O enfrentamento à corrupção no Brasil é um tema que permeia todas as esferas do poder público, incluindo o Judiciário, cuja função precípua deveria ser a de garantir a justiça e a segurança jurídica. Recentes denúncias envolvendo o Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) e, em menor grau de exposição, o Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) e outros Tribunais de Justiça, levantam preocupações graves sobre a integridade institucional e os impactos na confiança pública dos jurisdicionados, além de afugentar o investimento estrangeiro no país.
Neste artigo, pretendo abordar os desafios impostos por essas ocorrências sob a ótica da Análise Econômica do Direito e da governança institucional e propor alguns caminhos de enfrentamento do tema.
A Corrupção Judicial e Seus Custos Econômicos e Sociais
O Judiciário, enquanto garantidor da aplicação das normas e mediador de conflitos, é um elemento essencial para a manutenção da ordem econômica de mercado e do Estado de Direito. No entanto, quando magistrados são envolvidos em alegados esquemas de venda de sentenças ou favorecimentos indevidos, os custos gerados extrapolam o caso concreto.
Esses custos são tangíveis e intangíveis. De um lado, há os danos diretos à eficiência do sistema, com decisões judiciais enviesadas que prejudicam agentes econômicos que confiam no devido processo legal. De outro, há a perda de confiança nas instituições, que compromete investimentos, aumenta os custos de transação e promove a insegurança jurídica.
Sob a ótica da teoria econômica, a corrupção judicial gera externalidades negativas que afetam todo o tecido social, agravando desigualdades e corroendo a legitimidade do sistema.
A Estrutura de Incentivos no Sistema Judicial
Um aspecto crucial para entender a ocorrência de corrupção no Judiciário é a análise da estrutura de incentivos dos magistrados e das instituições que os supervisionam. No Brasil, observa-se uma fragilidade nas medidas de controle interno e externo sobre a conduta dos juízes, bem como na transparência das decisões e na responsabilização efetiva de atos ilícitos.
É possível que a excessiva independência funcional dos magistrados, somada à falta de accountability efetiva, fomente comportamentos oportunistas. A autonomia judicial, embora essencial para garantir a imparcialidade, precisa ser equilibrada com mecanismos de fiscalização e punição rigorosos, além do respeito a precedentes das cortes superiores.
Propostas para a Governança Judicial
À luz dos recentes casos recentemente divulgados na mídia de corrupção dentro do aparato judicial, torna-se imperativo propor medidas que reforcem a governança do sistema judicial brasileiro. Entre elas, destaco:
- Transparência Decisória: A divulgação clara e acessível das decisões judiciais e seus fundamentos é essencial para permitir maior escrutínio público. O poder judiciário pode adotar a regra da agenda pública, como existe no Poder Executivo, por exemplo.
- Reforço da Corregedoria e das Ouvidorias: A atuação das corregedorias e das ouvidorias deve ser fortalecida, com maior autonomia e recursos para investigar condutas suspeitas.
- Responsabilização Eficiente: A implementação de punições mais ágeis e exemplares para magistrados envolvidos em corrupção e outras irregularidades, com ampla divulgação desses casos, é necessária para desincentivar práticas ilícitas.
- Educação Ética e de Compliance: Programas de formação contínua que enfatizem a ética e o papel do Judiciário no fortalecimento da democracia e do livre mercado devem ser prioridade nas escolas judiciais.
- Análise Econômica do Direito: A utilização dessa abordagem pode ajudar na criação de mecanismos regulatórios que minimizem custos sociais e promovam maior eficiência institucional.
Conclusão
O Judiciário deve ser uma das âncoras do Estado de Direito. Qualquer desvio de conduta dentro desse pilar ameaça não apenas o sistema jurídico, mas a própria democracia. É hora de enfrentarmos os casos de corrupção no Judiciário com a mesma seriedade com que abordamos outros escândalos de corrupção no Brasil.
Precisamos de reformas profundas que alinhem os incentivos institucionais à integridade, eficiência e transparência. Somente assim será possível resgatar a confiança da sociedade no sistema judicial brasileiro e consolidar um ambiente propício ao desenvolvimento social e econômico.
Este texto reflete única e exclusivamente a opinião do(a) autor(a) e não representa a visão do Instituto Não Aceito Corrupção (Inac). Esta série é uma parceria entre o Blog do Fausto Macedo e o Instituto Não Aceito Corrupção. Os artigos têm publicação periódica