Eles criaram academia com horário agendado, sem lotação e com mensalidade de quase R$ 900

Rafael Silva fundou a Silva Gym com a ajuda de dois amigos, inspirado nas críticas que outras academias recebiam; primeira unidade em São Paulo deve ser inaugurada até abril

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Foto do author Geovanna  Hora

Nascido em uma família de advogados, o carioca Rafael Silva, de 27 anos, cresceu com a certeza de que os escritórios eram o seu caminho. Mas, depois de entrar na faculdade de Direito, ele percebeu que não seria bem assim e decidiu investir em uma paixão: o fisiculturismo.

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Como atleta e consultor, ele ganhou mais de 60 mil seguidores no Instagram e começou a perceber o que incomodava as pessoas nas academias. Inspirado nas críticas, ele fundou a Silva Gym, em 2022, com a ajuda dos amigos Rodrigo Viegas e Eduardo Prado, ambos de 27 anos.

A Silva Gym, que tem aulas com horário marcado, personal trainer para acompanhar todos os exercícios, tripés para gravação dos treinos e mensalidades que chegam a quase R$ 900, já tem três unidades no Rio de Janeiro e deve desembarcar em Moema (SP) até abril.

Tentou ser advogado, mas preferiu ir para o fisiculturismo

Silva nasceu e cresceu no Rio de Janeiro. Desde cedo, sabia que trabalharia em um escritório de advocacia, para seguir os passos da família. Ele chegou a cursar metade da faculdade de Direito e admite que o período foi bom para o amadurecimento, mas não gostava do ramo.

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“Fiz dois anos de estágio, mas eu só sentia frustração. Conversei com a minha mãe e disse que eu precisava fazer algo por mim”, conta. Depois de deixar a faculdade e o emprego, em 2019, ele voltou a frequentar a academia, começou a cursar Nutrição e passou a competir no fisiculturismo - esporte que tem como objetivo o desenvolvimento e a definição muscular.

Rodrigo Viegas (à esquerda), Rafael Silva (no centro) e Eduardo Prado fundaram a Silva Gym baseados nas críticas que outras academias recebiam. Foto: Divulgação/Silva Gym

Silva postava sua rotina de treinos e dieta no Instagram, o que atraiu usuários que se inspiravam no estilo de vida - atualmente, o perfil dele conta com 66 mil seguidores. Nessa época, ele teve a ideia de criar a consultoria Silva Team, para interessados no fisiculturismo.

“As pessoas me pediam dicas e eu pensei que poderia oferecer isso de uma forma profissional. Com a minha esposa, que é nutricionista, eu fazia um acompanhamento online da alimentação e dos exercícios para todos os cantos do Brasil”, afirma.

Obras da Silva Gym quase pararam na metade por falta de dinheiro

A Silva Team cresceu com a ajuda do boca a boca, mas não era o suficiente para Silva. Ele conta que não sentia confiança em uma empresa completamente digital. “Assim como você ganha dinheiro rápido, você também pode perder tudo rápido. Alguém pode passar na sua frente, porque não tem a mesma fidelização de um negócio físico”, afirma.

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O carioca frequentava academias e sempre ouvia críticas sobre a lotação, o clima hostil e a falta de acompanhamento profissional. Ele decidiu usar os problemas como inspiração para abrir o próprio negócio.

No começo, os pais e a esposa foram contrários à ideia, por acharem que era muito arriscada. Mas Silva estava decidido. Só faltava um detalhe: ele não tinha dinheiro suficiente para colocar a academia de pé. A solução foi procurar por sócios.

“Eu cheguei a negociar com uma pessoa que tinha experiência no ramo, mas ela desistiu. Já tinha contado a ideia para um amigo de infância, que não sabia muito bem por qual caminho seguir e decidiu empreender comigo”, conta.

O amigo é Rodrigo Viegas. Juntos, eles estimaram que precisavam de R$ 400 mil para dar vida à Silva Gym, mas o valor não foi suficiente para cobrir nem metade dos gastos com a obra.

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A dupla passou a procurar por ajuda: Silva vendeu o carro, usou todo o lucro da Silva Team e conseguiu pegar R$ 150 mil emprestados com a família; já Viegas pegou um empréstimo de R$ 700 mil com a ajuda do pai.

Ainda assim, as contas não fechavam. “Nós só tivemos noção dos custos totais no meio do projeto, mas já tínhamos iniciado tudo, e o dinheiro estava preso na obra, não tinha como voltar atrás”, diz.

Ele recorreu novamente às amizades. Eduardo Prado também é amigo de infância de Silva e tinha passado por uma perda familiar. Para enfrentar o luto, ele decidiu se concentrar em ajudar Silva e Viegas a abrirem a empresa e usou a herança para pagar o que faltava.

Nesse processo, que durou cerca de 7 meses e custou ao todo R$ 1,9 milhão, Silva precisou trancar a faculdade de Nutrição. Em janeiro de 2023, o trio inaugurou a primeira unidade da Silva Gym na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro.

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Lotação limitada, horário marcado e um personal trainer para três alunos

Apesar de trabalhar com o conceito de exclusividade, essa não era a intenção da Silva Gym no início. Silva conta que queria criar um ambiente no qual as pessoas se sentissem acolhidas.

“Para mim, as academias sempre foram hostis, e isso afasta o público. Os aparelhos estão sempre lotados, não tem auxílio e é desconfortável. Tudo o que eu via de ruim nas outras, eu precisava fazer diferente no meu negócio”, diz.

O primeiro diferencial da Silva Gym é justamente a lotação controlada. Há um limite de alunos matriculados, que varia de acordo com o tamanho da unidade. Quando o número é ultrapassado, eles abrem uma fila de espera, que chegou a ter 400 nomes na matriz, segundo Silva. Além disso, os treinos têm horário marcado para ajudar na organização.

Limite de alunos por unidade, treinos com horário agendado e acompanhamento com personal trainer estão entre os diferenciais da Silva Gym.  Foto: Divulgação/Silva Gym

Outro ponto é o acompanhamento com personal trainer: cada profissional auxilia no máximo três alunos por aula. “Quem não tem experiência pode se machucar, se não tiver a orientação adequada. Na Silva Gym, a pessoa é acompanhada do início ao fim dos treinos”, afirma Silva.

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Baseado na sua trajetória como criador de conteúdo, o empresário também disponibiliza tripés para ajudar na gravação dos treinos - além de outras comodidades, como toalhas e café.

Ele acredita que deixar o cliente confortável ajuda a criar um senso de comunidade, e abraçar o digital é uma forma de fortalecer esse laço.

“Enquanto as academias tradicionais rejeitam a internet, nós investimos nisso. Vamos abrir um canal no YouTube e até ajudamos na produção dos vídeos dos alunos. A intenção é ter tudo o que eles precisarem: suplementos, comida fitness e até roupas”, destaca.

A parceria com influenciadores, que existe desde a Silva Team, também faz parte do dia a dia da academia. Mas, em vez de buscar por personalidades com milhões de seguidores, eles preferem perfis médios e pequenos.

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Mensalidades de R$ 889 e chegada a SP com franquias

Atualmente, as mensalidades da Silva Gym variam de R$ 599 a R$ 889, a depender do plano escolhido. Contudo, no começo, Silva sabia que era difícil praticar esses preços e chegou a cobrar R$ 289 por aluno para ajudar a popularizar o negócio.

“A gente teve prejuízo por um ano, porque esses valores não cobriam nem os custos. Mas eu sempre entendi que não dava para cobrar um valor justo sem deixar as pessoas conhecerem o meu negócio antes”, diz. O faturamento não foi revelado.

Dois meses depois da inauguração, a matriz já não aceitava mais alunos. Silva, Viegas e Prado queriam abrir a segunda academia, mas precisavam de investidores e convidaram dois novos sócios, incluindo a influenciadora digital Lara Gomes, de 25 anos, filha de Dennis DJ.

A unidade fica na Avenida Olegário Maciel, via mais movimentada da Barra da Tijuca. A terceira - e mais recente - Silva Gym também foi instalada na capital fluminense, na Lagoa, bairro nobre na zona sul.

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Agora, a Silva Gym está prestes a dar os primeiros passos em outras cidades com a ajuda do franchising.

Silva afirma que já tem cinco franquias negociadas no Rio de Janeiro, mas a primeira deve ser inaugurada em Moema, área nobre da zona sul de São Paulo, até abril deste ano. Os planos incluem focar no Sudeste para depois avançar a outras regiões do Brasil.

“A gente não tem dinheiro para expandir o negócio por conta própria, então as franquias são o melhor cenário. A operação da academia também é muito simples, mesmo que o nosso modelo tenha mais colaboradores. Primeiro a gente domina o Rio de Janeiro, depois a gente se espalha”, conclui.

Veja os dados das franquias da Silva Gym

  • Investimento inicial: R$ 2,15 milhões
  • Faturamento médio mensal: R$ 216 mil (ou R$ 2,6 milhões por ano)
  • Lucro médio mensal: de 25% a 35% do faturamento
  • Prazo de retorno: de 28 meses a 34 meses
  • Prazo de contrato: 5 anos
  • Royalties/mês: 8% do faturamento (6% + 2% de fundo de propaganda)
  • Número de unidades em operação: 3

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Avaliação dos clientes

A matriz da Silva Gym recebeu uma classificação de 5 estrelas no Google, nota máxima disponível, com 30 avaliações até a publicação desta matéria. Os comentários elogiam a qualidade dos profissionais e dos aparelhos.

Os autores das notas concedidas não podem ser verificados. Eventualmente, avaliações positivas ou negativas podem ser uma ação a favor ou contra a empresa.

A marca não tem um perfil no site Reclame Aqui.

Número de academias no Brasil cresceu quase 200% em uma década

Para abrir a Silva Gym, Rafael Silva precisou ouvir as críticas aos concorrentes e inovar. A gerente de Mercado do Sebrae-RJ, Raquel Abrantes, diz que, para quem quer empreender com academias, essa é a única opção, já que a concorrência cresceu nos últimos anos.

O número de centros de atividades físicas formalizados - ou seja, com Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) ativo - saiu de 19.266 em dezembro de 2014 para 56.833 em julho de 2024, o que indica um aumento de 195% em uma década. Os dados são do relatório Panorama Setorial, da Fitness Brasil, produzido com base em informações do Conselho Federal de Educação Física (Confef).

“A busca das pessoas por cuidados com o corpo e com a mente aumentou durante a pandemia. As academias aprenderam a se adaptar, e o mercado fitness não parou de crescer”, avalia Raquel.

Ela afirma que a concorrência é um desafio, mas analisar essas empresas é uma forma de encontrar oportunidades de negócio que ainda não foram aproveitadas. O primeiro passo, segundo a especialista, é entender qual desejo das pessoas que ainda não foi atendido.

Chegar a essa resposta não é fácil, mas encontrar um nicho específico é um começo. Raquel aponta que o consumidor procura por serviços personalizados e, no universo das academias, isso pode significar tanto uma estrutura de alto padrão quanto ações ao ar livre ou voltadas para alguma atividade física específica, como balé e yoga, por exemplo.

“O público-alvo não dita só as regras do serviço, mas também do quanto será necessário investir. Um estúdio de crossfit é mais barato do que um centro voltado para pessoas mais velhas, porque os equipamentos são mais simples no primeiro caso. Quando você entende o seu público-alvo, é possível planejar quais serão os custos”, explica a gerente.

Além da estrutura, oferecer serviços diferenciados, por meio de parcerias, também é uma forma de ganhar vantagem. A ação pode envolver diferentes áreas, de alimentação a saúde mental. Contudo, Raquel alerta que é importante escolher profissionais habilitados e regularizados em seus respectivos órgãos.

“A academia é um serviço, mas está ligada à saúde, porque a pessoa se machuca se fizer os exercícios de forma errada. É preciso checar se o parceiro tem registro no conselho regional da profissão em que ele atua. A responsabilidade é associada à credibilidade”, conclui.