O procurador-geral da República, Augusto Aras, afirmou ao Estado entender não haver "nada" que vincule o presidente Jair Bolsonaro à investigação do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson Gomes, em março de 2018. Aras disse que já havia recebido uma notificação sobre a citação ao nome do presidente no caso, mas não viu elementos suficientes e mandou arquivá-la.

"Nos elementos informativos que o procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro encaminhou ao Supremo (Tribunal Federal), que, por sua vez, encaminhou à Procuradoria Geral da República, não há nada que vincule o presidente da República a qualquer evento. Não há nada. A minha assessoria ouviu todos os áudios (relativos aos contatos da portaria do condomínio de Bolsonaro no Rio) e não há nenhuma participação do presidente ou de indício da voz do presidente", afirmou o procurador-geral da República. "O Supremo mandou à Procuradoria, que mandou arquivar", completou.
Em depoimento revelado pelo Jornal Nacional nessa terça-feira, 29, um porteiro do condomínio Vivendas da Barra, onde morava Ronnie Lessa, um dos acusados de matar Marielle, afirmou à Polícia Civil que um homem chamado Élcio entrou no local dizendo que iria à casa 58, onde mora Bolsonaro. Segundo o porteiro, quem teria atendido o interfone foi "seu Jair", que teria autorizado a entrada. Registros da Câmara dos Deputados, no entanto, mostram que Jair Bolsonaro estava em Brasília nesse dia.
Aras afirmou ainda que aceitou o pedido do ministro da Justiça, Sérgio Moro, para apurar se houve "tentativa de envolvimento indevido" do nome do presidente Jair Bolsonaro no caso.
De acordo com o Moro, há uma inconsistência no depoimento do porteiro do Condomínio Vivendas da Barra - onde o presidente morava na época do crime - que 'sugere possível equívoco na investigação conduzida no Rio de Janeiro'.
"Hoje de manhã, o ministro Sérgio Moro apresentou à PGR pedido para apurar o crime em que o presidente da República é vítima. Não havendo notícia de autoria ou coparticipação de pessoa com prerrogativa de foro, sendo o presidente vítima e não investigado ou réu, eu vou encaminhar para a Procuradoria da República do Rio de Janeiro", afirmou o procurador-geral. Segundo Aras, caberá aos procuradores do MPF-RJ e à Polícia Federal investigar se houve irregularidades na investigação.
Para Aras, não há problema em se investigar o depoimento do porteiro, como solicitado por Bolsonaro.