Chatbots: com a palavra, o futuro

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Blog do Fausto Macedo

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Por Edmar Araujo
2 min de leitura
Edmar Araujo. Foto: DIVULGAÇÃO

Há 20 anos, quando ingressei na faculdade de jornalismo, a habilidade de redigir textos figurava entre as mais importantes da profissão. À época, o texto e a imagem eram um casal feliz. Tinham lá seus desentendimentos, mas viviam bem e com bastante comunhão. Por vezes, havia momentos quando apenas um estava a contar o que se passara. Sim, uma imagem valia mais do que muitas palavras, mas vocábulos bem posicionados eram capazes de trazer à tona memórias como as feitas por máquinas fotográficas.

Com a revolução das tecnologias, o vídeo e o áudio deixaram de ser quase exclusividade dos profissionais de imprensa e, a uma velocidade assombrosa, passaram a reinar no mundo da comunicação humana. Qualquer pessoa em posse de um smartphone pode gravar um vídeo, registrar a própria voz por meio de aplicativos e compartilhá-la com um sem número de pessoas. Produzir um texto bem escrito sobre determinado assunto parecia, mesmo em tempos de intensa transformação digital, tarefa dos mais letrados e treinados.

Parecia.

O ChatGPT, robô virtual que faz uso de Inteligência Artificial, indica que a produção de textos sobre muitos assuntos será tarefa das mais básicas. A partir do Aprendizado por Máquina (Machine Learning), dados são analisados por computadores, padrões são categorizados, decisões são tomadas e tudo pode ser ocorrer como se por obra humana fosse. A empresa responsável pelo serviço aposta na tendência e já anunciou sua versão paga do serviço, com tempo de espera reduzido e respostas mais ágeis.

Não demorou muito para que uma gigante da tecnologia entrasse no páreo. O Google anunciou o Apprentice Bard, seu chatbot com linguagem natural podendo, inclusive, estar integrado ao famoso buscador de internet.

Mas, esses robôs escrevem sobre tudo?

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Quase tudo, na minha opinião.

Eles não são capazes de relatar em texto um acidente em tempo real, as feições do jogador de futebol que acaba de levantar o troféu de campeão ou como estava vestida a herdeira do trono da Holanda, Catharina-Amalia. Como quaisquer outros, os robôs produtores de texto não possuem consciência, não detém singularidade, só fazem o que foram programados para fazer e não podem desobedecer ao algoritmo. São máquinas com capacidade computacional absurda, mas que dependem de programadores humanos e limitados.

No final dos anos 1990, uma banda virtual parecia prefigurar a revolução 4.0. "Gorilazz" tinha como membros desenhos animados e fez bastante sucesso. Todavia, havia pessoas produzindo tudo nos bastidores, como as vozes e os instrumentos. Atualmente, é possível substituir tudo por inteligência artificial, inclusive o vocalista e as letras das canções. Mas sempre haverá a necessidade de um humano programador. A Era de Ultron ainda está restrita aos filmes da franquia "Os Vingadores".

Trata-se de uma ferramenta com elevado potencial de uso para diversas situações, mas não estamos a falar do fim dos escritores e sim da reinvenção e reposicionamento de muitos postos de trabalho. Matemáticos não desapareceram com o advento da calculadora. Não creio que ocorrerá o mesmo com os profissionais do texto escrito.

Haverá questões éticas muito em breve, especialmente as que envolvam a comprovação de autoria. A quem pertencerá o direito de propriedade intelectual de poema vencedor de prêmio literário ou de música indicada ao Grammy quando ambos forem produzidos por robôs?

Com a palavra, o futuro.

*Edmar Araujo, presidente executivo da Associação das Autoridades de Registro do Brasil (AARB). MBA em Transformação Digital e Futuro dos Negócios, jornalista

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