
Não é verdade que o Brasil é o único país do globo a realizar eleições informatizadas. Pelo menos 46 nações já utilizam urnas eletrônicas semelhantes às que o Brasil desenvolveu. O dado é do Instituto para Democracia e Assistência Eleitoral Internacional (Idea) - uma organização intergovernamental que apoia democracias sustentáveis em todo o mundo e que conta com 34 países-membros.
Claro que o Brasil é parada obrigatória dos países que têm interesse em adotar tecnologia para seus processos eleitorais. Afinal, não é exagero afirmar que aqui se realiza uma das maiores eleições informatizadas do mundo.
Somos um país de 8,5 km² com um eleitorado de mais de 150 milhões de pessoas, distribuído em mais de 400 mil seções eleitorais. E, há 25 anos, embarcamos no trem da tecnologia, com a Urna Eletrônica Brasileira de protagonista.
É incrível se pensar que por causa da urna, e todo o sistema informatizado, é possível votar e ainda ter o resultado no mesmo dia. A tecnologia trouxe segurança, agilidade e confiabilidade para a votação. Resultado disso: Brasil se tornou vitrine para o mundo no quesito tecnologia eleitoral. Pelo menos, 70 países já vieram ao Brasil conhecer como funciona nosso processo eletrônico de votação. E todos que conhecem se impressionam com tamanha engenharia de votação.
A partir do nosso exemplo, que é bastante complexo e único, os países que de fato querem implementar o voto informatizado se adequam às suas realidades. Podemos citar o México, que desenvolveu urna eletrônica com bastante similaridade à brasileira, mas para seu ecossistema.
Assim foi com a Argentina, que adotou solução inspirada no nosso sistema de votação; o Equador, que realizou alguns projetos pilotos; e o Paraguai, que já utilizou a própria urna brasileira e hoje desenvolve sua solução de votação.
A tecnologia está presente em tudo que fazemos, ela tem se tornado cada vez mais essencial. A grande transformação no âmbito eleitoral foi motivada para solucionar o grave problema impregnado no processo de votação manual brasileiro: a intervenção humana. Onde há a mão do homem, há pelo menos três atributos: lentidão, erros e, no caso do Brasil, fraudes.
Nesse contexto, a tecnologia foi a grande saída para a verdadeira transformação, principalmente em termos de confiabilidade. Nem todos países viveram ou vivem o cenário de recorrentes fraudes que deixamos no passado, por isso, não veem necessidade de investirem na grande transformação que o Brasil realizou. Mas, reafirmo, isso tudo é uma questão de tempo, pois a tecnologia nas eleições é um caminho sem volta.
A digitalização do pleito trouxe atributos como celeridade, integridade e auditabilidade. Mas vai além: permite a humanização e a inclusão de segmentos da sociedade que até então estavam à margem do processo democrático. A partir da urna eletrônica, o voto do analfabeto, deficiente visual, indígena e idoso foram viabilizados.
Considerando também que o paradigma digital viabiliza atributos de segurança como a imutabilidade dos dados, criptografia e mecanismos de irrefutabilidade de autoria, não há qualquer dúvida que o sistema eletrônico é infinitamente mais seguro que o manual.
Por fim, vale ressaltar que a solução eleitoral irá evoluir na mesma velocidade que a tecnologia evolui. Técnicas de uso do paradigma da BlockChain, criptografias homomórficas, criptografias pós-computação quântica, inteligência artificial, dentre outras funcionalidades, certamente estarão presentes na solução em futuro próximo.
Dentre todas as incertezas por se falar de futuro, algo é certo: a preservação dos pilares da segurança, da confiabilidade e da transparência do sistema eletrônico de votação serão mantidos, sustentáculos que sempre garantiram que a vontade do eleitor fosse soberana.
*Giuseppe Janino é matemático, analista de sistema, gestor em Tecnologia da Informação, secretário de TI do TSE por 15 anos, coautor do Projeto da Urna Eletrônica Brasileira, consultor em Eleições Digitais e Identificação Biométrica, autor do livro O Quinto Ninja