A preocupação com as emergências climáticas tem de incluir temas novos, ou pouco explorados nos intensos debates que a comunidade científica e a sociedade civil esclarecida têm travado. Um deles é a questão dos “refugiados climáticos”. A movimentação dos humanos sobre a face da Terra sempre ocorreu. Mas o flagelo das elevadas temperaturas, das inundações, das secas inclementes, tem acelerado esse processo. Essa vertente da Justiça Climática tem de ser introjetada na discussão coletiva.
É preciso pensar no acolhimento desses perseguidos pelos desastres provocados por nossa inclemência em relação à natureza. A ordem do momento é a adaptação, pois já não se mostra suficiente falar em mitigação ou atenuação. Os fenômenos extremos continuarão a ocorrer, cada vez com maior intensidade e frequência e o caos impede que haja absoluta certeza na previsibilidade de sua ocorrência.
Por isso, a recomendação é “estai vigilantes. Não sabeis o dia, nem a hora”. Mas não é perguntar “se” vai acontecer. É tentar adivinhar “quando” vai acontecer.
O bom é que esse alerta já tem surtido efeito em alguns raros espaços. As escolas têm tomado medidas para combater a elevação das temperaturas. Estão recebendo hortas comunitárias, algumas árvores a mais, jardins de chuva. As escolas são um privilegiado refrigério no concreto que já emitiu gases do efeito estufa durante sua produção e que continuará a emitir esse veneno posteriormente. Pois o Brasil desperdiça a excelente oportunidade de seguir os países mais adiantados e de começar a construir com madeira. A madeira é um insumo ecológico, não gera emissões nocivas e não tem o desperdício da construção civil convencional, que chega a jogar fora 34% do material utilizado, tamanho o amadorismo do setor.
As soluções climáticas precisam ser implementadas nas escolas, mas também nos hospitais, nas unidades de saúde, nos centros esportivos, em todas as dependências públicas. Essa é uma prioridade, não só para ampliar os espaços de abrigo necessários a acolher as pessoas que vão necessitar deles, quando suas casas forem atingidas por catástrofes. Mas também para atenuar a temperatura, sempre mais elevada e em crescente aumento, o que a torna uma das principais causas de morte dos humanos.
As hortas escolares constituem outra alternativa interessante. Pois promovem a educação ambiental concreta. Os alunos participam do preparo dos canteiros, da semeadura, acompanham o fenômeno da germinação e do crescimento, ajudam a extirpar ervas daninhas, têm uma aula real do fenômeno de desenvolvimento vegetal. Aprendem muito mais do que em aulas teóricas.
Espaços sombreados com bancos e mesas sob as copas das árvores favorecem o diálogo, criam um clima de harmonia, reduzem a potencialidade de violência e de bullying. O Instituto Alana fez um estudo chamado “O Acesso ao Verde e a Resiliência Climática nas Escolas das Capitais Brasileiras”, com dados do MapBiomas. A conclusão é de que se mostra urgente, em nossa era, “desconcretar” as escolas e adotar soluções baseadas na natureza para reduzir a temperatura, como acesso à água, sombreamento, ventilação cruzada e natural, planejar e reformar o solo para ter o conforto térmico, de acordo com JP Amaral, gerente de Natureza do Instituto. O Alana já contribui para esverdear muitas escolas em São Paulo e deve servir como referência e modelo para que essa cultura se dissemine por todo o Brasil.
Não se pensava em escolher lugares em que estivesse ausente o risco climático, ou imunes a enchentes, deslizamentos, alagamentos. A ausência de uma atilada consciência ecológica permitiu que muitos equívocos e erros fossem cometidos pelas administrações públicas, tudo em detrimento da qualidade de vida e do efetivo aproveitamento do alunado.
É urgente que os gestores municipais se compenetrem de que essa missão é indeclinável, até porque a situação do planeta se agrava a cada momento e a culpa é nossa, indistintamente. De quem possuía responsabilidades explícitas, por desempenho de cargos públicos. De quem permaneceu silente, embora tivesse o dever de exigir compostura e bom uso do dinheiro do povo.
Enfim, é ainda possível adaptar os equipamentos urbanos para acolher os refugiados climáticos, os excluídos do clima, as vítimas preferenciais dos eventos extremos, para com os quais temos uma obrigação irrecusável de obviar o mal maior, que é a perda de vidas. Ajamos, portanto. Cada qual com o seu nível de consciência e de responsabilidade.