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Análise: Três lições sobre a crise diplomática causada por Eduardo com a China

Em nossa filhocracia, existe uma confusão permanente entre o que é do governo e o que é do parlamento

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Por Guilherme Casarões

Poucas horas depois de duas importantes coletivas do governo sobre o novo coronavírus, Eduardo Bolsonaro achou que seria uma boa ideia começar uma crise diplomática com o governo chinês.

O deputado Eduardo Bolsonaro no plenário da Câmara, em Brasília Foto: Gabriela Bilo/Estadão

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Afeito à verborragia virtual, o deputado comparou a resposta chinesa à tragédia de Chernobyl, na antiga União Soviética, e culpou o Partido Comunista Chinês pelo alastramento da doença.

Trata-se de versão mais branda de uma teoria conspiratória que há tempos circula na seita olavista e que se alastrou recentemente: a China teria fabricado o vírus para destruir e subjugar as economias ocidentais.

Contudo, uma vez difundida pelo filho predileto de Jair Bolsonaro e presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, a acusação assume contornos oficiais.

Não surpreende que a reação chinesa tenha sido rápida. No próprio Twitter, tanto Embaixada quanto embaixador da China em Brasília repreenderam duramente o deputado, acusando-o de reproduzir a cantilena trumpista.

De fato, Trump vem usando a expressão “vírus chinês” para insuflar o antagonismo contra a China em meio a uma guerra comercial e tecnológica.

Mas se, nos EUA, a cortina de fumaça tem funções geopolíticas, no caso brasileiro ela vem mascarar a incompetência do governo em lidar, de maneira responsável e coesa, com a crise de saúde pública que se avizinha.

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O risco de um desentendimento maior com a China, nosso principal parceiro comercial, fez com que a bancada ruralista, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia e até mesmo o vice-presidente Hamilton Mourão condenassem a fala do “zero-três”.

Contrariado, até o olavista Ernesto Araújo teve que se posicionar. Reiterou que Eduardo não fala em nome do governo e exigiu um pedido de desculpas do embaixador – que dificilmente acontecerá, pois não foi ele que começou a briga.

O episódio nos deixa três lições importantes. A primeira é que, em nossa filhocracia, existe uma confusão permanente entre o que é do governo e o que é do parlamento, estimulada pelo próprio presidente.

A segunda é que, a exemplo do que vimos nas rusgas com França e Alemanha, criar inimigos externos para desviar o foco de problemas domésticos é sempre um risco enorme, pois os desdobramentos são imprevisíveis.

Por fim, mas não menos importante, é hora de deixarmos os adultos governarem. Em se tratando de política externa, de preferência longe das redes sociais.

* cientista político e professor da FGV-EAESP

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