Por Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Mateus Coutinho e Fausto Macedo
O lobista Júlio Camargo, delator da Operação Lava Jato que denunciou ter sido pressionado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ) por uma propina de US$ 5 milhões, em 2011, afirmou à Justiça Federal nesta segunda-feira, 31, que se reuniu com o então diretor de Serviços da Petrobrás, Renato Duque, e também com o empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, e com o executivo Márcio Faria, da Odebrecht, para acertar propina relativa a obras no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). O valor combinado, segundo ele, foi de 1% sobre o contrato.
Júlio Camargo depôs como testemunha de acusação no processo em que são acusados o presidente da maior empreiteira do País, Marcelo Bahia Odebrecht, e outros executivos ligados ao grupo. Odebrecht foi preso preventivamente em 19 de junho na Operação Erga Omnes, desdobramento da Lava Jato.
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O lobista e delator disse que as reuniões para ajustar a propina ocorreram a partir de 2005 na sala de Duque na sede da Petrobrás. Ele representava no consórcio contratado diretamente (sem licitação) pela estatal petrolífera a multinacional Toyo Engenering Japão. Também integravam o grupo a Odebrecht e a UTC Engenharia. "Tivemos várias reuniões", afirmou o delator.
Indagado se nessas reuniões é que foi pactuado o pagamento de propinas, Júlio Camargo afirmou. "Sim, foi conversado basicamente na área de Engenharia. Nós três, eu, o dr. Ricardo Pessoa e o dr. Márcio Farias, acertamos o pagamento de uma contribuição de um por cento em propinas."
O SEGUNDO TRECHO DO DEPOIMENTO DE JÚLIO CAMARGO:
Ele disse que os contratos com a Petrobrás seguiam 'uma regra do jogo', tanto na área de Serviços, dirigida por Renato Duque, como na área de Abastecimento, sob presidência de Paulo Roberto Costa.
"Havia o pagamento de um por cento para cada área, Diretoria de Serviços e Diretoria de Abastecimento. Na Diretoria de Serviços para o dr. Renato Duque e dr. Pedro Barusco. Na Diretoria de Abastecimento, dr. Paulo Roberto Costa."
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Segundo Júlio Camargo, quem 'operacionalizava' os pagamentos era o doleiro Alberto Youssef.
A Odebrecht tem reiterado que se manifesta nos autos.No início das investigações, a empreiteira negou taxativamente envolvimento no esquema de propinas na Petrobrás.
Renato Duque, por sua defesa, sempre negou ter recebido propinas.
Pedro Barusco e Paulo Roberto Costa confessaram ter recebido valores no exterior.
O empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, também admitiu a prática de ilícitos e distribuição de recursos, inclusive a políticos.