O ex-ministro José Carlos Dias afirmou durante o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal que o Banco Rural foi "vítima da sua própria transparência". Ele defende Kátia Rabello, ex-presidente da instituição financeira. Filha do fundador, ela ainda é acionista do Rural.
Dias afirma que foi devido à atuação do Rural que se foi possível identificar alguns dos sacadores do esquema. "O Banco Rural foi vítima da sua própria transparência. Todos esses documentos que indicam quais são os recebedores estão absolutamente presentes. A direção do banco jamais permitira a ocultação". Diz que a identificação dos sacadores foi entregue à Justiça espontaneamente.
Ele afirmou que não se pode acusar a direção do banco de lavagem de dinheiro porque o recurso tinha origem lícita, não precisando ser "esquentado". "A denúncia descreve uma operação de esfriamento de dinheiro", disse Dias destacando ser a partir do saque que existem questionamentos sobre a aplicação dos recursos. Afirmou que as movimentações acima de R$ 100 mil foram comunicados ao Coaf e foram seguidas as normas do Banco Central na época.
Dias negou ainda que a cliente integrasse uma quadrilha. Afirmou que o interesse do Rural no levantação extrajudicial do banco Mercantil de Pernambuco era lícito e destacou que essa ação ocorreu em março deste ano. Aproveitou para questionar a afirmação do procurador Roberto Gurgel de que o banco poderia lucrar R$ 1 bilhão com a transação dizendo que o benefício aferido em março foi de R$ 96 milhões, o que, segundo ele, seria inferior aos R$ 32 milhões emprestados às agências de Marcos Valério e ao PT em valores corrigidos.
Para tentar humanizar sua cliente, definiu Kátia como uma artista, sem vocação para a administração financeira. "Ela é uma bailarina, tinha uma escola de dança e dava aula para crianças. Essa era uma paixão da vida dela, é uma artista". Afirmou que ela só entrou na administração do Rural após a morte de uma irmã. Disse ainda que quando exercia a presidência confiava a parte operacional a José Augusto Dumont, então presidente, que faleceu em 2004.