Muito se esperava das negociações da COP 28 como instrumento de avanço na luta contra as mudanças climáticas. O mundo já enxerga diversas consequências no dia a dia da sociedade. No Brasil, acompanhamos o aumento da temperatura máxima acima da média global, podendo chegar a 3°C de temperatura anual média em algumas regiões.
Segundo dados do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, 93% dos municípios foram, de alguma maneira, afetados por desastres climáticos nas últimas décadas. Estamos falando de 341 bilhões em perdas financeiras, praticamente 4 milhões de pessoas com moradias danificadas ou destruídas por desastres climáticos. Nos últimos anos esses prejuízos têm se intensificado. Além disso, há impactos sociais, principalmente para a população mais pobre e na geração e manutenção dos empregos.
O alarme foi acionado para o poder público e sociedade civil em relação a definição de mudanças efetivas que causem impacto na luta contra o aquecimento global. Contudo, os acordos da Cúpula do Clima, realizada em Dubai, poderiam contar com a iniciativa privada como um instrumento de avanço das negociações.
O documento preliminar do Balanço Global (Global Stocktake, GST) apresentado na COP 28 incluía a eliminação progressiva ou redução do uso de combustíveis fósseis. Chegamos ao final do relatório com um acordo claro sobre a mudança necessária: dar fim ao uso de combustíveis fósseis.
O tema é polêmico e depende de muito debate para que os países não tenham consequências econômicas e sociais. Por isso é tão importante que a academia, a iniciativa privada e o poder público se reúnam para apresentar acordos bem planejados e com capacidade de execução.
Negociações como as realizadas na COP 28 precisam ser pensadas por especialistas e ter um olhar para toda a sociedade, não só a população e o governo, mas também para as oportunidades da iniciativa privada. É preciso chegar a acordos que sejam benéficos para todos os países, mas também tragam retornos positivos para a sociedade civil organizada. Ações como a discussão de termos jurídicos que devem ser utilizados em documentos que definem compromissos públicos precisam ser analisados e decididos em debates com especialistas do setor, com o objetivo de garantir acordos mais proveitosos e funcionais.
Com delegação recorde, a participação do Brasil na conferência foi destaque globalmente. O governo brasileiro apresentou na COP 28 um plano de transição ecológica elaborado a partir de diversas discussões, análises e opiniões da sociedade civil. Quando isso ocorre, melhoramos a qualidade das iniciativas definidas, trazendo perspectivas reais. Além disso, ao envolver especialistas e empresas na construção do texto, cria-se compromissos e engajamento de longo prazo para que todas as medidas sejam executadas de forma eficiente.
Portanto, é preciso aumentar o diálogo entre os setores para trazer insumos tanto para a estruturação da estratégia brasileira para lidar com as mudanças climáticas, quanto nas negociações de acordos entre países, com mais apoio da iniciativa privada para permitir avanços significativos, que realmente façam a diferença para o futuro do planeta.
Além disso, o Brasil, como país que deseja liderar a agenda verde, também necessita do engajamento das empresas brasileiras como protagonistas das mudanças para um mundo mais sustentável.
Nesse sentido, a COP 28 foi vista com bons olhos para a iniciativa privada, que conseguiu definir novos acordos em prol do meio ambiente, apresentar projetos inovadores, patrocínios, parcerias e dialogar para, de fato, assumir compromissos públicos sérios e apresentar resultados. Por outro lado, as negociações para os países continuam com a necessidade de diálogo com especialistas e sociedade civil organizada para apontar ações específicas que sejam realmente eficientes para o cumprimento das metas definidas pela Organização das Nações Unidas até 2030.
Os olhares se voltam agora para 2025, quando acontecerá a COP 30 em Belém do Pará. As expectativas são altas para o protagonismo do Brasil, que pode contribuir mais com as negociações internacionais, por meio de um consenso nacional, construído com o diálogo com a iniciativa privada e a sociedade civil. Esse diálogo pode ser capaz de indicar caminhos novos e inovadores para o limite de aquecimento de 1,5ºC, além de resultar em acordos sérios que irão realmente transformar o futuro do planeta.
*Rafael Tello, diretor de Sustentabilidade da Ambipar Group
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.