A absolvição de Renan Calheiros (PMDB-AL) garantida por seis abstenções não será capaz de tirar o Senado da crise em que mergulhou há quase quatro meses e ainda cria um novo contencioso entre oposição e governo. Os senadores oposicionistas prometem obstruir votações de interesse do governo, como a da prorrogação da CPMF, impedindo o avanço político da agenda do país, já prejudicada pela crise do caso Renan. Os 40 votos favoráveis à absolvição não deram a Renan o conforto da vitória. O placar não representou maioria pela não condenação e foram as abstenções que garantiram a continuidade de seu mandato. Para se reerguer, o peemedebista tentará provar que ainda reúne musculatura política. Mais, deverá mostrar que é capaz de enfrentar, e vencer, as outras três acusações de irregularidades que pesam contra ele na Casa. "Viveremos esse calvário por semanas ou meses porque foi esse o desejo do Senado no dia de hoje em sua maioria", previu o senador Tião Viana (PT-AC), primeiro vice-presidente da Casa. Uma hora após deixar o Senado com a segurança de seu mandato, Renan Calheiros declarou já ter começado articulações para retomar os trabalhos do Senado. "Não guardo mágoa nem ressentimentos, o único sentimento que me move é o do entendimento e do diálogo (...) Já comecei a procurar os líderes e os presidentes de partidos para prosseguirmos na agenda legislativa que de fato interessa ao país, à população", disse ele por meio de nota. O placar da mais polêmica votação do Senado nos últimos anos surpreendeu a maior parte de seus representantes. Apenas o mapa de Renan, compartilhado nos últimos dias com os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Roseana Sarney (PMDB-MA), apostava nas abstenções para sobreviver. "A abstenção reflete que, em um processo que dura em torno de 120 dias, seis (senadores) ainda se acham no direito de dizer que não têm convicção. Eu acho que isso aí não é bom para a imagem da Casa", avaliou Tião Viana (PT-AC). Num sinal de divisão clara do plenário, nenhum lado obteve maioria absoluta, 41 votos. A oposição conquistou 35 votos, acusou o PT de salvar o aliado, mas também admitiu traições. "Foram seis abstenções. Seis petistas disseram que votariam com a gente. O PT salvou a pele do Renan", atacou o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). "Nosso partido pode ter ajudado, sim. Em voto secreto, todo mundo se esconde", completou. O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) afirmou ter sido um dos que se absteve, alegando que era favorável ao adiamento da votação por falta de conclusão das denúncias. RENÚNCIA Apesar da avaliação geral de que Renan saiu desse teste mais forte do que nos últimos dias, os apelos para que ele deixe a presidência recomeçaram minutos após o fim da sessão. A hipótese é considerada até por aliados, que temem ser atingidos pelos tiros dados em Renan. Alguns colegas já aconselharam o parlamentar a pedir licença do cargo para baixar a poeira, mas ele resiste. Mesmo assim, tucanos chegaram a concordar com a tese de aliados do peemedebista de que as outras representações contra Renan ficaram automaticamente enfraquecidas com a decisão desta quarta-feira. "Não adianta vender a falsa imagem de que nas próximas representações ele será cassado", argumentou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). O fim do voto secreto pautará o Senado a partir desta quarta-feira. Senadores que criticaram o modelo, sobretudo da oposição, votaram contra uma proposta nesse sentido há apenas quatro anos. Agora, sob pressão, terão de reavaliar a matéria. Ninguém, no entanto, aposta numa definição antes de um cenário mais nítido sobre o futuro de Renan.