A syrah em foco

A syrah em foco

Publicado por: Suzana Barelli Publicado: 24/02/2025 14:24 Visitas: 447 Comentários: 0

Esta talvez não seja a melhor semana para falar da syrah, ou shiraz como esta uva originária do Rhone foi rebatizada quando chegou na Austrália. Não dá nem para pensar em um espumante elaborado com a syrah (desconheço algum que mereça destaque) ou de um syrah vinificado em branco. Mas o que fazer quando as informações se sobressaem a um clima de calor absoluto? É preciso muito ar-condicionado na potência máxima para pensar em um vinho elaborado com a estruturada uva Syrah nestes dias.

Mas os fatos ditam as informações, antes mesmo do clima. Na semana que passou, tinha o Dia Internacional da Syrah – não me pergunte por qual razão, mas atualmente todas as uvas têm um dia para comemorar. E a syrah faz “aniversário” no dia 16 de fevereiro. Para nós, formadores de opinião, é uma época de destacar a variedade, encontrar rótulos de boa relação qualidade-preço e provar os seus melhores representantes.

Foi o que aconteceu no dia do aniversário da syrah. O rótulo escolhido foi o Pangea, da vinícola chilena Ventisquero. Seu nome é uma homenagem ao tempo em que havia um único continente no mundo, e o tinto é elaborado a quatro mãos: o australiano John Duval e o chileno Felipe Tosso. Duval, atualmente consultor da Ventisquero, tem no seu currículo a elaboração do Penfolds Grange, o primeiro grande shiraz australiano. E Tosso é o chefe da enologia da Ventisquero, responsável por projetos inovadores, com o Tara, com vinhedos no desértico Atacama, no norte do país andino. Uma dupla relevante na viticultura dos vinhos do Novo Mundo.

 


Pangea: elaborado pelo australiano John Duval e o chileno Felipe Tosso

O Pangea nasce em Apalta, uma região montanhosa e de solos diversos, ao sul de Santiago. As uvas selecionadas vêm de uma seleção de solos e, após fermentadas, amadurecem por 18 meses em barricas de carvalho. É um tinto potente, ainda muito frutado, equilibrado e que mostra o potencial da variedade em solos chilenos. Uma boa maneira de brindar o aniversário.

A syrah segue protagonista em fevereiro com a notícia de que foi aprovada mais uma Indicação Geográfica para os vinhos brasileiros, a IP (Indicação de Procedência) do Sul de Minas. Assim, o Brasil tem agora 13 IGs para os vinhos e espumantes, sendo 11 Indicações de Procedência, que tem regras mais maleáveis, e 2 denominações de origem, com regras mais definidas. É a primeira indicação de origem na região sudeste e também a primeira para vinhos elaborados no sistema de poda invertida.

E a syrah é a variedade mais bem identificada com este sistema de plantio, que, por técnicas de manejo, faz com que a colheita seja realizada no inverno e não no final do verão, início do outono.

Mas qual a importância desta nova indicação de procedência? A resposta cabe, na entrevista a seguir, a Murillo de Albuquerque Regina, o pioneiro no desenvolvimento da técnica de dupla poda, então como pesquisador da Epamig, e atualmente a frente de sua própria vinícola, a Estrada Real.
 

Qual a importância da IP?

Esta concessão da indicação de procedência vinhos de inverno no Sul de Minas Gerais, emitida pelo INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual), é a primeira para vinhos de inverno e a primeira de todo o sudeste e centro oeste. É de suma importância porque registra o reconhecimento uma região produtora, e da tipicidade e da qualidade destes vinhos produzidos nesta região.

Passa a ter um controle da produção?

A governança de uma indicação de procedência acompanha um conselho regulador, um grupo de degustação e uma diretoria executiva que vão zelar pela qualidade do vinho, pela tipicidade e pela valorização dos vinhos daquela região. Para receber o certificado, os vinhos têm de ser analisados física e quimicamente e também degustados e representar a tipicidade da região.

E qual a consequência de uma IP?

É o caminho para a valorização de uma região, para mostrar ao consumidor brasileiro e também ao internacional, que esta região tem tipicidade, tem qualidade e tem seriedade em tratamento dos seus vinhos

O processo para a IP foi bem mais rápido do que as demais IPs?

O vinho de inverno tem apenas 20 e poucos anos. Do plantio da primeira videira até sair a indicação de procedência foram apenas 24 anos. E esta IP abrirá caminhos para inúmeras outras de IP do vinho de inverno. A Anprovin, que é a Associação Nacional dos Produtores de Vinhos de Inverno, e que detém a marca coletiva de vinhos de inverno, é a instituição máxima que controla e regula a produção os vinhos de inverno. E que reconhece as diversas regiões no Sudeste, do Nordeste e do Centro-Oeste para a IP. E com este reconhecimento entende que o vinho de inverno é único e tem diferenciais com relação a outros vinhos produzidos, mas que dentro do vinho de inverno há variações no perfil de cada um. E entende que, no futuro, os vinhos do Sul de Minas devem ser diferenciados com relação aqueles da Mantiqueira, do Cerrado, do Planalto Central, do Circuito das Frutas, da Mogiana Paulista, da região do Centro Oeste, do Planalto Diamantina. Estas regiões começam a trilhar o seu caminho em busca de valorização regional, de respeito à tipicidade e à diversidade. Os consumidores, os produtores e os proprietários serão beneficiados com este encaminhando e busca por novas indicações de origem. Isso reflete o amadurecimento dos produtores de cada região.

Tags: Suzana Barelli, Guia dos Vinhos, Paladar, Syrah, Pangea

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