Em qual região focar?

Em qual região focar?

Publicado por: Suzana Barelli Publicado: 24/01/2025 18:21 Visitas: 333 Comentários: 0

Não raro somos perguntados sobre as regiões vitivinícolas para se prestar atenção. A ideia é saber para onde o nosso radar está apontando, além dos vinhedos clássicos – e sem esquecer que os clássicos também merecem sempre atenção, como o movimento dos pequenos vignerons na região de Champanhe, ou as apostas em produtores orgânicos em Bordeaux, para ficar em apenas dois exemplos.

Em recente coluna no Financial Times, a inglesa Jancis Robinson respondeu sobre esta pergunta, que é uma das mais recorrentes para ela, e só perde para a curiosidade de saber a origem do seu nome. Jancis começa com os brancos portugueses, logo elogia os espumantes da Caves Transmontanas, no vale do Douro, mas seu maior destaque em Portugal são os brancos salinos da ilha do Pico, no Arquipélago dos Açores.

No radar da crítica inglesa estão também os espanhóis das Ilhas Canárias e da região de Aragão; os rótulos gregos, principalmente aqueles elaborados na ilha de Creta. Elogia a uva xinomavro, que dá origem a tintos que, escreve ela, pode ser uma alternativa mais barata à nebbiolo, de Barolo e Barbaresco. O artigo destaca também os vinhos chineses, mas aqui como uma aposta de médio prazo, e mexicanos, de Vancouver e da Croácia.

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E por aqui, que regiões devemos prestar atenção, pensando em vinhos que podem ser degustados no Brasil? Nosso mercado é dominado pelos vinhos chilenos, argentinos e portugueses, responsáveis por 75% das importações, pelos dados da consultoria Ideal BI. Vinhos de tradicionais produtores, como Itália, Espanha e França, têm baixa representatividade por aqui. Cada uma destas origens não chega a 5% de participação de mercado. E mesmo nos países que lideram o nosso mercado, são poucas as opções fora das regiões tradicionais, como o Maipo e Colchagua, no Chile; Mendoza, na Argentina, e Vinhos Verdes, Douro e Alentejo, em Portugal. A Ilha do Pico, no Açores, é um exemplo. Infelizmente não degustamos nenhum rótulo desta região para as duas edições do Guia dos Vinhos.

O produtor indicado por Jancis, o Azores Wine Company, que tem o enólogo Antonio Maçanita como sócio, até está presente no Brasil, com garrafas com preço a partir de R$ 196,80. No caso, é o rótulo A Proibida, elaborado com a uva isabel, ela mesma, a variedade bem conhecida dos brasileiros e que dá origem a muitos vinhos de mesa. O rótulo mais famoso do enólogo no Açores, o Terrantez do Pico, é comercializado por R$ 892, na World Wine – fora da nossa divisão de vinhos de até R$ 100, de R$ 101 a R$ 200 e de R$ 201 a R$ 300.


Azores Wine Company, que tem o enólogo Antonio Maçanita como sócio

Mas isso não torna o Açores menos importante quando o assunto são as regiões do futuro. Com vinhedos de solo bem vulcânicos e nos quais as videiras lutam para sobreviver, entre o vento do Atlântico e as chuvas que rondam o Pico, como é chamada a enorme montanha no centro da ilha, o Pico surge como uma região potencial, mas que no Brasil esbarra muito na questão dos preços. Se já não é barato colocar um vinho no mercado brasileiro, o valor multiplica quando se trata de um vinho elaborado em uma ilha quase perdida no oceano Atlântico.

Melhor procurar novas e promissoras regiões nos vizinhos Chile e Argentina. São dois exemplos de países que vêm investindo fortemente na descoberta – e também na redescoberta – de regiões propensas a elaborar rótulos de muita tipicidade. No Chile, um destes movimentos ocorre em direção ao sul do país, nas apostas dos vinhedos mais austrais do hemisfério. No passado, em muitos destes destinos era impossível para uma videira gerar frutos. Atualmente, com as mudanças climáticas, já é uma realidade, o que explica projetos como o Lago Ranco, da Casa Silva, a pouco menos de 1 mil quilômetros ao sul de Santiago. Outro exemplo é Chiloé, onde Aurelio Montes decidiu apostar em cultivar vinhas em uma baia, protegida dos ventos, a 1.200 quilômetros ao sul de Santiago.

 

Vinha velha de cabernet sauvignon, em Ranquil, Itata

Das (re)descobertas, uma aposta é a região de Itata, também no sul do Chile, onde, na verdade, a viticultura do país começou. Atualmente há bons projetos focados em variedades como cinsault, país e até com a cabernet sauvignon. No Guia dos Vinhos 2024, foram avaliados cinco vinhos desta região, com pontuações entre 89 e 92 pontos, em uma escala de até 100.

Na Argentina, o movimento principal está em encontrar vinhedos de solos calcáreos, principalmente, e de altitude, em nome da importante amplitude térmica. Não dá mais para apostar que Gualtallary será uma tendência – é, na verdade, uma região que já comprovou o seu potencial. Mas o radar fica sempre ligado em pequenos vinhedos que possam estar escondidos entre as montanhas da cordilheira dos Andes.

O sul argentino também merece atenção. Por mais que a Patagônia já seja conhecida, ainda é uma região pouco explorada e que sempre pode trazer surpresas. No Guia, dos 145 rótulos provados deste país, apenas dois são desta região, um com 91 e outro com 93 pontos, na escala de até R$ 100. São pontuações altas, que mostram que a busca por regiões de destaque deve estar sempre no radar.

Tags: Suzana Barelli, Guia dos Vinhos, Paladar, Itata, Açores, Patagonia

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