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'Cagalança-geral', diz delegado-escritor em despacho sobre ocorrência em Natal

Aldo Lopes de Araújo, que coleciona prêmios de literatura, criticou autoridades pela detenção de morador de rua que pulou muro de creche em Natal para 'esvaziar o intestino'; "trata-se de um brasileiro em típico estado de necessidade. Ele não tem casa nem privada onde possa "arriar o barro", afirmou

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Por Luiz Vassallo/SÃO PAULO e Teo Cury/BRASÍLIA
Atualização:

Reprodução do documento  

'Cagalança geral, do prefeito ao secretário', afirmou, em despacho, um delegado de Natal, Rio Grande do Norte, quando, em plantão, mandou soltar um morador de rua detido por pular o muro de uma creche para defecar. Em documento curto, porém 'vigoroso', como diz o próprio autor, ele critica as autoridades pela condução 'de um inocente até a delegacia' da Zona Norte da Capital.

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Aldo Lopes de Araújo, que coleciona prêmios de literatura e já foi editor de cultura em um jornal de João Pessoa, Paraíba, era o titular do plantão da 2ª Delegacia da Polícia Civil da Zona Norte de Natal neste domingo, 5, quando a ele chegou o caso. "A ocorrência se deu em um lugar muito carente, e carente de serviços públicos", diz.

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"Parece que ele pediu para cagar, arriar o barro, como se diz no popular, não deixaram e ele pulou o muro", narra no despacho. "Então, o vigilante chamou a guarda municipal, que 'comprou' o que estava ouvindo".

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Aldo afirma que o morador de rua foi 'conduzido à delegacia para resolver o quiprocó'. Ele ouviu os agentes envolvidos e o detido. "Eu disse: Ora, como é que ele pula um muro, ninguém cuida da segurança desse lugar? Como é que alguém pula um muro de uma repartição pública para fazer cocô?".

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O delegado perguntou ao morador de rua: "Você roubou?" E teve resposta negativa. Então, questionou os agentes de segurança: "Você viu ele levar alguma coisa? Ele falou: não, só uma luminária. Perguntei: você viu ele tirando e levando a luminária? Ele [agente]: não. Aí eu fiquei indignado com isso!".

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Em despacho, Aldo Lopes mandou liberar o morador de rua. No documento, ele afirma que 'o conduzido é morador de rua, e não achou lugar melhor para dar de corpo, obrar, grosso modo, esvaziar o intestino grosso, cagar, como se diz no idioma espontâneo do povo'.

"Trata-se de um brasileiro em típico estado de necessidade. Ele não tem casa nem privada onde possa "arriar o barro", como se diz lá em nós", anotou.

Ainda registrou que 'foi trazido a esta delegacia pelo simples fato de ter cagado no intramuros da repartição pública mal cuidada e mal vigiada, quando a cagada maior é dos administradores, a partir do momento em que não cuidam direito da segurança do prédio, um espaço destinado a prestar serviço público'.

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"Trata a presente ocorrência de uma cagalança geral: do prefeito ao secretário, passando pelo diretor do órgão, pelo vigilante de faz-de-conta, pelos membros da Guarda Municipal que conduziram um homem inocente até esta delegacia, e porque não dizer da parte deste delegado, ora fazendo uso de linguagem pouco usual, porém vigorosa, para redigir o presente despacho", escreveu.

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Em entrevista ao Estado, o delegado afirma ver discriminação na condução da ocorrência. "Você vê um preto, pobre, morador de rua, e você leva para a delegacia, é um estigma".

"Eu não vou desmerecer os guardas municipais, que são operadores do direito, mas tem um centro de integração que passa uma mensagem, e, pô, é preciso fazer uma triagem".

Estilo. Policial, jornalista e escritor, Aldo Lopes foi premiado por seus contos em uma obra que homenageia Machado de Assis e venceu o premio Câmara Cascudo de Literatura com seu romance "O Dia dos Cachorros". Também foi editor de um jornal Correio das Artes, do jornal A União, de João Pessoa, na Paraíba.

Ele afirma usar uma linguagem 'típica, literária, porque comunica melhor". A linguagem jurídica é muito chata e pernóstica, e ela não fala a língua do povo, ela está muito distante e fica naqueles palácios mesmo. O povão que fala a nossa língua, essa língua gostosa, essa não está dentro dos gabinetes, e por isso as pessoas estranham quando alguém se expressa dessa forma. Mas, não me arrependo não, faria de novo".

Esta não é a primeira vez que o delegado se utiliza de seu estilo, como ele mesmo diz, 'vigoroso', ao redigir um documento oficial.

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"Um juiz uma vez me mandou um provimento à delegacia, ele deu um prazo de 3 dias para a delegacia, e o cartório dele passou quatro meses. Eu disse: Dr., sua providência, quando o senhor deu um prazo de três dias, ele gastou o tempo que gastou a nau que foi comunicar o descobrimento do Brasil ao rei Dom Manuel, duas vezes o mesmo percurso, e olha que estamos a um quilômetro de distância, um prédio do outro".

COM A PALAVRA, O COMANDANTE GERAL DA GUARDA MUNICIPAL DE NATAL

NOTA DE REPÚDIO

O Comando Geral da Guarda Municipal do Natal (GMN) vem a público repudiar e esclarecer sobre a ocorrência atendida pela guarnição da corporação no domingo (05), a qual é objeto de despacho do Delegado de Polícia Civil, Aldo Lopes de Araújo:

1 - O Boletim de Ocorrência nº J2018018001429 (objeto do despacho) tem na sua identificação o Tipo de FURTO, ou seja, o cidadão foi detido e conduzido pela GMN a Delegacia de Plantão da Zona Norte sob suspeita de ser o autor do furto de dois refletores de LED pertencentes ao Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Marluce Carlos de Melo;

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2- Diante do fato, a GMN deteve o suspeito dentro das instalações do CMEI e o conduziu juntamente com o material do furto a Delegacia de Polícia Civil de Plantão da Zona Norte, seguindo o procedimento legal de entregar o detido a autoridade competente da Polícia Judiciária para que a mesma conduza as investigações referente ao caso, objeto de sua competência institucional;

3- Ressaltamos que o despacho do Delegado de Polícia Civil Aldo Lopes de Araújo agride gratuitamente e sem nenhuma razão a imagem institucional da GMN, corporação essa que ao longo dos seus 27 anos de existência zela pela relação harmônica e parceira entre as instituições de segurança pública, sempre atuando dentro da legalidade, respeito a legislação e aos direitos humanos, na busca de contribuir com construção de cenário social onde a segurança e o direito do cidadão sejam perenes;

4- Por fim, o Comando Geral da GMN reafirma a toda sociedade que cada um de nossos agentes e todo o nosso aparato institucional continua com firmeza pronto e apto a atender o cidadão natalense, zelando pela segurança, pela cidadania e pelo bem comum da nossa sociedade.

Alberfran Câmara Grilo Comandante Geral da Guarda Municipal do Natal Natal-RN, 08 de agosto de 2018

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