Um dos maiores desafios das Instituições de Ensino Superior é propiciar um ambiente de ensino e aprendizagem que seja eficiente na articulação dos referenciais teóricos que sustentam o processo de formação, com as exigências e competências que atendam o mundo do trabalho. Nesse contexto, nos deparamos com uma discussão que acontece ao longo de décadas: Como as universidades podem desenvolver um ambiente de aprendizagem que permita a criação de sentidos e significados na articulação da teoria com a prática profissional?
Essa questão tem sido foco de grandes debates há anos e as conclusões sempre apontam para a importância das Instituições de Ensino Superior buscarem maior aproximação e identificarem as reais necessidades das empresas que contratam os alunos. O que parece óbvio, na verdade, ainda não é uma realidade concreta. A maioria das universidades ainda encontra dificuldades para a realização de ações em conjunto com as organizações empresarias dos mais variados segmentos. Essas empresas, em sua maioria altamente especializadas, têm necessidade de conhecimentos. No entanto, a universidade acaba não atendendo a esta demanda.
Há evidências de que a maioria das organizações de grande porte tem realizado projetos para organizarem as suas próprias universidades corporativas. Isso ocorre justamente para dar atenção para a formação de profissionais que venham compor seus quadros funcionais visando atender às demandas em relação à preparação de profissionais especializados em áreas técnicas que a empresa não consegue encontrar no mercado. E, pelo fato de não encontrarem profissionais preparados, preferem elas mesmas organizarem o processo de formação ou até mesmo procuram buscar um profissional já especializado fora do país.
Frente a este cenário, cabe o seguinte questionamento: Como as universidades podem atender às necessidades sinalizadas pelo mundo corporativo?
Em resposta a esta questão, levanto uma reflexão que está intimamente relacionada à empregabilidade. Ao avaliarmos o perfil dos alunos das classes C e D que procuram a formação no Ensino Superior, percebe-se que estes estudantes têm como propósito a realização de um sonho. Para a maioria, a realização desse sonho envolve também a família, visto que muitos desses alunos são o primeiro e único membro da família a ingressar e concluir o Ensino Superior. Parte desta realização vem alinhada ao desejo de mudança social, que está representada pela possibilidade de ter um emprego melhor, como trabalhar em uma grande empresa e, até mesmo, receber uma promoção no seu local de trabalho, tendo em vista que muitos já atuam no mercado de trabalho.
Nesse contexto, cabe à academia ampliar as possibilidades que envolvem a formação do aluno. É notório que a empregabilidade se dá à medida que as universidades consigam atender às inovações e demandas exigidas pelo mercado. As instituições precisam formar profissionais que reúnam competências e habilidades que o qualifiquem para a realização de projetos e ações que atendam com qualidade as especificidades do mercado. Nesta dimensão, cabe à universidade, como instituição formadora de profissionais, ter iniciativas que aproximem o mundo corporativo dos cursos universitários. Esta aproximação poderá propiciar, de fato, a articulação da teoria que embasa a construção do conhecimento com a prática exigida pelo mercado. Além disso, poderá gerar espaços para a iniciação de pesquisas, bem como a construção de ações que gerem inovações no processo de formação, de modo a possibilitar um ciclo de reciprocidade com o objetivo no retorno efetivo para o mercado e, por conseguinte, gerando ações concretas no ensino.
Um projeto totalmente viável e possível de ser realizado, visando ao estreitamento das Instituições de Ensino Superior no relacionamento com o mercado profissional, é a formação de conselhos consultivos dos cursos de Graduação. O ideal é que os conselhos tenham em sua composição profissionais vinculados às empresas de diferentes segmentos e áreas do conhecimento, bem como membros dos conselhos profissionais. O objetivo é promover reflexões e debates sobre questões inerentes ao mercado profissional, visando à atualização de conteúdos emergentes da área, a identificação dos aspectos relevantes na perspectiva de inovação acadêmica e a integração efetiva com o mundo do trabalho.
Outra ação relevante nesta concepção é a organização de um espaço para atendimento e orientação aos alunos durante o processo de formação. Este pode ser identificado como uma área que poderá gerar empregabilidade e relacionamento com o mercado, tendo como intuito principal a orientação do aluno sobre carreira, desenvolvimento pessoal e profissional. Este espaço deverá oferecer atividades que possibilitem um olhar mais abrangente em relação ao processo de formação profissional. No aspecto relacionado à aproximação das empresas, as Instituições de Ensino devem propiciar eventos e projetos em parcerias com as empresas, com o propósito de justamente compreenderem qual conteúdo e que dimensões podem ser aprimoradas para uma formação de profissionais que realmente atendam às exigências do mercado.
Diante deste panorama, os professores atuam como mentores dos seus alunos, mostrando os limites e as possibilidades que a formação oferece e as maneiras como este aluno poderá melhor preparar-se para ocupar um lugar importante no cenário profissional. Esta dinâmica prevê um ensino que provoque no aluno o pensar fora da caixa, bem como deverá estimular professores e gestores na tarefa de ressignificar o ambiente de ensino e aprendizagem.
Considerando o pressuposto de que há um compromisso das universidades na promoção de espaços que propiciem a geração de ideias, o desenvolvimento e a construção de conhecimentos, nesta perspectiva é função da universidade buscar caminhos e desenvolver trilhas que possibilitem reflexões contínuas sobre como tornar o ensino alinhado com as expectativas e demandas que o mundo do trabalho apresenta.
*Vice-Reitora Acadêmica da UNISUAM
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