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Assassinato de petista no Paraná reforça receio de violência na campanha eleitoral

Guarda foi morto a tiros durante sua festa de aniversário por apoiador de Bolsonaro, segundo a polícia; presidenciáveis e autoridades manifestaram preocupação com escalada da tensão

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Foto do author Davi Medeiros
Por Davi Medeiros
Atualização:

O assassinato de um guarda municipal de Foz do Iguaçu (PR) no fim da noite de sábado, durante sua festa de aniversário de 50 anos, ampliou o temor de violência nas eleições deste ano. Marcelo Arruda era filiado ao PT e foi candidato a vice-prefeito da cidade paranaense em 2020. Conforme o boletim de ocorrência registrado na Polícia Civil, ele foi morto a tiros por Jorge José da Rocha Guaranho, agente penitenciário federal e apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL). Arruda, segundo o registro policial, revidou e disparou contra o agressor – que até a noite deste domingo permanecia internado em estado grave. Parte da troca de tiros foi registrada por uma câmera de segurança.

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Presidenciáveis e autoridades dos três Poderes manifestaram preocupação com uma possível escalada da tensão nas eleições deste ano e condenaram a violência durante a pré-campanha, que terá início oficialmente em agosto.

A festa de aniversário de Arruda, na sede da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu, estava decorada com símbolos do PT e imagens do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com o boletim, Guaranho, que era desconhecido dos convidados, havia interrompido a comemoração e ameaçado os presentes com uma arma na mão momentos antes do crime, por volta de 23h20.

O guarda civil Marcelo Arruda, de Foz do Iguaçu (PR), foi assassinado durante festa de aniversário com tema inspirado no PT Foto: Reprodução

Ele teria chegado ao local em um carro branco, acompanhado de uma mulher com uma criança no colo. Ao descer do veículo, se dirigiu aos presentes dizendo aos gritos: “Aqui é Bolsonaro”, conforme relato descrito na ocorrência.

Guaranho deixou o local e 20 minutos depois retornou sozinho. Foi recebido por Arruda e pela esposa, a policial civil Pamela Suellen Silva. O casal se identificou como agentes da segurança pública. O guarda municipal sacou a arma ao mostrar o distintivo. Neste momento, conforme o registro policial, Guaranho efetuou os dois primeiros disparos, acertando a vítima.

Imagens de uma câmera de segurança mostram quando Arruda, mesmo ferido e já caído, dispara contra o agente penitenciário. A Polícia Civil do Paraná chegou a declarar que Guaranho também havia morrido, mas a informação foi corrigida na noite de domingo.

A repercussão do episódio movimentou grande parte do mundo político em um contexto de disputa polarizada e de acirrada tensão entre petistas e bolsonaristas. Lula declarou solidariedade aos familiares e amigos de Arruda e disse que Guaranho foi influenciado pelo “discurso de ódio estimulado por um presidente irresponsável”.

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Horas antes do fato em Foz do Iguaçu, porém, o próprio Lula gerou polêmica por fazer um agradecimento público, durante ato em Diadema (SP), ao ex-vereador Manoel Eduardo Marinho, o Maninho do PT, preso em maio de 2018 após agredir um manifestante na porta do ex-presidente, na capital paulista.

Maninho foi denunciado por tentativa de homicídio. Ele empurrou o empresário Carlos Alberto Bettoni contra um caminhão no dia em que o então juiz Sérgio Moro decretou a prisão de Lula, em abril daquele ano. Na ação, Bettoni bateu a cabeça no para-choque do veículo e teve traumatismo craniano. Maninho do PT ficou preso por sete meses até obter um habeas corpus.

Na noite deste domingo ao se manifestar sobre o crime em Foz do Iguaçu, Bolsonaro pediu “que as autoridades apurem seriamente o ocorrido e tomem todas as providências cabíveis”. O presidente reproduziu mensagens de 2018, nas quais diz dispensar apoio de quem usa da violência contra os opositores, mas acusa a esquerda de historicamente recorrer a essa prática – na campanha daquele ano, Bolsonaro foi alvo de uma facada. Ele ainda cobrou providência “contra caluniadores que agem como urubus para tentar” prejudicá-lo “24 hora por dia”.

O presidente é constantemente criticado por estimular o clima de confronto no País, seja por questionamento às urnas eletrônicas e a instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF) ou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou por declarações de hostilidade aos adversários políticos. No sábado, por exemplo, voltou a dizer que a campanha será uma “guerra do bem contra o mal”.

‘TRAGÉDIA’

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Outros presidenciáveis também se manifestaram. O pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, disse que o ódio político precisa “ser contido para evitar que tenhamos uma tragédia de proporções gigantescas”.

Simone Tebet, pré-candidata à Presidência pelo MDB, mostrou preocupação com o acirramento da polarização política no País. “Esse tipo de situação escancara de forma cruel e dramática o quão inaceitável é o acirramento da polarização política que avança sobre o Brasil. Esse tipo de conflito nos ameaça enormemente como sociedade.”

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, tomou o episódio como exemplo para condenar “a intolerância, a violência e o ódio” por motivação eleitoral. “São inimigos da democracia e do desenvolvimento do Brasil. O respeito à livre escolha de cada um dos mais de 150 milhões de eleitores é sagrado e deve ser defendido por todas as autoridades no âmbito dos três Poderes”.

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O presidente do Senado e do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD), disse que o assassinato em Foz do Iguaçu é a “materialização da intolerância”. / COLABOROU RUBENS ANATER

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