Avião da Iberia desviou de tempestade na mesma rota do AF 447

Vôo Rio-Madri partiu 7 min após avião da Air France; especialista acha cedo para dizer se AF 447 foi vítima do mau tempo.

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Por Anelise Infante

Antes de desaparecer dos radares, o Airbus 330-200 da Air France foi acompanhado de perto por um avião da companhia espanhola Iberia, que desviou de seu trajeto original para evitar uma forte turbulência. O voo IB6024, que fazia a rota Rio-Madri, guardava uma distância de segurança de dez minutos atrás do avião francês e, segundo relatório da companhia aérea espanhola, seu comandante decidiu "alterar o programa de voo com desvio de 30 milhas a leste, evitando a turbulência e a forte descarga elétrica". De acordo com a assessoria de imprensa da Iberia, o avião espanholsaiu do Rio sete minutos depois do AF447, a 80 milhas da aeronave daAir France. Avisado das circunstâncias meteorológicas que encontrariadurante o vôo, o piloto soliciou mais combustível, um procedimento que a Ibéria disse se tratar de "uma medida padrão". "Todos os voos seguem este procedimento. Os comandantesrecebem informação precisa sobre todos os parâmetros: número depassageiros, peso da carga, combustível disponível, plano de rota econdições meteorológicas. Em função disso tomam decisões durante o voo." Segundo a companhia espanhola, "a uma altitude de cruzeiro de 35 mil pés, a aeronaveda Iberia guardou uma distância de segurança de dez minutos, monitoradapelo TCAS (Traffic Collision Avoidance System, um sistema que controlaas 'estradas aéreas' impedindo um choque entre aviões)". Quando percebeu a área de turbulência à sua frente,o comandante do IB6024 desviou da rota e não viu mais sinais do AF447em seu radar. Incógnita Para um especialista ouvido pela BBC Brasil, ainda não é possíveldeterminar se o avião da Air France foi vítima das más condiçõesclimáticas e, se foi, por que não desviou a tempo de evitá-las. "Aeronavescomo este Airbus são dotadas de um radar capaz de detectar tempestadesna rota, e a tripulação também conta com a ajuda das informaçõesfornecidas pelos controladores de vôo", explicou o engenheiroWashington Yotto Ochieng, especialista em sistemasde navegação e professor do Imperial College, em Londres. "Esses equipamentos são muito confiáveis e resistentes, e são projetados tendo em mente condições meteorológicas severas." Poucoantes de seu desaparecimento, o avião da Air France enviou sinaisautomáticos de falha no sistema elétrico. O engenheiro considera quepode ter havido uma pane no radar meteorológico, ou ainda um erro nareação da tripulação diante de uma situação de emergência. "Vamosdemorar para saber o que realmente o ocorreu. Mas é possível que esteseja um caso de uma combinação catastrófica de eventos que pode terlevado o avião a se desintegrar no ar." Comunicação O relatório da Ibéria destaca que a cabine de comando do avião espanhol "acompanhou pelo sistema de frequencia de rádio as intensas tentativas dos controladores aéreos brasileiros para estabelecer comunicação com o avião francês". Ainda segundo este informe, o piloto espanhol não recebeu nenhum pedido de ajuda na frequencia automática de emergência.Ao entrar no espaço aéreo do Senegal, o comandante da Iberia disse que voltou a ouvir chamadas de controladores aéreos tentando fazer contato com o AF447."As tentativas de comunicação eram repetidas e todos os que estávamos no ar naquele momento notamos que o AF447 não respondia", afirmou o piloto. Ele diz que não imaginou "qualquer hipótese negativa (para o avião francês) porque o IB6024 completou o trajeto com normalidade e sem problemas". *Colaborou a redação da BBC Brasil em Londres. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.