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Suzana Barelli

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Le Vin Filosofia

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O foco no Brasil

O Brasil logo se torna um mercado potencial, mesmo antes de o produtor conhecer o passo a passo da burocracia

Cada vez que um produtor estrangeiro de vinho vem pela primeira vez ao Brasil, a cena se repete. Primeiro, ele olha o mapa do país e o espaço que ocupamos na América Latina – somos enormes frente a muitos dos nossos vizinhos. Em seguida, é informado que o consumo de brancos e tintos no país é pouco superior a 2 litros por habitante por ano – em Portugal, um dos líderes em consumo mundial, são mais de 60 litros por habitante por ano.

Pronto: a conta está feita: o Brasil logo se torna um mercado potencial, mesmo antes de o produtor conhecer o passo a passo da burocracia para importar uma garrafa para cá e as características do nosso mercado consumidor que, arredio ao vinho, prefere a cachaça e a cerveja.

O Brasil lidera o ranking dos principais destinos para o vinho chileno Foto: Quinta D'Aguiar/Divulgação

Pouco importa se é uma grande vinícola ou uma pequenina, focada em nichos, o raciocínio é o mesmo. Claro que o Brasil é um mercado importante para alguns países, principalmente Chile, Argentina e Portugal.

O EXEMPLO DO CHILE

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Nos dados da Wines of Chile – e o país andino exporta 70% da sua produção –, o Brasil lidera o ranking dos principais destinos para o vinho chileno. De janeiro a novembro do ano passado, por exemplo, o Chile exportou o equivalente a US$ 185,57 milhões para cá, um aumento de 16,72% em comparação com igual período do ano anterior. Em volume, foram 7,51 milhões de caixas (algo como 90 milhões de garrafas), aumento de 15,68%.

Nas exportações chilenas, o segundo lugar é ocupado pelos Estados Unidos, com 4,4 milhões de caixas, um crescimento de 17,43%. E, em valor, a vice-liderança ainda é ocupada pela China, mas com queda de 17,15%. Este dado comprova o claro movimento de redução do consumo de brancos e tintos, que vem sendo registrado no mercado chinês desde a pandemia do coronavírus. E esta retração chinesa só faz os produtores de vinho mirarem mais no Brasil.

A APOSTA DA BACALHÔA

A aposta no Brasil explica as mudanças implementadas recentemente pela portuguesa Bacalhôa, grupo que reúne também marcas como Aliança, Quinta do Carmo, Casal Mendes, entre outros. A operação brasileira será de responsabilidade da executiva Karene Vilella, até então CEO da Portus Cale, empresa que importava os vinhos da Bacalhôa para o Brasil. Na mudança, a Portus Cale, fundada por Roberto Vilela (pai de Karene) e o português Manuel Garcia, encerra as suas atividades por aqui, depois de 40 anos. “A estratégia é crescer tanto no Brasil como na Inglaterra”, afirma Karene.

Nos últimos três anos, as vendas do grupo Bacalhôa no Brasil cresceram 70% Foto: FILIPE FALEIRO

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Nos últimos três anos, as vendas do grupo Bacalhôa no Brasil cresceram 70%. Chegaram ao equivalente a 3,5 milhões de euros no ano passado e a meta é passar a barreira dos 4 milhões de euros. A decisão de focar também na Inglaterra revela outra faceta do mercado mundial de vinhos. É um mercado importante, como grande consumidor e também por visibilidade da marca, já que muito dos formadores de opinião se concentram no Reino Unido.

Exemplifica também como as vinícolas estão se posicionando frente a tendência mundial de queda do consumo de vinho, como apontam os dados recentes divulgados pela OIV (a Organização Internacional da Vinha e do Vinho). A última estatística, do início do ano passado, mostrou uma redução de 2,6% em 2023 no consumo mundial. A produção também é de queda, mas aqui a principal explicação são as mudanças climáticas.

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