Empresas ao redor do mundo têm integrado os princípios de sustentabilidade em seus modelos de negócios, reconhecendo que a sustentabilidade é sinônimo de responsabilidade corporativa e de boa governança. A Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) delineiam um caminho para um desenvolvimento equilibrado, que não comprometa as gerações futuras e promova a justiça social. O compromisso com esses princípios envolve, entre outras coisas, a criação de estruturas de governança que previnam práticas antiéticas e corruptas.
Em um cenário global, programas anticorrupção estruturados incorporam mecanismos que asseguram a prestação de contas e a conformidade com normas éticas. Tais programas frequentemente incluem auditorias rigorosas, controle interno robusto e canais de denúncia efetivos. Estes mecanismos não apenas ajudam a prevenir a fraude e a corrupção, mas também a assegurar que as práticas empresariais estejam alinhadas com os princípios de sustentabilidade.
Nos últimos anos, a intersecção entre sustentabilidade e programas anticorrupção tem se destacado como um ponto crucial na agenda global de governança corporativa e desenvolvimento sustentável. O fenômeno é particularmente relevante no Brasil, um país onde a incidência de fraudes corporativas e escândalos envolvendo corrupção têm sido um obstáculo significativo ao progresso econômico e social.
O Brasil tem feito progressos notáveis na incorporação de princípios de sustentabilidade nas práticas empresariais, refletindo uma crescente conscientização sobre a necessidade de alinhamento com os padrões internacionais. A Lei Anticorrupção (Lei n. 12.846/2013) estabelece diretrizes para a responsabilidade das empresas em relação à corrupção, incentivando a adoção de programas de compliance e práticas de governança que são consonantes com os princípios de sustentabilidade.
A fraude e a corrupção, são fenômenos perniciosos e insidiosos que permeiam os mais variados setores da sociedade, representa uma ameaça significativa à estabilidade econômica e à justiça social; devem ser combatidos. No entanto, um dos maiores desafios é harmonizar o compliance interno das companhias com sua cadeia de valor. O conceito de cadeia de valor, formulado por Michael Porter, refere-se ao conjunto de atividades que uma empresa realiza para agregar valor a seus produtos ou serviços, desde a aquisição de matérias-primas até a entrega final ao consumidor.
A corrupção, ao impactar processos e distorcer resultados, compromete a credibilidade e a confiança que clientes, parceiros e investidores depositam nas organizações. Empresas que mantêm elevados padrões de ética e transparência, mesmo diante de adversidades, conseguem não apenas evitar penalidades legais, mas também fortalecer sua posição no mercado. A reputação positiva, resultante da integridade, atua como um diferencial competitivo, favorecendo a fidelização de clientes e a atração de investimentos.
Neste sentido, o impulsionamento da integridade na cadeia de valor das empresas é crucial para a construção de uma reputação sólida e confiável e contribui para a eficácia das práticas de gestão de riscos. Quando a integridade é um princípio norteador, as empresas são mais propensas a adotar medidas rigorosas para monitorar e mitigar riscos associados à corrupção, como a implementação de auditorias internas, códigos de conduta e treinamentos sobre ética. Esses mecanismos não apenas previnem práticas corruptas, mas também asseguram que qualquer violação identificada seja tratada de forma adequada e tempestiva.
Entretanto, eis a questão que emerge: o desafio da ingerência sobre a cadeia de valor. Isso porque para se ter um compliance eficaz dentro das companhias é necessário um trabalho contínuo de revisitação dos conceitos com conscientização dos diversos atores e processos envolvidos no programa. E o que ocorre quando estendemos esta prática para o fornecedor que já tenha um programa próprio de compliance ou simplesmente está alinhado a outros programas de compliance de outros clientes?
Bom, vale lembrar que a integridade se destaca como um princípio fundamental na gestão da gestão da cadeia de valor das organizações, pois ela não é meramente um valor moral, mas sim um elemento essencial para a eficiência e sustentabilidade das operações empresariais.
Em um ambiente de negócios onde a corrupção é prevalente, empresas podem se ver forçadas a comprometer seus princípios éticos para manter relações comerciais, resultando em um ciclo vicioso de práticas corruptas. As que adotam uma postura firme em relação à integridade, ao contrário, estabelecem parcerias com outras organizações que compartilham valores semelhantes, promovendo um ecossistema empresarial mais saudável e ético. Tais parcerias são fundamentais para a inovação e para a criação de valor mútuo, sustentando a competitividade e o crescimento a longo prazo.
Por outro lado, a ausência de integridade pode ter consequências devastadoras para as empresas. Casos de corrupção frequentemente levam a investigações extensas, penalidades financeiras significativas e danos irreparáveis à imagem corporativa. A instabilidade resultante desses eventos pode afetar não apenas a performance financeira das empresas, mas também sua capacidade de operar em mercados internacionais, onde a conformidade com normas éticas rigorosas é um pré-requisito para a participação.
O combate à corrupção não deve ser visto apenas como uma questão de conformidade legal, mas como uma estratégia integral de gestão de valor. A implementação de práticas éticas robustas e a promoção de uma cultura de integridade devem estar entre as prioridades estratégicas das empresas. É imperativo que as organizações reconheçam que a integridade na cadeia de valor não é um objetivo isolado, mas sim um princípio que permeia todos os aspectos da operação empresarial, desde a escolha de fornecedores até a gestão de recursos humanos.
A integridade desempenha um papel crucial no combate à corrupção, funcionando como um alicerce sobre o qual se constrói a confiança e a eficiência no ambiente de negócios. Empresas que adotam princípios éticos sólidos e promovem a transparência em toda a sua cadeia de valor não apenas protegem sua própria sustentabilidade, mas também contribuem para a criação de um mercado mais justo e equitativo.
Este texto reflete única e exclusivamente a opinião do(a) autor(a) e não representa a visão do Instituto Não Aceito Corrupção (Inac). Esta série é uma parceria entre o Blog do Fausto Macedo e o Instituto Não Aceito Corrupção. Os artigos têm publicação periódica
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