O artesanato sempre esteve presente na vida do alagoano Thiago Jossan, de 26 anos. Ainda na infância, ele aprendeu a fabricar algumas peças para vender nas feiras de Arapiraca (AL) com a mãe. Já na vida adulta, ele uniu a arte ao sonho de ser produtor de conteúdo e começou a publicar vídeos sobre os seus produtos na internet.
Após três anos no YouTube, em 2021, Jossan foi para o TikTok e viralizou ao mostrar como fazia peças realistas com resina, espuma e silicone. O último sucesso do artesão, com mais de 2dois milhões de visualizações, foi uma bolsa que imita um bolo de cenoura. Só com a produção de conteúdo, o alagoano fatura até R$ 13 mil por mês.
Empreendedor aprendeu a fazer artesanato com a mãe
Jossan nasceu e cresceu em Arapiraca, a maior cidade do interior de Alagoas. Para sustentar os três filhos, a mãe do empreendedor fazia peças artesanais para vender nas feiras da região. Ela foi a responsável por ensinar as primeiras técnicas de artesanato ao alagoano, que tinha 10 anos na época.
“A minha mãe trabalhava para colocar comida em casa, não tinha condições de comprar presentes. Se eu quisesse algo diferente, como roupa nova, precisava trabalhar”, afirma.

No início, Jossan ajudava nas produções, mas, aos poucos, começou a criar as próprias obras, como uma luminária feita de barbante e palha de coqueiro. Aos 13 anos, ele parou de frequentar as feiras, porque a mãe foi trabalhar como professora de artes.
O artesão conta que foi vendedor de padaria e servente de pedreiro, até conseguir uma vaga como editor de artes para as redes sociais de uma loja, aos 15 anos. “Comecei a trabalhar muito novo. Não eram as profissões que eu queria naquele momento, mas era do que eu precisava”, diz.
Misturou artesanato e sonho de produzir conteúdo
Depois de três anos como editor de artes, Jossan pediu demissão e foi trabalhar em uma empresa de filmagens, em 2018. O sonho dele, que já mantinha um canal no YouTube desde os 15 anos, era ser produtor de conteúdo.
Ele começou com vídeos sobre as peças artesanais que fazia, sem seguir um padrão de materiais ou formatos. Só em 2018 o alagoano decidiu investir em objetos realistas feitos com resina, espuma e silicone, e passou a mostrar os processos de fabricação no YouTube, junto com vídeos sobre temas variados.
“Cheguei a ganhar 170 mil inscritos, mas era um número falso, porque as pessoas não voltavam para assistir a outros vídeos, nem se interessavam pelos itens”, afirma Jossan. No final de 2021, ele teve o perfil hackeado e perdeu o acesso ao seu canal.

Jossan conta que, como precisava começar tudo de novo, decidiu publicar versões rápidas dos vídeos no TikTok também. Menos de um mês depois, ele viralizou pela primeira vez, com o vídeo de uma faca feita de resina, que atingiu cinco milhões de visualizações.
“Vi que as pessoas gostaram e comecei a publicar conteúdos todos os dias. Ganhei 50 mil seguidores em um mês”, diz. Hoje, o perfil do artesão no TikTok já conta com 1,2 milhão de seguidores e 39,2 milhões de curtidas - ele também é seguido por 279 mil contas no Instagram.
Um dos vídeos, que mostra as primeiras etapas da produção de um chinelo translúcido, alcançou 16,7 milhões de visualizações. Após a repercussão do seu trabalho na internet, Jossan pediu demissão da empresa de filmagens para se dedicar ao artesanato e às redes sociais.
Bolsa que imita bolo de cenoura é sucesso mais recente
As criações de Jossan são variadas, mas a grande estrela do perfil é a “confeitaria de resina”. “Eu tive a ideia de fazer um bolo falso com espuma de poliuretano e deu certo, as pessoas gostaram de assistir. Depois fiz um segundo e um terceiro, passei para as tortas e virou uma série sobre comida”, diz.
Para produzir os bolos, ele leva menos de duas horas. A espuma de poliuretano, geralmente usada para preencher ou vedar espaços, foi escolhida por ter crescimento e aparência semelhantes aos de um bolo de verdade.
“A espuma de poliuretano se expande em segundos. Depois é só desenformar e fazer os ajustes”, explica. Para imitar as texturas das caldas, recheios e detalhes, ele opta por resina e silicone.
Para a bolsa de bolo de cenoura, Jossan diz que teve a ideia de dar uma funcionalidade aos bolos que fazia e pediu ajuda a Bianca Rodrigues, dona do Ateliê 26. A designer fez o forro interno e a alça, que precisaram de alguns ajustes, porque o artesão calculou as medidas errado.
Além de mais de 2 milhões de visualizações, a bolsa de bolo de cenoura também atraiu interessados em comprar o item. Contudo, Jossan ainda não sabe se vai conseguir vender alguma unidade.
“Não depende só de mim, preciso de uma parceria para o forro e a alça. Mas vou conversar com a Bianca e analisar o que consigo fazer, porque recebo e-mails e mensagens todos os dias perguntando como comprar a bolsa”, conta.
Artesão tem quatro fontes de faturamento
Jossan tem perfis em cinco redes sociais, mas ganha dinheiro com a produção de vídeos em quatro delas: TikTok, Kwai, Facebook e YouTube. Para estimular os criadores de conteúdo, essas plataformas pagam um valor que varia de acordo com o número de visualizações que o perfil alcançou em um mês. O único a não adotar essa estratégia é o Instagram. O artesão afirma que só com a produção de conteúdo, fatura de R$ 7 mil a R$ 13 mil por mês.
Ele também ganha com a venda das peças de resina. Os pedidos custam de R$ 900 a R$ 3 mil, a depender do formato, tamanho e cores do objeto. Os itens mais vendidos são chaveiros que imitam brigadeiros, seguidos por bolos e cupcakes. Alguns dos clientes são donos de padarias e confeitarias, que deixam os produtos falsos na vitrine para preservar os verdadeiros.
“Aceito no máximo quatro encomendas por mês, porque não consigo conciliar todas as demandas”, explica. Ele também lançou um curso de confeitaria de resina, que tem 300 alunos e é vendido por R$ 59,90.
Outra fonte de renda são as publicidades: Jossan já trabalhou com marcas como Burger King e Honda. Ele diz que não há uma média para o faturamento com as vendas, curso e publicidades, já que as variações entre um mês e outro costumam ser grandes.
“O que eu mais gosto de fazer é a confeitaria de resina, e tenho um bom retorno com ela. Pretendo lançar alguns itens gigantes, peças de decoração e seguir nesse formato”, conclui.
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Instagram se destaca para vendas
O consultor de negócios do Sebrae-SP Eder Max afirma que as redes sociais são importantes para negócios de qualquer tamanho ou setor, porque permitem que a marca se aproxime de pessoas que estão fisicamente distantes.
Para 60% dos pequenos empreendedores brasileiros, o Instagram é uma plataforma de vendas. A rede social perde apenas para o WhatsApp, utilizado por 84% dos empresários, à frente de lojas virtuais próprias (13%) e marketplaces, como Mercado Livre (8%), OLX (4%) e Magazine Luiza (3%).
Os dados são da 9ª edição da pesquisa Pulso dos Pequenos Negócios, realizada pelo Sebrae Nacional no final de 2024 e divulgada neste mês. O levantamento ouviu 5.264 pessoas, entre donos de microempresas, empresas de pequeno porte e microempreendedores individuais, por meio de um formulário online, em todos os Estados e no Distrito Federal.
Além da preferência pelo WhatsApp, Instagram e Facebook frente a outras plataformas de vendas, a pesquisa também mostrou que 48% das pequenas empresas já investiram em propaganda paga nas redes sociais e na internet. No setor de artesanato, a porcentagem é de 39%.
Max afirma que o preço acessível dos anúncios é uma vantagem das redes sociais em comparação com outros meios de comunicação. Nas plataformas da Meta (Facebook, Messenger e Instagram), não há valor mínimo para investimento; já no TikTok, as divulgações pagas custam a partir de US$ 20 (aproximadamente R$ 114).
“O erro dos empreendedores é achar que postar uma foto do produto ou serviço e pagar um anúncio vai resolver o problema. Os consumidores querem interagir com as marcas, então é importante mostrar bastidores, quem está por trás do negócio e humanizar a empresa. Gente quer falar com gente”, explica o consultor.
Separar o pessoal do profissional nas redes sociais
Max alerta que, apesar de todos os benefícios, o empreendedor precisa ter cuidado com o que posta nas redes sociais. Assuntos polêmicos, como política, religião e futebol, podem afastar clientes e prejudicar a imagem da empresa.
“As interações com os clientes têm que ser agradáveis. Mesmo quando o usuário faz um comentário negativo, o empresário não pode levar para o lado pessoal”, afirma.
Ele diz que também é importante ter um objetivo definido, seja o aumento das vendas ou a popularização da marca. Mas, nem todas as publicações devem ser voltadas para esse foco: “A cada três posts, um deles precisa atender às suas metas. Os outros vão ajudar a atrair o cliente”.
Não é necessário investir em superproduções, mas alguns cuidados básicos ajudam a melhorar a qualidade dos vídeos:
- Escolha um ambiente com poucos ruídos
- Apoie o celular ou tente tremer o mínimo possível
- Dê atenção à qualidade do áudio
- Vá direto ao assunto e tente atrair a atenção do público nos primeiros 20 segundos
“A empresa não precisa estar em todas as redes sociais. Se a intenção for ficar conhecida, ela pode estar na maioria, mas, de uma maneira estratégica, o mais importante é estar onde o seu público-alvo está”, conclui Max.