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Rolhas curtas e vinhos longos

Abrir garrafas antigas é um momento de suspense. As rolhas curtas dos Adega Medieval foram retiradas com a perícia de um técnico em explosivos pelo sommelier Cézar França. A surpresa: todos os vinhos estavam bons

Rolhas curtas e vinhos longosFoto:

Pergunte a veteranos enófilos qual o melhor vinho brasileiro. A resposta será: Adega Medieval, de Viamão, perto de Porto Alegre. Agora procure um vinho desses para experimentar. Não há, exceto em esquecidos porões de colecionadores. A empresa, caso o termo se aplique a uma casa de pedra com chão de terra batida, tocada por um excêntrico e mercurial personagem, acabou. Oscar Guglielmone, personagem mítico e desviante da vinicultura gaúcha, morreu em 1989, assassinado. Com ele foi o mistério, não há outra palavra, para a produção em condições tão precárias de vinhos tão longevos. Sua morte igualmente não tem explicação. Tinha um temperamento forte, brigão, complicado.   Veja também: A degustação Mas quem bebeu desses vinhos nunca esqueceu a qualidade. Ennio Federico, especialista em vinhos e destilados, guardou em perfeitas condições, deitadas, 11 garrafas de Adega Medieval, de Nebbiolo e Cabernet Franc, certamente das poucas ainda existentes, e reuniu para o Paladar um grupo de cultores para avaliar se os vinhos, alguns com 23 anos de idade, faziam jus à fama e aura que a extinta vinícola ganhou. Faziam. Os presentes, todos amigos que conviveram com Guglielmone, viajaram diversas vezes nos anos 70 e 80 para visitá-lo, comer a massa caseira feita por sua mulher e tentar comprar algumas garrafas. "Ele não vendia o Nebbiolo para qualquer um, não", conta Sérgio de Paula Santos. "Se não ia com a cara, vendia o que chamava de Gamay, um tinto mais leve, que nem era feito da uva Gamay." Adolar Hermann, da importadora Decanter conta, rindo: "Marquei com ele uma visita. Viajei, cheguei lá e a mulher dele me informou, constrangida: ?Ele não quer te ver hoje?. E não me recebeu. O homem não era fácil." "Oscar Guglielmone era um doido varrido, no bom sentido", contou Sérgio de Paula Santos. "Passei uma semana hospedado lá. Ele tinha casos divertidos, mas uma vez por semana tirava um dia para beber os vinhos. Só bebia e avaliava, dizia que só assim conheceria bem."

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