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Após primeira denúncia, Ministério Público do Rio desmembra inquérito e segue frentes de investigação contra Flávio

Ministério Público do Rio continua apuração para identificar outros possíveis envolvidos no suposto esquema de desvios de salários de funcionários parlamentares e esclarecer suspeita de lavagem de dinheiro através de loja de chocolates

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Por Rayssa Motta, Pepita Ortega, Fausto Macedo e Paulo Roberto Netto
Atualização:

Com relatórios do Coaf anulados, investigação das rachadinhas fica esvaziada. Foto: Wilton Junior/Estadão - 15/11/2022

Após mais de dois anos de apurações, o Ministério Público do Rio apresentou a primeira denúncia contra o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) no caso das 'rachadinhas'. O filho mais velho do presidente é acusado, ao lado do ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz e de outras 15 pessoas, por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa em um suposto esquema de desvio de salários de funcionários fantasmas durante seu mandato como deputado estadual na Assembleia Legislativa fluminense. 

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Na denúncia de 290 páginas, além de detalhar o histórico da investigação e o modus operandi dos núcleos político, operacional e executivo apontados como integrantes do esquema, a Subprocuradoria-Geral de Justiça de Assuntos Criminais e Direitos Humanos deixa claro, em mais de um momento, que as apurações envolvendo os supostos desvios no gabinete de Flávio Bolsonaro não chegaram ao fim.

Segundo o MP, a primeira parte das imputações foi apresentada à Justiça uma vez que foram reunidos 'elementos de prova suficientes para lastrear a presente denúncia'. Mas, de acordo com os investigadores, o procedimento investigatório criminal 'prosseguirá em autos desmembrados para apurar a prática de outros fatos delituosos e responsabilizar os demais coautores ou partícipes da organização criminosa'.

Trecho da denúncia do Ministério Público do Rio contra o senador Flávio Bolsonaro. Foto: Reprodução/MPRJ

A continuidade das investigações envolve, conforme aponta o Ministério Público na denúncia, a identificação de outros envolvidos no esquema e a suspeita de lavagem de dinheiro através da loja de chocolates mantida por Flávio.

Nesta primeira etapa, o Ministério Público listou, além do casal Flávio e Fernanda Bolsonaro, o chefe de gabinete do senador, Miguel Ângelo Braga Grillo, o ex-assessor Fabrício Queiroz, sua mulher, Márcia Oliveira de Aguiar, e suas filhas Nathália Melo de Queiroz e Evelyn Melo de Queiroz. Além dos familiares, amigos e vizinhos de Queiroz também foram incluídos na denúncia. Veja abaixo a lista completa dos denunciados:

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  • Flávio Bolsonaro;
  • Fernanda Bolsonaro;
  • Fabrício Queiroz;
  • Márcia Oliveira de Aguiar (esposa de Fabrício Queiroz);
  • Nathália Melo de Queiroz (filha de Fabrício Queiroz);
  • Evelyn Melo de Queiroz (filha de Fabrício Queiroz);
  • Wellington Sérvulo Romano da Silva (Policial Militar amigo de Fabrício Queiroz);
  • Agostinho Moraes da Silva (Policial Militar amigo de Fabrício Queiroz);
  • Jorge Luis de Souza (Policial Civil amigo de Fabrício Queiroz);
  • Márcia Cristina Nascimento dos Santos (esposa de um Policial Militar amigo de Fabrício Queiroz);
  • Sheila Coelho de Vasconcellos (foi vizinha de Fabrício Queiroz na Rua Felizardo Gomes);
  • Luiza Souza Paes (foi vizinha de Fabrício Queiroz na Rua Felizardo Gomes);
  • Danielle Mendonça da Costa (ex-esposa do miliciano Adriano Nóbrega);
  • Raimunda Veras Magalhães (mãe do miliciano Adriano Nóbrega);
  • Flávia Regina Thompson da Silva (parente de um Bombeiro Militar amigo de Fabrício Queiroz);
  • Miguel Ângelo Braga Grillo (chefe de gabinete de Flávio Bolsonaro);
  • Glenn Howard Dillard (procurador dos proprietários dos apartamentos vendidos a Flávio em Copacabana).

Organograma explica distribuição das funções entre os 17 denunciados pelo MP do Rio no inquérito das rachadinhas. Foto: Reprodução/MPRJ

Os núcleos investigados deixados de fora da denúncia

No curso do inquérito, o Ministério Público dividiu a suposta organização criminosa que operou as 'rachadinhas' no gabinete de Flávio Bolsonaro em seis núcleos: 1) Fabrício Queiroz, parentes e pessoas ligadas a ele; 2) 'Capitão Adriano', sua mãe e ex-esposa; 3) empresário norte-americano Glenn Howard Dillard e lavagem de dinheiro com imóveis; 4) familiares de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro no Sul fluminense; 5) a loja de chocolates de Flávio Bolsonaro; 6) policial militar Diego Sodré de Castro Ambrósio. Destes, o MP ofereceu denúncia apenas contra os três primeiros.

COM A PALAVRA, OS ADVOGADOS RODRIGO ROCA, LUCIANA PIRES E JULIANA BIEREENBACH, QUE DEFENDEM FLÁVIO BOLSONARO

Após a denúncia, os advogados Rodrigo Roca, Luciana Pires e Juliana Bierrenbach, que defendem o senador Flávio Bolsonaro, divulgaram uma nota classificando as imputações do Ministério Público do Rio como 'crônica macabra e mal engendrada' e afirmando que 'todos os defeitos de forma e de fundo' da denúncia serão pontuados na formalização da defesa.

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"Em função do segredo de Justiça, a defesa está impedida de comentar detalhes, mas garante que a denúncia contra Flávio Bolsonaro é insustentável. Dentre vícios processuais e erros de narrativa e matemáticos, a tese acusatória forjada contra o senador se mostra inviável e não passa de uma crônica macabra e mal engendrada, influenciada por grupos que têm claros interesses políticos e que, agora, tentam voltar ao poder.  A denúncia, com tantos erros e vícios, não deve ser sequer recebida pelo Órgão Especial. Todos os defeitos de forma e de fundo da denúncia serão pontuados e rebatidos em documento próprios e no momento adequado".

COM A PALAVRA, O ADVOGADO PAULO EMÍLIO CATTA PRETA, QUE DEFENDE FABRÍCIO QUEIROZ

Após a denúncia, o advogado Paulo Emílio Catta Preta, que defendeu Fabrício Queiroz, divulgou a seguinte nota:

"A defesa de Fabrício Queiroz tomou conhecimento da notícia do oferecimento de denúncia pelo MPRJ, sem, no entanto, ter tido acesso ao seu conteúdo. Inaugura-se a instância judicial, momento em que será possível exercer o contraditório defensivo, com a impugnação das provas acusatórias e produção de contraprovas que demonstrarão a improcedência das acusações e, logo, a sua inocência".

COM A PALAVRA, OS DEMAIS CITADOS A reportagem busca contato com os demais citados. O espaço está aberto para manifestações (rayssa.motta@estadao.com ou pepita.ortega@estadao.com).

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