Depois que o padre Júlio Lancellotti, conhecido por suas ações de acolhimento a pessoas em situação de rua em São Paulo, ganhou a imprensa e a opinião pública ao usar uma marreta para remover pedras pontiagudas instaladas pela prefeitura sob um viaduto, o Senado Federal aprovou, nesta quarta-feira, 31, um projeto de lei que proíbe o emprego de técnicas de 'arquitetura hostil' em espaços de uso público e batizou a norma em homenagem ao líder religioso.
O Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil apoia parcialmente o projeto de autoria do senador Fabiano Contarato (Rede-ES). "Concordamos com o mérito, ou seja, somos contra a instalação de equipamentos urbanos como pinos metálicos pontudos e cilindros de concreto nas calçadas para afastar pessoas, principalmente as que estão em situação de rua", diz a presidente do CAU Brasil, arquiteta e urbanista Nadia Somekh.
O CAU Brasil, no entanto, reagiu ao que viu como 'associação entre arquitetura e hostilidade'. "A essência da arquitetura é o acolhimento, então é incongruente falar em arquitetura hostil, foi um termo infeliz cunhado por um jornalista britânico e lamentavelmente adotado no Brasil sem uma visão crítica", opina Nadia.
"O que há é desurbanidade, uma cidade hostil, desumana, como constatamos com as desigualdades crônicas agravadas pela pandemia da covid-19. O correto, a nosso ver, seria então usar o termo "intervenção hostil", mais simples de ser assimilado e difundido pela sociedade", acrescenta a arquiteta.
O Conselho, que acompanhou a tramitação do projeto, não teve sucesso em afastar a expressão 'arquitetura hostil' do texto. A ideia, segundo Nadia, é fazer pressão agora na Câmara dos Deputados, para onde o texto foi encaminhado.
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