
O juiz Luiz Antonio Bonat, da 13ª Vara Federal de Curitiba, autorizou a Polícia Federal cumprir mandados de busca e apreensão em dois endereços de Niterói, no Rio de Janeiro, na manhã desta quinta-feira, 21, para aprofundar as investigações referentes a um suposto esquema de pagamento de propina, pela Galvão Engenharia, ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás José Carlos Cosenza e o ex-deputado José Otávio Germano (PP).
A operação desta quinta-feira , 21, é o que restou dos cacos da Lava Jato, extinta após 80 etapas que puseram no chão o maior esquema de corrupção já descoberto no País - entre 2003 e 2014, as principais diretorias da Petrobras foram loteadas por um cartel de empreiteiras, aliadas a políticos, doleiros, lobistas e altos executivos da petrolífera. O rombo bateu em R$ 6 bilhões. Mas a Lava Jato acabou. Sobraram estilhaços.
A ofensiva foi batizada 'Laissez Faire, Laissez Passer' e conta com a participação de um efetivo de 10 policiais federais. Os alvos das buscas são um suposto operador das propinas, Aleksander Silvino dos Santos, e a ex-secretária de Cosenza na Petrobrás, Lúcia Câmara Costa. A PF divulgou dados da missão desta quinta-feira, mas sequer fez menção à Lava Jato. E ao contrário dos tempos de euforia da grande operação, nem entrevista coletiva houve na sede da corporação em Curitiba, base e origem da Operação.
As apurações tem como base a delação de Erton Medeiros Fonsexa, ex-dirigente da Galvão Engenharia. Ele relatou que, entre dezembro de 2011 e março de 2014, a empreiteira teria pago propinas a Cosenza, sucessor de Paulo Roberto Costa alçado ao cargo de diretor de Abastecimento da Petrobrás por influência política de Germano.
Em sua delação, Erton indicou que os pagamentos das propinas teriam sido operacionalizados por Aleksander através de de prestação de serviços fictícios. O colaborador indicou ainda que os pagamentos teriam sido cobrados pela então chefe de gabinete de Germano, Daniela Fraga Maier. Já com relação a Cosenza, as propinas teriam até coberto despesas pessoais, relatou Erton ao Ministério Público Federal.
Analisando as conversas entre o ex-dirigente da Galvão Engenharia e Aleksander, a PF e a Procuradoria apontaram que as mensagens reforçavam a tese de intermediação. Nos diálogos, surgiu o nome de Lúcia Câmara Costa e então os investigadores passaram a suspeitar que a então secretária de Cosenza teria sido favorecida no acerto.
Com base nos indícios levantados ao longo das apurações, o juízo da Lava Jato decretou a quebras de sigilos bancário, fiscal e telemático dos investigados. Com base nas informações, a PF representou ao juízo da 13ª Vara argumentando que os dados 'teriam comprovado suficientemente' que mensalidades de curso superior do filho de Lucia 'foram adimplidas com recursos solicitados em razão do cargo que ocupava'.
Em sua decisão, Bonat indicou que os relatórios das quebras bancárias não teriam indicado a transferência de recursos entre os investigados através do sistema bancário. O juiz registrou ainda que não haveria também indicação de favorecimento por Cosenza em prol da Galvão Engenharia. Nessa linha, o juiz indicou que, na avaliação da PF, as informações colhidas nas quebras de sigilo não eram relevantes para justificar medidas cautelares mais invasivas contra o ex-dirigente da Petrobrás, o ex-deputado e sua ex-chefe de gabinete.
Em outra linha, os investigadores levantaram a hipótese de que Aleksander teria solicitado a Erton propinas a pretexto de influir em atos que pudessem ser praticados por Cosenza, Germano e então chefe de gabinete do ex-deputado. Os investigadores querem verificar se ele repassou recursos a Cosenza, Germano e Daniela 'por meios alheios ao sistema bancário oficial'.
Já ao solicitar as buscas contra Lucia, a PF argumentou que a medida seria necessária para identificar se ela teve outras despesas pagas pelo suposto operador ou se sela teria sido intermediária de recursos destinados a Cosenza.
COM A PALAVRA, OS INVESTIGADOS
A reportagem busca contato com os investigados. O espaço está aberto para manifestações.