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Le Vin Filosofia

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A aposta da Itália no Brasil

Neste ano, 36 vinícolas estiveram presentes no evento da Gambero Rosso, que contou com duas degustações e uma feira de vinhos

Pode-se dizer que já é uma tradição. Há dez anos, a publicação italiana Gambero Rosso, referência nos vinhos do país da bota, organiza uma grande degustação em São Paulo. O Brasil é a última etapa de um tour por 40 países com o objetivo de promover os brancos e tintos e abrir mercado para as vinícolas conceituadas da Itália ao redor do mundo.

Neste ano, 36 vinícolas estiveram presentes no evento, que contou com duas degustações e uma feira de vinhos. Deste total, 13 delas queriam encontrar um importador no Brasil, e duas já conseguiram: a Fontanafredda e a Podere Sapaio. E um detalhe: só pode se inscrever para o tour produtores que já conquistaram pelo menos um “tre biccheri”, a pontuação máxima do guia Gambero Rosso, mesmo que este vinho não esteja disponível no mercado brasileiro.

No comando das duas provas, estava sempre Marco Sabellico, diretor da publicação e um dos grandes especialistas em vinho italiano. Neste ano, ele surpreendeu já pela ordem dos vinhos colocados na prova: depois dos espumantes (prossecos, principalmente) e brancos, ele abriu a degustação dos tintos com um barolo, vinho conhecido pela sua complexidade, em geral provado sempre no final das apresentações, como ele conta na entrevista a seguir.

Marco Sabellico, diretor da Gambero Rosso e um dos grandes especialistas em vinho italiano Foto: Rafael Freitas/Divulgação

Por que começar a degustação dos tintos com barolo?

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É sempre difícil escolher um critério. O barolo é certamente um vinho complexo, mas tentei combinar dois critérios: vinhos de norte a sul do país, e a estrutura e o teor alcoólico dos vinhos degustados. Comecei com barolos e terminei com primitivo e amarone.

Há uma preocupação em elaborar vinhos mais prontos para beber? Os barolo, em geral, são vinhos de guarda, mas foram escolhidos para o começo da prova.

Certamente ao longo dos últimos 30 anos, estilos e técnicas foram aperfeiçoados para tornar os barolos mais prontos para beber quando são lançados no mercado. São exemplos as macerações mais curtas que não extraem taninos amargos, o uso cuidadoso e calibrado da madeira, quase nunca barricas “pequenas”, para termos vinhos capazes de envelhecer por muito tempo, mas também ricos em frutas e agradáveis já na juventude.

Como você define o atual momento do vinho italiano?

Extremamente criativo. As correntes são diversas: a redescoberta das uvas autóctones, os diversos usos de madeiras novas, a grande atenção a vitivinícola, os experimentos com ânforas e a produção de vinhos laranja [brancos com longo contato com as cascas]. Destaco também a gestão orgânica e biodinâmica ou, ao menos, inspirada nestas práticas. E também uma grande atenção às sub-regiões e menções às unidades geográficas menores que nos dão vinhos cada vez mais precisos e ligados ao terroir.

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Qual a importância do mercado brasileiro para os vinhos italianos?

Nos últimos anos, mesmo com todo o impacto da pandemia, o mercado brasileiro tem crescido para os vinhos italianos. Somos o quarto fornecedor, atrás do Chile e da Argentina, que se beneficiam das vantagens do Mercosul, e bem perto de Portugal, o terceiro país.  Há uma tendência de crescimento devido ao grande potencial deste mercado de mais de 200 milhões de consumidores, que só recentemente se aproximaram do mundo do vinho. Isso faz com que os produtores italianos estejam muito interessados neste mercado, que sem dúvida poderá crescer muito. Além disso, temos a grande vantagem de muitos brasileiros terem a origem italiana, principalmente em São Paulo. Por outro lado, existe um regime de taxas e impostos que penaliza fortemente as importações provenientes da Europa, mas esperamos que em breve haja uma redução destes impostos. Diante de tudo isso, os produtores italianos pedem ao Gambero Rosso que organize eventos para manter vivo o interesse do consumidor brasileiro de modo a cultivar um mercado que hoje é importante, mas que poderá se tornar importantíssimo no espaço de alguns anos.

Degustação de vinhos da Gambero Rosso Foto: Rafael Freitas/Divulgação

É crescente a quantidade de vinícolas brasileiras que apostam nas uvas italianas, como sangiovese, barbera. As variedades autóctones italianas devem ser exportadas para outros terroirs?

A história da viticultura é uma história de viagens e migrações de homens, de ideias e de vinhas, desde sempre. O fato de haver interesse pelas variedades italianas é bom, isso também acontece em outros importantes países produtores, como Austrália e Estados Unidos. Isto é positivo para a imagem de Itália e para a sua riqueza de variedades de uvas, e desperta no consumidor a curiosidade em provar os originais.

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Causou surpresa a segunda masterclass ter cinco vinhos da Puglia, mostrando um foco maior nesta região italiana. O que está acontecendo com a Puglia e quais as razões desta escolha de rótulos?

Existem muitos produtores na Puglia que focam no mercado brasileiro, e com razão. O sabor quente, intenso e envolvente dos vinhos da Puglia agrada ao consumidor brasileiro, e são vinhos com ótima relação de qualidade e preço, que harmonizam bem, principalmente os grandes tintos à base de uvas como a negroamaro e a primitivo, com pratos de carne e assados da cozinha brasileira. Basta pensar em feijoada e churrasco. Mas o interesse pelos vinhos brancos e espumantes também está crescendo.

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