Esta semana vem se destacando como a mais altista de todos os tempos em relação às cotações do café na Bolsa de Nova Iorque/NYBoT, que baliza os preços dos grãos de arabica no mercado mundial, batendo sucessivos recordes até ultrapassar a antes intangível marca de U$4.00/libra-peso, o equivalente a aproximadamente US$530/saca de 60 kg padrão exportação (Tipo 2, Bebida Fina) posto no Porto de Nova Iorque. Por aqui, para um padrão um pouco abaixo, a pedida do vendedor estava entre R$2.700,00 a R$2.900,00 a saca de 60kg.
Como referência, esse preço é o normalmente praticado para lotes especiais originados no Kenya, no caso o tipo AA, que é famoso por apresentar o raríssimo ácido fosfórico em sua bebida. O mercado ficou agitado, assustado e incrédulo durante todo o dia.
É importante lembrar que a velocidade da variação das cotações do grão cru tem atraso considerável no movimento de repasse na ponta do varejo, ou seja, para o consumidor.
De qualquer forma, um aumento de preços é ruim para todos. Nem todos os produtores estão se beneficiando da alta, pois ela é decorrente da menor oferta de grãos, portanto, de uma safra menor e que se esgotou muito antes do normal.

Para a indústria é um momento delicado, pois o aumento na compra dos grãos crus acaba sendo em sua maior parte absorvido e uma pequena parte é repassada ao varejo. Por isso, vem sendo anunciado desde dezembro um escalonamento de aumento para supermercados, empórios e cafeterias que, por outro lado, tem dado um susto nos consumidores.
Para você se preparar neste momento, que deve perdurar até o início dos trabalhos de colheita do café, segue este Pequeno Guia de Sobrevivência para os tempos bicudos do café.
- Os grãos crus estão mais caros e isso vale para todas as categorias, do Tradicional ao Especial. Se você tem o seu café preferido e puder manter seu consumo, mantenha. Isso é indulgência.
- Prepare a quantidade que certamente você e, caso tenha, convidados, consumirão até a última gota. Desperdício é fora de moda, definitivamente. Em japonês, há uma palavra excelente para descrever isso: Motainai.
- Faça do preparo do seu café um verdadeiro ritual ou como uma preparação de corrida de Fórmula 1, conferindo cada item como filtro, porta-filtro, os grãos a serem moídos ou o pó pronto e, claro, a água, que é praticamente 98% da sua bebida. Essa conferência é importante para obter o melhor desempenho dos seus grãos ou pó.
- Se você tem um moedor em casa, prefira comprar o café em grão, moendo à medida que você fizer o preparo. E atenção à data de fabricação: quanto mais recente, melhor vai ser o resultado sensorial.
- O cuidado com a água é fundamental. Dê preferência à água filtrada, pelo menos, que já retira eventual presença do cloro e seu incômodo sabor.
- Se você quiser experimentar outras marcas, compare aquelas da mesma categoria para facilitar sua avaliação. Verifique os selos que a marca possui, como o Selo de Qualidade ABIC, um de certificação de processo, que garante que o café foi produzido respeitando o meio ambiente e os aspectos trabalhistas e, eventualmente, um de Indicação Geográfica, que menciona a localização e um modo de trabalhar definido por uma entidade regional.
- Desconfie de produtos muito baratos em uma mesma categoria, pois com os preços tão altos do café cru, não existe mágica para chegar mais barato que dois meses atrás, por exemplo. Confira tudo para não se decepcionar depois.
- No caso de cafés de microtorrefações, confira a data da torra e também a quantidade. Pela legislação vigente, as quantidades para vendas devem ser de 250g, 500g ou 1.000g, quando estiverem neste intervalo. Quantidades menores que 250g e acima de 1.000g, o conteúdo é livre. Por esta razão, vale a pena fazer as contas de quanto fica o preço por kg.
- Qualidade do café é questão de processo, que, por coerência, deve começar na fazenda. Os melhores produtores são aqueles que conseguem produzir o máximo de lotes de boa qualidade, com processos bem conduzidos, produção respeitosa com o meio ambiente e que empregam cascas e outras sobras como adubo. A origem de grãos excelentes e de defeituosos, além das cascas e paus que vêm na colheita, é a mesma. É o produtor consciente que não deve vender esse tipo de produto.
- Não se intimide com o bullying sensorial. Cada pessoa tem suas preferências, muitas vezes por razões culturais e pela oportunidade de acesso. Se aquele café lhe traz prazer, continue. No entanto, experimentar novos produtos é sempre bom para abrir os horizontes e, quem sabe, descobrir novos prazeres.
- Para finalizar, o mantra: confie nos seus sentidos. Somente você sabe o que você está sentindo.
