Ela criou ‘macarrão’ sem carboidrato e baixa caloria com planta do Japão para atender a público fit

A administradora Thamara Gama criou a Konjac Massas MF em João Pessoa (PB), com base no macarrão japonês shirataki e que tem 9 calorias a cada 100 gramas; produto é liberado pela Anvisa

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Foto do author Geovanna  Hora

Na década de 1990, a administradora paraibana Thamara Gama, de 41 anos, passou alguns meses no Japão, onde conheceu o shirataki, macarrão japonês translúcido feito à base de konjac. Mais de uma década depois, ela decidiu estudar a planta asiática e adaptar o produto para o paladar dos brasileiros.

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Somente em 2016, após um longo processo de estudos e registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Thamara lançou a Konjac Massas MF. Os “macarrões” da marca - que, na verdade, só se assemelham às massas de farinha de trigo no formato - não possuem carboidrato e têm apenas nove calorias a cada 100 gramas.

Os produtos são voltados para o público adepto a dietas com déficit calórico e com restrições alimentares.

Macarrão konjac foi inspirado em viagem ao Japão

A empreendedora sempre gostou de viajar para outros países e chegou a morar nos Estados Unidos, em Portugal e na Inglaterra.

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Depois de se formar em Negócios e Marketing na Universidade de Miami (EUA), ela passou a se dividir entre o Brasil e a Europa. “Sou de uma família de empreendedores e poderia ter trabalhado nas empresas do meu pai, mas quis buscar o meu próprio caminho”, afirma.

Primeiro contato de Thamara Gama com o konjac foi em uma viagem ao Japão.  Foto: Divulgação/Konjac Massas MF

Ela investiu em diferentes negócios, mas sempre gostou do mercado de bem-estar, que engloba negócios voltados para cuidados com a saúde física e mental. Thamara conheceu o konjac por meio do shirataki, na década de 1990, quando passou três meses em Tóquio, no Japão, devido a um campeonato de judô.

“Vi as pessoas consumirem o shirataki, mas para mim era um alimento estranho. Não fazia parte da cultura brasileira e, na época, não chamou minha atenção, porque não parecia gostoso”, conta a paraibana.

Mais de uma década depois, em 2009, ela foi a um evento de saúde e ouviu falar sobre o glucomannan, uma espécie de fibra alimentar solúvel. Ao estudar sobre o tema, Thamara descobriu que ele era extraído do konjac.

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O que é o konjac?

O konjac (de nome científico Amorphophallus konjac) é uma planta popular na culinária asiática e tem fibras alimentares solúveis, como o glucomannan, em sua raiz.

A nutricionista Renata Cintra, professora do Departamento de Ciências Humanas e Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), explica que as fibras alimentares solúveis são carboidratos não digeríveis.

“Os carboidratos não digeríveis são aqueles que o organismo humano não produz enzimas capazes de digerir”, afirma Renata. Ou seja, como essas substâncias não são digeridas, as suas calorias não são contabilizadas. Entre os principais benefícios das fibras alimentares solúveis, estão o aumento da saciedade e a redução da absorção de gordura e dos níveis de colesterol.

A Anvisa proibiu, em 2002, a entrada, comercialização e consumo de sobremesas, balas e similares feitos à base de gelificantes (substâncias utilizadas para dar textura aos alimentos) que contenham o aditivo INS 425 Goma Konjac (também conhecido como Goma Konjak, Farinha de Konjak, Konnyaku ou Glucomanano de Konjak).

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Na época, o órgão afirmou que esses produtos foram associados a casos de asfixia e morte de crianças no Canadá, nos Estados Unidos e na Ásia, como Taiwan. Segundo a Anvisa, na forma de gel, a Goma Konjac não se dissolve em água quente ou saliva, o que pode causar engasgos graves durante a ingestão.

Os produtos da Konjac Massas MF foram aprovados em 2016 pela Anvisa por ser outro tipo de produto. Desde 2022, a farinha de konjac passou a ser um ingrediente liberado pelo órgão com a finalidade de ser fonte de fibras alimentares em massas alimentícias.

“Como ingrediente em massas alimentícias, a farinha de konjac não traz risco de engasgo ou asfixia devido à apresentação e forma de consumo do produto”, afirmou a Anvisa em nota.

A engenheira de alimentos Adriana Pavesi, professora na área de Compostos Tóxicos em Alimentos na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (FEA-Unicamp), afirma que a aprovação da Anvisa garante que o consumo de produtos feitos com farinha de konjac é seguro.

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“Os principais comitês que realizam avaliação de riscos em âmbito internacional indicam que, nas condições de uso reportadas, o consumo da farinha de konjac não representa uma preocupação à saúde em termos de toxicidade”, completa Adriana.

Processo de criação da Konjac Massa MF levou quatro anos

Depois de se aprofundar nos benefícios do glucomannan, Thamara decidiu adaptar o shirataki para o paladar dos brasileiros. O processo começou em 2012 e só foi finalizado em 2016. Ela conta que o maior desafio foi conseguir a aprovação da Anvisa, já que a farinha de konjac não era um ingrediente liberado na época.

“Apresentamos informações técnicas em artigos científicos e laudos técnicos para comprovar não só as vantagens, mas também a segurança alimentar dos produtos”, explica a empreendedora.

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Além das questões burocráticas, os quatro anos foram importantes para encontrar uma fórmula que não tivesse carboidratos, mas agradasse aos brasileiros. “Se eu trouxesse o shirataki que é consumido na Ásia, não seria algo tão apelativo para o nosso público, que tem uma relação afetiva com a comida”, diz.

"Macarrão" de konjac tem apenas 9 calorias a cada 100 gramas.  Foto: Divulgação/Konjac Massas MF

A adaptação começou com o nome: os produtos da Konjac Massas MF são classificados como Novos Alimentos e Novos Ingredientes, mas ganharam o apelido de “macarrão” devido à aparência similar com as massas feitas de farinha de trigo. A empresa afirma que eles têm sabor neutro e devem ser misturados a molhos e temperos para absorver o sabor desses ingredientes.

Ao ser hidratado, o glucomannan pode ser moldado em qualquer formato. Para agradar a diferentes gostos, a marca investiu em dez cortes, como arroz, lasanha, espaguete e penne, feitos com a mesma base, que além de glucomannan, também leva água e aveia. Os pacotes de 200 gramas, vendidos por R$ 22, têm 18 calorias, oito gramas de fibra, não têm carboidratos, nem açúcar.

O público-alvo são pessoas que buscam um estilo de vida mais saudável ou querem emagrecer, mas a lista de ingredientes reduzida também ajuda a atender clientes veganos, com restrições alimentares como intolerância à lactose ou ao glúten, e doenças como a diabetes.

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Início foi desafiador por desconfiança dos consumidores

Thamara conta que o início foi desafiador, já que os consumidores não entendiam a proposta da marca. “O nosso trabalho era educar os brasileiros, que nunca tinham ouvido falar desses produtos. Mais do que conhecer a empresa, eles precisavam entender a utilização e o objetivo do alimento”, afirma.

Para ajudar na popularização da Konjac Massas MF, a paraibana investiu em pontos de vendas físicos, como mercados, empórios, hortifrútis, padarias, lojas de produtos naturais, clínicas de estética e farmácias. Depois de quase dez anos, as vendas presenciais ainda são a maior fonte de faturamento da empresa.

Há dois anos, Thamara começou a investir nos canais digitais. Além do site próprio, os produtos da marca também estão disponíveis em marketplaces, como Amazon e Mercado Livre.

“O online nos permite chegar mais rápido a consumidores de qualquer região. Mas infelizmente a logística ainda é um problema no Brasil, porque você depende de players do mercado”, pontua.

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Parcerias com influenciadores digitais também foram parte da estratégia para popularizar os diferenciais da empresa. Nos primeiros meses, Thamara enviava os produtos de graça para personalidades que tinham alguma relação com o mercado de bem-estar, de médicos e nutricionistas a celebridades.

Ela explica que é importante escolher perfis que tenham a confiança do público-alvo e que consigam inserir o alimento na rotina de forma natural. “Não faz sentido contratar alguém que só vai mostrar a marca porque está sendo pago. Nosso foco é trabalhar com influenciadores que transmitam o nosso conceito”, diz.

O maior objetivo da Konjac Massas MF ainda é se tornar conhecida no território nacional, mas a ideia de franquias voltadas para a alimentação saudável fora de casa já está em desenvolvimento.

Thamara explica que a intenção é conquistar as pessoas que evitam comer fora de casa, seja porque não querem sair da dieta ou porque têm restrições alimentares, mas que também não gostam de cozinhar.

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“Já recebi propostas de investidores, mas até então não foi necessário. Mas temos um projeto grande, que pode contar com aportes de grupos estratégicos para potencializar o crescimento”, conclui.

A empresa não divulgou seu faturamento.

Avaliação dos clientes

A Konjac Massas MF recebeu uma classificação média de 1 de 5 estrelas no Google, com 3 avaliações até a publicação desta matéria. Os comentários negativos abordam problemas com a entrega.

Os autores das notas concedidas não podem ser verificados. Eventualmente, avaliações positivas ou negativas podem ser uma ação a favor ou contra a empresa.

Já no Reclame Aqui, a marca tem uma reputação classificada como regular, com nota média de 6,7 de 10 nos últimos 12 meses e 29 reclamações registradas no período. Novamente, a maior parte dos comentários fala sobre problemas com a entrega.

Mercado tem interesse em alimentação saudável, diz especialista

A consultora de negócios do Sebrae-SP Patrícia Peceguini afirma que investir em um negócio no ramo de alimentação saudável é responder a uma demanda dos consumidores. “As pessoas têm buscado por um estilo de vida que traga uma longevidade maior, bem-estar e qualidade de vida”, diz.

Ela aponta também que é possível escolher nichos menores e atender a públicos com exigências específicas, como celíacos e intolerantes à lactose.

A Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil estima que 2 milhões de brasileiros sejam intolerantes ao glúten e um estudo do laboratório Genera mostra que 51% da população no Brasil tem tendência à intolerância à lactose.

Tanto em negócios focados em pessoas que querem emagrecer quanto nos dedicados às restrições alimentares, o empreendedor precisa estudar os desejos dos clientes.

Patrícia explica que essa pesquisa pode ser feita com a ajuda de estudos, dados de associações, profissionais de saúde, como médicos e nutricionistas, e até redes sociais.

“A marca tem que entender a carência dos consumidores e o que a concorrência está deixando de atender. Mas não é só seguir as exigências, é preciso encantar o paladar das pessoas”, analisa.

É importante pontuar que essas consultas não acabam depois que o negócio for aberto. O que muda é que, em vez de entender as necessidades, a empresa passa a acompanhar as novidades e o que os clientes pensam sobre elas. Esse monitoramento é feito no dia a dia, com o feedback de consumidores, e em eventos e feiras do setor.

“A melhor forma de conhecer o público-alvo é conversar sempre com os clientes”, conclui Patrícia.

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