Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Opinião | Contrata-se advogado bom de briga. Remunera-se por êxito

Clientes enchem a boca para descrever seus advogados: meu advogado é ótimo! Ele é bom de briga! Porém, embora acredite que muitas vezes a briga judicial ou arbitral, em si, seja inevitável, raras são as vagas para advogados com uma habilidade específica para negociação

PUBLICIDADE

convidado
Por Thais Kurita

Acredito que essa seria uma chamada muito interessante para uma vaga num escritório de advocacia. Creio que haveria filas, o que seria bem estranho, na verdade.

PUBLICIDADE

Prevejo que surgiriam advogados briguentos, que se estapeariam na sala de espera, só para provar que efetivamente são bons de briga; quem sabe o recrutador está olhando?

Imagino que chegariam advogados envelopados em gel, ternos, camisas e, sob essa camisa, um peito de pombo. Imagine só...

A descrição da vaga deve ter vindo de algum cliente ou de alguma demanda; o escritório provavelmente está lotado de contendas judiciais, então precisa de alguém com um perfil mais agressivo.

Clientes enchem a boca para descrever seus advogados: meu advogado é ótimo! Ele é bom de briga!

Publicidade

Porém, embora acredite que muitas vezes a briga judicial ou arbitral, em si, seja inevitável, raras são as vagas para advogados com uma habilidade específica para negociação. Engraçado isso.

Mas, vejamos, ser bom de briga é conseguir o melhor resultado para o cliente, o que, por diversas, toneladas de vezes, será evitar uma contenda judicial/arbitral.

Um cenário que muitas vezes nos deparamos – e é difícil para o cliente enxergar – é aquele em que o objetivo que as partes estão perseguindo ou querendo evitar é um buraco-negro. Neste exemplo, não há resultados financeiros positivos, senão para os advogados. Qualquer que seja o resultado do processo, ele é sempre financeiramente negativo. Aqui, parece que a insistência na negociação faz muito sentido e o entendimento e consciência dos clientes se faz extremamente necessária, justamente porque implicará, muito provavelmente, na renúncia de ganhos ou de ressarcimentos. Se as partes se compuserem, ainda neste exemplo do buraco-negro, certamente se libertarão de um liame neurótico, economizarão tempo que despenderiam com uma briga que nada lhes traria, bem como resolverão esse problema de forma definitiva. Lembrando: nada ganhariam em termos financeiros, porque esse era o cenário do buraco-negro. E, cenários como estes, existem aos montes.

O papel do advogado bom de briga é o de ponderar sua atuação com os melhores resultados para o cliente, sempre, e investir tempo na fase de negociação toda vez que houver a possibilidade de os ganhos serem maiores que os resultados negativos ou arriscados demais na fase da contenda, que é a terceirização da decisão para as mãos de um juiz ou um árbitro.

E, ao cliente, cabe reconhecer que um advogado não é um cão de ataque.

Publicidade

Convidado deste artigo

Foto do autor Thais Kurita
Thais Kuritasaiba mais

Thais Kurita
Advogada especializada em franchising, sócia do Novoa Prado & Kurita Advogados. Foto: Carla Formanek
Conteúdo

As informações e opiniões formadas neste artigo são de responsabilidade única do autor.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

Comentários

Os comentários são exclusivos para cadastrados.