O olhar sobre a corrupção no Brasil piorou em 2018 e atingiu seu nível mais baixo em sete anos. O País caiu nove posições no Índice de Percepção da Corrupção (IPC), ranking produzido pela Transparência Internacional divulgado em Berlim nesta terça-feira, 29. Esta é a terceira queda brasileira consecutiva na medição.
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'novas medidas contra a corrupção'A avaliação do País é a pior desde 2012, quando o indicador mudou sua metodologia e passou a analisar a série histórica.
O Brasil caiu dois pontos - de 37 para 35, na escala de 0 a 100 - em relação a 2017 e viu sua posição no ranking regredir do 96º para o 105º lugar entre as 180 nações avaliadas. Agora, o País está empatado com Argélia, Armênia, Costa do Marfim, Egito, El Salvador, Peru, Timor Leste e Zâmbia. Para a Transparência Internacional, qualquer pontuação abaixo de 50 significa que o país está falhando no combate à corrupção.
O IPC existe desde 1995 e é um índice composto a partir de diferentes indicadores, pesquisas e avaliações de corrupção no setor público realizadas por várias instituições. O ranking considera, a partir das informações disponíveis em cada nação, de três a 13 fontes de dados.
Américas, Brics e G-20
Dentre os 32 países do continente americano no IPC, o Brasil alcançou a 20ª colocação. O País ficou atrás de Argentina, Cuba, Costa Rica e Jamaica. Em 2012, o Brasil estava atrás apenas de 10 países da região.
Em sete anos, o País foi ultrapassado por nações como Jamaica, Suriname, Trinidad e Tobago, Argentina, Guiana, Colômbia e Panamá.
Nas últimas colocações da região estão Haiti e Venezuela. O Canadá, assim como no último ranking, segue na liderança do continente.
Na comparação com os Brics - que reúne as cinco maiores economias emergentes do planeta - o Brasil ficou no penúltimo lugar, à frente apenas da Rússia. A melhor pontuação do grupo foi alcançada pela África do Sul (43), seguida de Índia (41) e China (39).
Entre os países que integram o G-20, além da Rússia, o Brasil superou somente o México (28) e ficou atrás de países como a Arábia Saudita (49).
Liderança escandinava
Em 2018, a Dinamarca alcançou a nota global mais alta e, com 88 pontos, apareceu na liderança do IPC. O país trocou de posições com a Nova Zelândia, que no último ranking estava em primeiro lugar e agora está em segundo, com 87 pontos.
Além da Dinamarca, a Escandinávia conseguiu emplacar quatro países entre os dez com as melhores percepções sobre corrupção: Finlândia e Suécia, com 85 pontos; e Noruega, com 84. Completam o 'top 10': Singapura e Suíça, com 85 pontos; Holanda, com 82; e Canadá e Luxemburgo, com 81.
A nota mais baixa do ranking foi registrada na Somália, seguida de Síria, Sudão do Sul, Iêmen e Coréia do Norte.
Primeira reação é negativa
Para a Transparência Internacional Brasil, o mau desempenho brasileiro não significa que os recentes avanços no combate à corrupção no País, promovidos principalmente pela Operação Lava Jato, não geraram resultados.
A entidade avalia que a sequência de divulgações de escândalos e punições contra corruptos tende a aumentar a percepção de que o problema está piorando no primeiro momento, o que pode ser revertido com a demonstração de comprometimento com a eliminação das causas estruturais dos ilícitos.
"[A Lava Jato] sozinha não será capaz de efetivamente reduzir os níveis de corrupção. Para isso será necessário que o Brasil olhe agora para frente na luta contra a corrupção, atacando as raízes do problema com reformas legais e institucionais", diz Bruno Brandão, diretor executivo da Transparência Internacional - Brasil.
Apenas no Paraná, desde o início da operação a Lava Jato resultou em 215 condenaçõescontra 140 pessoas. As penas, somadas, chegam a 2.036 anos, quatro meses e 20 dias de prisão.
Para Brandão, a nova queda brasileira está relacionada ao desempenho da gestão de Michel Temer nesta área. Segundo o executivo, apesar do tema ser a "prioridade máxima" da população, o que se viu no último governo foi um governo sob acusações de corrupção que resistiu no avanço de políticas públicas na área.
"Isto certamente influenciou a percepção no Brasil e no mundo de que os esforços do país na luta contra a corrupção podem não significar ainda uma mudança de patamar e, pior, pode haver retrocessos", disse o diretor.
'Unidos contra a corrupção'
Para contribuir com o combate à corrupção, a Transparência Internacional e a Fundação Getúlio Vargas coordenaram a produção de um pacote de medidas com 70 propostas legislativas e regulatórias. Lançada em apoio ao pacote no ano passado, a campanha "Unidos contra a corrupção" conseguiu reunir o compromisso de 54 parlamentares eleitos com as medidas.
Entre as sugestões, estão desde projetos de Lei até a criação de um Instituto Nacional de Acesso à Informação.
"Nosso objetivo é que esta seja a semente de uma frente parlamentar anticorrupção, que fará avançar as reformas propostas pela sociedade", explica Nicole Verillo, coordenadora da Transparência Internacional Brasil.