BRASÍLIA – A confraternização de fim de ano do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com 39 ministros, nesta sexta-feira, 20, no Palácio da Alvorada, também teve cobranças, estocadas e puxões de orelha. Nas rodas de conversa o assunto era a dança das cadeiras prevista para o início de 2025. Diante dessa expectativa, todos notaram quando Lula fez reparos aos ministros Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência) e Nísia Trindade (Saúde).
Em tom bem-humorado, o presidente disse primeiro que não via há algum tempo Macêdo. Depois, reparou que ele estava queimado “de tanto pegar sol na praia”. Como o nome do titular da Secretaria-Geral da Presidência, que é natural de Aracaju (SE), vive aparecendo em bolsas de apostas sobre a reforma ministerial, a indireta despertou a atenção de seus colegas.
“Márcio, eu preciso que você faça acontecer a agenda social do G-20″, disse o presidente, de acordo com três participantes do encontro, mostrando preocupação com o andamento dessa pauta.
Para a ministra da Saúde sobrou a cobrança pela entrega do programa Mais Acesso a Especialistas. Apesar de ter sido lançado em abril, na prática o programa que amplia a oferta de consultas, exames e cirurgias na rede pública ainda não funciona direito. “Nísia, eu não me canso de pedir isso para você”, afirmou Lula.
O Ministério da Saúde é alvo de cobiça do Centrão. Cotado para o lugar de Paulo Pimenta na Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), o publicitário Sidônio Palmeira – marqueteiro da campanha de Lula, em 2022 – participou da confraternização.
O presidente reclamou ali do fato de não ter tido um avião disponível na noite do último dia 9, quando precisou viajar para São Paulo, onde foi internado para uma cirurgia de emergência. Na operação, os médicos drenaram um hematoma provocado por hemorragia intracraniana, uma consequência da queda sofrida por Lula em outubro.
O avião presidencial se encontrava no Rio e só chegou a Brasília quatro horas depois do chamado. A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, disse estar orgulhosa por cumprir a promessa de trazer “Lula de volta” e concordou com a crítica do marido.
A “bronca” foi entendida como uma estocada no ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que já pediu para deixar o governo. Múcio tem dito há tempos que está cansado, mas Lula pediu a ele, em recente conversa, que fique mais um pouco. Argumentou que ainda não está tudo resolvido com as Forças Armadas.
Lula também solicitou aos ministros que estejam em Brasília no dia 8 de janeiro porque o governo fará um ato para marcar os dois anos dos ataques golpistas na Praça dos Três Poderes.
Embora não tenha citado diretamente o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seus aliados no inquérito do golpe, Lula disse que se sentia feliz pelo fato de a democracia estar forte, “a ponto de um general quatro estrelas ser preso”. Era uma referência a Braga Netto, que foi ministro da Defesa, da Casa Civil e candidato a vice na chapa de Bolsonaro, em 2022.
Ministros tiveram de fazer teste de covid antes do almoço
Antes do discurso no qual destacou ter vencido três vezes a morte – quando passou pela cirurgia no cérebro, ao descobrir um câncer na laringe e durante a volta de uma viagem ao México em que o avião apresentou pane –, Lula circulou entre as mesas redondas onde estavam os convidados. Por orientação dos médicos do presidente, todos tiveram de passar por teste de covid antes do almoço no Alvorada.
Ao chegar perto do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e do ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, Lula quis saber como tinham sido as discussões para a votação do pacote fiscal.
Guimarães respondeu que três deputados do PT haviam votado contra o corte de gastos, além de toda a bancada do PSOL.
“Tem que por esse pessoal na cruz, presidente”, disse o líder do governo. “E o Boulos?”, perguntou Lula. “Também votou contra”, informou o deputado.
Ao menos ali, o presidente nada falou. Mas, enquanto saboreavam peru e bacalhau, ministros do PT que conversavam com o titular da Fazenda, Fernando Haddad, reclamavam do PSOL. Lembravam que o PT havia feito doação de R$ 30 milhões à campanha de Guilherme Boulos no primeiro turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo. No segundo turno foram mais R$ 15 milhões. A vice de Boulos era Marta Suplicy (PT).
O novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, circulava com desenvoltura entre os petistas. Um dos ministros do Centrão comentou com um colega que tinha até pena de Galípolo porque ele não sabia o que o esperava quando os juros começassem a aumentar mais. Foi uma risada só.