Atualizada às 17h33*
A defesa do ex-presidente Luiz Inácio da Silva segue apresentando ao Supremo Tribunal Federal relatórios de análise das mensagens apreendidas na Operação Spoofing - investigação que mirou hackers que invadiram celulares de autoridades como o ex-juiz Sérgio Moro e procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato.
Em uma das mensagens que constam no 13º parecer enviado ao ministro Ricardo Lewandowski na manhã desta segunda, 29, uma procuradora chamada Jerusa escreveu: " Temos que entender que a FT (força-tarefa) ajudou a eleger Bozo (Jair Bolsonaro), e que, se ele atropelar a democracia, a LJ (Lava Jato) será lembrada como apoiadora. Eu, pessoalmente, me preocupo muito com isso".
O texto foi destinado ao procurador Deltan Dallagnol, ex-chefe da hoje extinta força-tarefa, no dia 28 de março de 2019. O contexto da frase seria uma tentativa de 'reaproximação com os jornalistas': "Minha opinião é de que precisamos nos desvincular do Bozo, só assim os jornalistas vão novamente ver a credibilidade e apoiar a LJ".
O contexto da mensagem foi a determinação que partiu de Bolsonaro, em 2019, para que o Ministério da Defesa fizesse as 'comemorações devidas' do aniversário do 31 de março de 1964, quando um golpe militar derrubou o então presidente João Goulart e iniciou um período ditatorial que durou 21 anos.
"Agora, com a 'comemoração da ditadura' (embora não tenha vinculação direta com o combate à corrupção), estamos em silêncio nas redes sociais", disse a procuradora a Deltan. Segundo ela, 'defender a democracia' naquele momento 'seria um bom início de reaproximação com a grande imprensa'.
"Não prezamos a democracia? concordamos, como os defensores de bozo, que ditadura foram os 13 anos de governo PT? a LJ teria se desenvolvido numa ditadura? sei que há uma preocupação com a perda de apoio dos bolsominions, mas eles diminuem a cada dia. o governo perde força, pelos atropelos, recuos e trapalhadas, a cada dia. converse com as pessoas: poucos ainda admitem que votaram no bozo (nao sei como Amoedo nao foi eleito no 1º turno pq ultimamente, so me falam que votaram nele)", seguiu a procuradora.
No relatório enviado ao Supremo, os advogados de Lula destacam ainda diálogos de um chat com participação do ex-presidente da Associação Nacional de Procuradores da República e integrantes da 'força-tarefa' da Lava Jato.
Além disso, os advogados do ex-presidente sustentam que a antiga direção da ANPR consultou o grupo de procuradores de Curitiba antes de emitir notas relacionadas a operações que atingiram Lula, como texto divulgado no dia da condução coercitiva do petista (04.03.2016) e quando foi apresentada denúncia contra o ex-presidente, o dia 'coletiva do PowerPoint (15.09.16).
Na esteira de um pontos tópicos levantados no julgamento que declarou a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro no caso do triplex - a quebra de sigilo que atingiu o escritório dos advogados do presidente - a defesa ainda menciona outros diálogos que teriam relação com os defensores do presidente.
Um das mensagens atribuídas ao procurador Deltan Dallagnol, datada de fevereiro de 2018, registra: "Temos que avaliar esses pagamentos se não são prioridade para o RJ. Tem algum grupo que já estava tratando disso? Alguém já tinha afastado o sigilo do escritório? Se não, é uma oportunidade de ouro pra isso a partir do compartilhamento". Junto do texto, teria sido encaminhada uma matéria intitulada 'Escritório que defende Lula foi quem mais recebeu da Fecomércio do TJ'.
COM A PALAVRA, O PROCURADOR JOSÉ ROBALINHO
À reportagem, o procurador afirmou que assinou como presidente da ANPR 'uma centena de notas' e que, durante os quatro anos que passou na entidade, a dinâmica de produção de notas era a mesma: "um colega é atingido com alguma questão, ele entrava em contato com a ANPR, a nota era preparada, passava pela diretoria e passava de volta para a pessoa - isso era sempre assim, em todos os casos". "Defendemos a Lava Jato a pedido da Lava Jato, quando ela era atacada", completou o procurador. Sobre os diálogos mencionados no chat, o procurador registrou que os grupos foram apagados e que não se recorda.
COM A PALAVRA, A FORÇA-TAREFA DA LAVA JATO
1. Os procedimentos e atos da força-tarefa da Lava Jato sempre seguiram a lei e estiveram embasados em fatos e provas. As supostas mensagens são fruto de atividade criminosa e não tiveram sua autenticidade aferida, sendo passível de edições e adulterações. Reafirmam os procuradores que não reconhecem as supostas mensagens, que foram editadas ou deturpadas para fazer falsas acusações que não têm base na realidade.
2. A força-tarefa Lava Jato em Curitiba sempre ressaltou que sua atuação é técnica e apartidária e está desvinculada de qualquer partido ou candidato a qualquer cargo eletivo ou bandeira ideológica. Conforme diversas manifestações em veículos de imprensa, antes e após as eleições de 2018, os procuradores que integraram a força-tarefa sempre defenderam as instituições e a democracia e se posicionaram contrários ao radicalismo, ao ódio e à violência, ressaltando a importância da liberdade de imprensa, da liberdade de expressão e da transparência e o uso de canais lícitos e democráticos para o exercício da crítica à atuação de autoridades públicas e instituições.
3. Sobre eventual manifestação de procurador da República a respeito de "sofrimento de eleitores de Lula", os procuradores da força-tarefa desconhecem tal afirmação e ressaltam que o procurador mencionado na reportagem não integrava nenhuma das equipes das forças-tarefas e não mantinha grupos de mensagens relativos à Operação Lava Jato com seus integrantes, ressalvada a possibilidade de participação em grupos de discussão amplos, com mais de uma centena de colegas do MPF. Ao apresentar a suposta mensagem como se refletisse pensamento de procuradores da força-tarefa ou do MPF, a defesa do ex-presidente tenta criar artificialmente significados e induzir em erro os ministros do STF e a sociedade.
5. O link enviado pela reportagem diz respeito à quebra de sigilo bancário de escritórios de advocacia supostamente relacionados a desvios no "Sistema S", objeto da na Operação Jabuti, desencadeada no Rio de Janeiro, não tendo qualquer relação com a FT/Curitiba.