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Comida

Cozinha brasileira em mares nórdicos

Por Heloisa Bacellar *

Cozinha brasileira em mares nórdicosFoto:

Acabei de chegar de uma viagem diferente e emocionante: passei uma semana gelada cruzando o Báltico em navios da Tallink, uma das maiores companhias nórdicas de navegação, com 18 navios imensos que ligam portos suecos, finlandeses, estonianos e letões.

Helo Bacellar foi convidada a apresentar a cozinha brasileira para os tripulantes de navios de uma companhia nórdica. Pão de queijo foi uma das receitas que a chef ensinou. FOTO:  Maria Sundvall/Divulgação

Com o frio e a falta de colorido que acontece por quase 5 meses seguidos por lá, a primavera chega com sol e alegria de viver. Em 2014, para deixar a primavera ainda melhor, a Tallink decidiu fazer o festival “seja brasileiro”, bem no espírito da Copa, com tudo verde e amarelo, música, dança e, como estrela da festa, a nossa comida. A ABBA e a Brazilian Flavours, entidades brasileiras que promovem a exportação de alimentos e bebidas, e contam com o apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), participam do festival.

Nos últimos meses, planejei cardápios, escolhi, escrevi, traduzi receitas e preparei uma mega lista de ingredientes para importação. Há uns 15 dias, cheguei ao mundo nórdico para o treinamento da centena de cozinheiros que trabalham nos cruzeiros. Recebi as equipes em duas etapas, pois os navios não param e chegam ao porto de Estocolmo em dias alternados. Conversei muito com cada pessoa sobre a cozinha brasileira e sobre os ingredientes que seriam utilizados nas receitas, totalmente desconhecidos por lá. Em seguida, fui com eles para a cozinha ensinar a preparar os 20 pratos escolhidos, trocar ideias, ajustar e deixar tudo pronto pra abertura do festival, que começou no dia 13.

Navio perto de Estocolmo. FOTO: Magnus Rietz

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Adorei apresentar um pouco do Brasil para tanta gente interessada em aprender sobre a nossa mesa, ver a reação daqueles quando experimentavam (e gostavam!) farofa e cuscuz, mordiam a massa puxa puxa do pão de queijo, sentiam o picante adocicado e suave da pimenta biquinho, o azedinho doce do maracujá, a goiabada, o leite de coco, o palmito, as castanhas, o guaraná, os feijões e muito mais. A receptividade e o carinho com que me receberam foram impressionantes.

Só pra dar uma ideia do tamanho do evento: os dois maiores navios da Tallink – Silja serenade e Silja synphony – fazem 360 vezes por ano a viagem de 18 horas entre Estocolmo e Helsinque. Eles saem de um porto às 17h e chegam ao outro às 10h do dia seguinte. Enquanto um vai, o outro vem. Cada um tem capacidade para 2.700 passageiros e 300 tripulantes, que se espalham por 14 andares de cabines, SPA, centro para convenções, cassino, bar, pista de dança, um imenso hall central com lojas tax free e, vários restaurantes. Com exceção do francês mais sofisticado e do italiano de massas e pizzas, todos os restaurantes participam do festival e apresentam aos clientes um cardápio brasileiro além do “de sempre”.

O festival “Seja brasileiro” foi lançado para celebrar a chegada da primavera do Hemisfério Norte.FOTO: Reprodução

Agora, no restaurante “grill” há arroz de carreteiro, quibebe pedaçudo, caldinho de feijão, farofa, salada de palmito com vinagrete de extrato de guaraná, salada de bacalhau assado com azeitonas, tomates, cebolas e batatinhas, crumble de banana com crosta de castanha do Brasil. No “do mar”, há moqueca de bacalhau, casquinha de caranguejo, cuscuz de camarão, manjar branco com calda de guaraná e cheesecake de goiabada. No “grande buffet”, que recebe 2 turnos de 600 pessoas de cada vez, há feijoada, creme de mandioca, tortas de palmito, de camarão e de frango, arroz, feijão, farofa, creme gelado de maracujá, manjar branco, bombocado, bolo de fubá com banana caramelizada. Em todo lugar, há pão de queijo e caipirinhas. Parece mentira, mas quase tudo, inclusive os pães, é preparado pela equipe de cada navio – ou seja, mega logística.

FOTO:  Maria Sundvall/Divulgação

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Fui com uma expectativa enorme e um tantinho de medo, pois sabia que os ingredientes e as receitas faziam parte de um mundo muito novo para todos eles, mas o medo passou quando consegui mostrar a riqueza da nossa comida deliciosa e vi que os milhares de passageiros estão realmente adorando. Trouxe comigo: muitos amigos suecos, finlandeses, estonianos e letões (Tomi, Anti, Irina, Iannis, Jonas, Igor, minha “irmã” Laila e tantos outros); lembranças de momentos deliciosos nas cozinhas e nos restaurantes dos navios e de outros jantares de dar água na boca – me apaixonei pelo food bar de Mathias Dahlgren e pelo B.A.R. (só de mar), em Estocolmo, pelo Juuri em Helsinque -, das cidades incríveis (Tallin é tão linda!) e dos seus mercados cheios de peixes e smörgarbord. Também trouxe receitas divinas de pães integrais irresistíveis e que, com certeza, estarão no meu próximo livro. Quer dizer, cheguei já com vontade de voltar…

* Heloisa Bacellar é chef do restaurante Lá da Venda.

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