No início da década de 1990, a mineira Edma Tostes, de 59 anos, foi para Carapicuíba (Região Metropolitana de SP) em busca de emprego e melhores condições de vida para o filho. Assim que chegou, começou a fazer aulas gratuitas para ser cabeleireira. Como não tinha dinheiro para a passagem de ônibus, andava quatro quilômetros todos os dias, ida e volta.
Anos depois, Edma conseguiu abrir o próprio salão de beleza, na movimentada Rua Augusta, na capital paulista. Por estar cercada de empresas, quase todos os clientes trabalhavam na região. Com a ajuda da irmã, ela transformou o negócio no Beleza Básica Express, um salão de beleza corporativo, que promete um pacotes de serviços como escova, manicure e pedicure em até uma hora.
Edma ia a pé para curso de cabeleireiro oferecido pela prefeitura
Edma nasceu em uma família de sete irmãos em Belo Horizonte (MG). Na década de 1980, ela e a irmã caçula, Ivone Tostes, hoje com 57 anos, vieram para Itapevi, na Região Metropolitana de São Paulo, em busca de melhores oportunidades, mas voltaram para Minas Gerais depois de alguns anos.
Só em 1990 as duas se mudaram definitivamente para Carapicuíba, cidade a cerca de 15 quilômetros de Itapevi. Na época, Edma já tinha um filho recém-nascido. Elas dizem que sempre foram vaidosas, mas, como não tinham dinheiro, cuidavam da beleza em casa.

“As vizinhas gostavam da nossa unha e do nosso cabelo. Nós começamos a fazer trabalhos como manicure e cabeleireira. Não tinha muita técnica no início, mas tinha cuidado”, conta Ivone.
Ainda em Belo Horizonte, Edma concluiu o curso de Técnica em Enfermagem, mas trabalhou em empresas variadas, como fábricas de vasos, de borracha e no banco de sangue de um hospital em Osasco. Ela era “faz-tudo” na lanchonete de uma unidade do Serviço Social da Indústria (Sesi) quando soube de um curso grátis de cabeleireira, oferecido pela Prefeitura de Carapicuíba.
“Eu ia a pé, porque não tinha dinheiro para pagar a passagem. Cheguei a pensar em desistir no meio, mas o professor me aconselhou a ficar porque eu era boa no que fazia”, diz Edma. O trajeto da casa dela até a sala de aula tinha cerca de dois quilômetros.
Primeiro emprego de cabeleireira foi com ajuda de professor
Edma passou a atender os primeiros clientes em casa - e funcionou assim até 1995. Naquele ano, ela conseguiu uma vaga para trabalhar em um salão de beleza na Rua Augusta, com a ajuda de uma carta de recomendação de um professor do curso de cabeleireira.
“Eu ganhava muito mais do que em qualquer outro trabalho que já tive. Joguei o meu primeiro salário em cima da cama e falei para a Ivone: ‘Olha quanto dinheiro nós temos’. Nós fomos ao mercado e compramos até garrafa térmica”, conta a empreendedora.
O dono do salão de beleza ajudou Edma a pagar uma especialização e a ensinou tudo o que sabia sobre o mundo dos cabelos. “Depois de três anos, ele falou que eu estava preparada para ter o meu próprio negócio”, diz.
Ela abriu o primeiro salão de beleza com três sócios, ainda na Rua Augusta. Eles investiram o dinheiro do salário para dar vida ao empreendimento - que na época se chamava Seven Fast. A parceria não funcionou, e Edma preferiu seguir sozinha com o negócio.
Depois de alguns meses de funcionamento, ela recebeu uma proposta para atender exclusivamente aos funcionários do Banco Safra, que tem sede na Avenida Paulista. “Eu fazia parte da folha de pagamento deles. Os trabalhadores vinham ao salão, eu registrava os serviços e o Banco Safra me pagava no final do mês”, afirma.
Já em 2003, a cabeleireira renegociou o acordo com o Banco Safra para ter liberdade de atender pessoas de outras empresas. Para lidar com o aumento da demanda, ela mudou para um espaço maior, ainda na Rua Augusta.
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Ideia do negócio é entregar serviços básicos em até uma hora
Na época, Ivone, que é formada em Direito, ainda trabalhava na área de segurança do trabalho, mas ajudava a irmã com questões burocráticas. Ela só entrou de vez no negócio em 2011, como diretora administrativa, mas foi a responsável pela ideia de abraçar o conceito de salão de beleza corporativo. “Eu via um público com necessidades que a gente poderia atender”, explica Ivone.
O foco do Beleza Básica Express é oferecer serviços de beleza em até uma hora - justamente para os trabalhadores conseguirem encaixar a pausa no horário do almoço ou em pequenas folgas ao longo do expediente. O nome, inclusive, foi uma maneira de explicar a ideia que a gestora chama de “fast-food de salão de beleza”. “Chegou, é atendido e já vai embora”, diz.

Os procedimentos mais procurados são escova no cabelo, manicure, pedicure e design de sobrancelhas. O pacote com manicure, pedicure e design de sobrancelhas sai por R$ 130 e pode ser feito em até 30 minutos. Já quem opta por manicure, pedicure e escova desembolsa R$ 160 e precisa ter uma hora livre.
Como o diferencial do negócio é a agilidade, elas não investiram em sala de espera ou espaço para o café e optaram por mobílias e decorações simples. “Nós não trazemos esse conforto, porque é para ser um serviço rápido. Os clientes não têm tempo para bater papo aqui”, pontua Ivone.
Para ajudar a popularizar o Beleza Básica Express na região, as irmãs entravam em contato com a área de Recursos Humanos de empresas próximas para oferecer descontos aos funcionários. A empresa era a responsável por divulgar o benefício entre os seus contratados.
Covid quase levou irmãs à falência
Ivone conta que o negócio chegou a ter parcerias com 95 empresas e a atender mais de 120 pessoas por dia. A segunda unidade foi inaugurada em 2018, no WT Morumbi, complexo empresarial localizado na zona sul de São Paulo. Na época, elas receberam o convite de uma multinacional que mudou para o espaço e tinha funcionários que eram clientes do salão.
Os planos de expansão estavam em ritmo acelerado, quando a pandemia de covid chegou ao Brasil e obrigou as duas unidades a fecharem as portas. A matriz da Rua Augusta não conseguiu se recuperar e encerrou as atividades em 2020.
“Nós quase falimos na pandemia, foi muito difícil. O segmento de beleza, no geral, foi afetado, mas no nosso caso foi pior, porque o nosso público é corporativo, e as pessoas passaram a trabalhar de casa, não iam mais para o escritório”, comenta a gestora.
O número de clientes do Beleza Básica Express só voltou a se aproximar do registrado antes da pandemia no ano passado, segundo as irmãs. Atualmente, elas atendem cerca de 2,2 mil pessoas por mês - em janeiro de 2020, a média mensal era de 3 mil clientes. O faturamento não foi revelado.
A inauguração de duas unidades foi adiada devido à crise sanitária. A primeira, instalada na sede da farmacêutica Bayer, também na zona sul da capital paulista, foi aberta no final de 2021, e a segunda, localizada no EZ Towers, a cerca de 600 metros do WT Morumbi, começou a operar em 2022.
“Para abrir, fizemos só o básico, o que era essencial, porque não tínhamos dinheiro. E aproveitamos o mobiliário da Rua Augusta”, afirma Ivone.
No ano passado, o Beleza Básica Express retomou o processo de formatação para entrar no franchising, que teve início antes da pandemia e deve ser finalizado até o fim deste ano. As irmãs acreditam que as franquias são a melhor forma de se expandir, já que elas não têm capital próprio para investir.
Ivone afirma ainda que, além de acreditar que o modelo de negócio seja fácil de ser replicado, o retorno de cada vez mais empresas para o trabalho presencial será positivo para o Beleza Básica Express.
“Somos procuradas por organizações que querem oferecer benefícios para atrair os colaboradores aos escritórios. Mas, para atender a essa demanda, precisamos das franquias para ter recursos financeiros e administrativos”, conclui Ivone.
Avaliação dos clientes
O Beleza Básica Express do WT Morumbi, unidade mais antiga em funcionamento, recebeu uma classificação média de 4,2 de 5 estrelas no Google, com 10 avaliações até a publicação desta matéria. Os comentários positivos elogiam a qualidade do atendimento e agilidade dos serviços, e os negativos abordam atrasos nos horários agendados.
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Setor de beleza se beneficia com busca por autoestima, diz especialista
O consultor de negócios do Sebrae-SP Maurício Buffa afirma que o setor de saúde, beleza e bem-estar se beneficia com a valorização da autoestima. Ele explica que os pequenos cuidados, como fazer as unhas e os cabelos, tornaram-se uma válvula de escape para a rotina agitada dos brasileiros.
“O ser humano quer se sentir bem. E, apesar de o bem-estar ir muito além da aparência, ela também é fundamental para a autoestima. Isso faz com que as pessoas procurem investir em cuidados com o corpo, roupas e alimentação, por exemplo”, diz Buffa.
Mas apenas identificar o potencial do setor e gostar de lidar com cabelos não é o suficiente para ter um salão de beleza. O especialista alerta que o empreendedor precisa estar disposto a estudar o mundo da beleza, buscar por tendências e entender a sua região e o seu público-alvo.
Ele destaca que nem sempre o que funciona em uma cidade, vai dar certo em outra. “Em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Campinas, um salão de beleza corporativo é promissor, porque as pessoas não conseguem voltar para casa no horário de almoço, mas em municípios menores, isso não se aplicaria”, explica.
Para identificar o que funciona ou não na sua região, é importante entender o que a concorrência já oferece e quais necessidades dos consumidores ainda não foram atendidas.
Encontrar um diferencial é essencial para sobreviver, já que, apenas entre os microempreendedores individuais, havia 1,3 milhão de cabeleireiros e profissionais de tratamentos de beleza no Brasil em 2022. A categoria representa 9% de todos os MEIs do País, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) do ano passado.
Buffa afirma que também é importante entender quais serão os investimentos básicos, como cadeiras e equipamentos, os custos fixos, como aluguel, energia elétrica e impostos, e as despesas variáveis, como produtos. “Uma forma de entender na prática esses valores é visitar outros empreendedores que já estão na área”, conclui.