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O jogo da democracia no Brasil e no mundo

A conversa que virou briga de rua

Desconfie do governo que diz que a solução para o país é destruir o outro lado, seja de esquerda ou de direita

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Por João Gabriel de Lima
Atualização:

Por que não conseguimos mais conversar sobre nosso país? Em que momento o debate político desandou em briga de rua? Essas perguntas provocativas conduzem O Diálogo Possível, oitavo livro do ensaísta Francisco Bosco. Dado que nenhum problema complexo tem solução simples, são múltiplas as respostas para as questões levantadas na obra.

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“Vivemos uma época em que, mais que discutir assuntos seriamente, queremos pertencer a uma tribo política”, diz Bosco, entrevistado no minipodcast da semana. “As pessoas preferem lacrar a debater. É mais fácil. É só compartilhar os memes certos e os autores certos, mesmo que as citações sejam mentirosas.”

Na era das redes – “com as quais conviveremos ainda por muito tempo”, segundo Bosco – os significados das diversas posições políticas se perderam. Dependendo de quem usa as palavras, “liberal” ou “socialista” podem virar xingamentos – quando, na verdade, são apenas maneiras diferentes de promover inclusão social.

Os brasileiros, segundo o autor, também perderam conexão com manifestações culturais que nos faziam sentir orgulho do País. Numa nação cuja história se alicerça em racismo e exclusão, a música popular e a seleção de futebol nos trazem a imagem do Brasil que gostaríamos de ser – mais multicultural e justo.

Desapareceu também a unanimidade em relação à grande conquista recente dos brasileiros: a democracia. Há dez anos era impensável que uma parcela da população defendesse abertamente governos autoritários. Hoje convivemos com saudosistas da ditadura.

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O que fazer? Promover uma discussão serena e lastreada em fatos pode ser um começo. Depreende-se também do livro que recuperar o significado das posições políticas, além de algum orgulho da brasilidade, podem nos colocar no caminho de um debate mais maduro.

Palácio do Planalto, em Brasília; recuperar o significado das posições políticas pode nos colocar no caminho de um debate mais maduro, aponta o livro  Foto: Marcello Camargo/Agência Brasil

O Diálogo Possível, por fim, toca num ponto fundamental. Quando um governo de esquerda incorpora ideias de direita, ou vice-versa, os resultados para o país costumam ser melhores. Quando tal acontece, é porque as políticas públicas são fruto de um debate, e não da aniquilação de um lado por parte do outro.

Isso ocorreu entre nós recentemente, quando uma combinação entre responsabilidade fiscal e políticas de inclusão social fizeram com que o país desse um salto. Construiu-se, a partir de algum diálogo, ainda que precário, uma visão de Brasil.

Desconfie de um governo que diz que a solução para o país é destruir outro lado, seja ele de direita ou de esquerda. Governantes que confundem política com aniquilação não destroem apenas os oponentes. Acabam por destruir a própria democracia – e, de quebra, o país.

Para saber mais

Mini-podcast com Francisco Bosco

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Link para o livro O Diálogo Possível

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