo conhecimento no meio cervejeiro que inovações envolvendo a bebida fermentada têm sido constantemente barradas pelo Ministério da Agricultura, a quem cabe aprovar os rótulos de cada nova cerveja. A Colorado, de Ribeirão Preto, e a Bamberg, de Votorantim, penam há um ano para aprovar duas cervejas que levam a palavra Vintage no nome. Reclamações de incompreensão do uso de ingredientes adjuntos não serem aceitas pelo ministério, embora a prática seja secular na Europa, também são frequentes. Com isso, cria-se uma encruzilhada no caminho: a Schin terá de lançar a cerveja vencedora. Vai preferir alterar a fórmula e aprovar o rótulo com facilidade ou, como empresa com mais recursos que as microcervejarias, vai se empenhar em manter a fórmula intocada e brigar para mudar conceitos e pensamentos das autoridades responsáveis, aprovando o uso das especiarias e, de quebra, criando uma "jurisprudência" que pode beneficiar muitos outros produtores, que até conseguem aprovar o uso de ingredientes diferenciados, mas a duras penas? A sorte está lançada.

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