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Suzana Barelli

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Le Vin Filosofia

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A safra gaúcha, em ritmo acelerado

Com calor excessivo, que adiantou a data da colheita, as vinícolas comemoram a boa maturação das uvas

Andar pelos vinhedos da Campanha Gaúcha, a região vinícola mais ao sul do Brasil, fronteira com o Uruguai, é ver uvas tintas bem maduras, com alguns bagos já começando a desidratar. Neste ano, a colheita está adiantada em cerca de 15 dias a até um mês, conforme a variedade. É também sofrer com os picos de calor, que superam os 40 graus, e se perguntar qual é o efeito que este sol intenso pode causar nas uvas e, principalmente, como vai se refletir nos vinhos da safra de 2025?

“Será uma safra de muita qualidade”, responde o enólogo Miguel Almeida, supervisor técnico do Grupo Miolo. Responsável pelos vinhos do Vale do São Francisco desta vinícola, Almeida está em Candiota (RS), onde a Miolo tem vinhedos, para auxiliar na safra. As uvas que dão origem à linha Lendários, de vinhos premiuns do grupo, ainda não foram colhidas. A previsão é fazer uma primeira passagem pelos vinhedos na próxima semana, para pegar apenas os cachos que começam a desidratar, e deixar o restante no vinhedo por mais uma ou duas semanas.

Neste ano, a colheita está adiantada em cerca de 15 dias a até um mês, conforme a variedade Foto: Suzana Barelli

Mas, mesmo com esta dupla passagem pelas vinhas, Almeida não tem dúvidas de que todos os tintos da linha Lendários serão elaborados em 2025, nem que a produção seja menor (com a desidratação de alguns cachos, há redução no rendimento). Até agora, os fatores climáticos permitiram à Miolo elaborar estes rótulos premiuns nas safras de 2018, 2020, 2022 e 2023. E, agora, em 2025.

VINHO NOBRE

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Na Guatambu, todas as brancas já estão fermentando na vinícola e a maioria das tintas também já foi colhida. “A safra está bem adiantada, mas é de muita qualidade”, afirma Gabriela Potter, enóloga e proprietária. Apenas a cabernet sauvignon e a tannat ainda não foram colhidas – variedades que, normalmente, não maturam antes de março. Os exames de laboratório não apenas confirmam a qualidade das uvas que estão chegando à vinícola em Dom Pedrito como, às vezes, até assustam. As medições de açúcar na uva, que indicam o teor alcoólico potencial do vinho, superam, em alguns casos, os 16%.

Pelas regras brasileiras, isso significa que vários rótulos serão engarrafados como vinhos nobres. Esta categoria, instituída pelo Ministério da Agricultura em 2018, classifica os vinhos com teor alcoólico entre 14,1% e 16%. Acima desta porcentagem, os chamados vinhos finos (que são elaborados com as variedades viníferas) são classificados como licorosos. E, abaixo dos 14%, apenas como finos.

LONGEVIDADE

“O álcool está alto, assim como a acidez, mas o Ph está baixo”, afirma o enólogo André Gasperin, responsável pelos vinhos e espumantes da Nova Aliança, cooperativa que comemora os seus 95 anos. E explica que estes são os parâmetros para os vinhos terem longevidade.

São depoimentos que traduzem a animação com a safra da Campanha, e que não está muito diferente do que está acontecendo na Serra Gaúcha. No início de janeiro, por exemplo, Philippe Mével, principal enólogo da Chandon, afirmava, ainda em tom de brincadeira, que em 2026 não será possível mais aos funcionários da vinícola, focada em espumantes e localizada no Vale dos Vinhedos, saírem de férias entre o Natal e o Ano Novo. A explicação é o ritmo em que a colheita vem adiantando ano a ano, com as uvas atingindo o seu grau de maturação mais cedo.

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Miguel Almeida, supervisor técnico do Grupo Miolo Foto: Suzana Barelli

O AMADURECIMENTO

A questão agora é acompanhar como essa uva será tratada nas vinícolas. Pela concentração, a previsão é que os enólogos optem por amadurecer o vinho em barricas de carvalho novas. E este ainda é um calcanhar de Aquiles da produção brasileira, com a extração excessiva dos componentes da barrica, em vários vinhos.

Outro ponto é que será uma safra de brancos e, principalmente, tintos muito potentes e, provavelmente, concentrados, na contramão da tendência de vinhos mais frescos e não tão alcoólicos.

Mas estas questões só poderão ser respondidas quando os primeiros rótulos chegarem ao mercado, daqui a dois anos aproximadamente. Por enquanto é comemorar as uvas maduras e sanas.

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HERBICIDA

E, na fronteira com o Uruguai, torcer para que os efeitos danosos que o herbicida 2-4D causa na videira sejam resolvidos. O produto é utilizado na produção da soja, que rodeia os vinhedos na região, e está comprometendo a produção da videira. “Os estudos mostram que este herbicida diminui o rendimento da videira e a sua vitalidade, mas não está presente no vinho porque é destruído pelas leveduras, durante a fermentação”, afirma Gabriela Potter, da Guatambu. Mas não deixa de ser um grande problema para os produtores de uva da região.

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