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Plano do PCC era sequestrar Moro ‘Tóquio’ no dia do 2º turno das eleições; Leia a decisão da juíza Gabriela Hardt

Em 71 páginas, juíza federal de Curitiba detalhou os passos da investigação a partir do relato de uma testemunha protegida, ex-integrante da facção; ‘Flamengo’ era o código para sequestro; juíza levantou sigilo de decisão depois que presidente Lula apontou ‘armação de Moro’

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Por Pepita Ortega , Rayssa Motta e Fausto Macedo
Atualização:
 


Leia toda a representação da PF

A decisão da juíza Gabriela Hardt que autorizou as prisões

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A decisão que autorizou buscas contra o PCC

Operação Sequaz: audiências de custódia

Ao pedir as diligências cumpridas na Sequaz, a Polícia Federal explicou como os criminosos planejavam o ataque a Moro em meio ao período eleitoral. “Após o recebimento dos dados telefônicos e telemáticos verificamos que as ações para a concretização do ataque ao Senador Sergio Moro iniciaram-se, efetivamente, em setembro do ano passado, justamente no período eleitoral, quando o atual  senador era candidato ao cargo ocupado nos dias de hoje”, ressaltou o delegado Martin Bottario Purper.

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“Vale lembrar que Sergio Moro permaneceu com escolta por 180 dias, o que expirou em 24/10/2021, motivo pelo qual ocorreu uma janela de oportunidade interessante para os criminosos”, seguiu.

Em sua decisão, Gabriela destacou o que considera a motivação do PCC. A juíza citou a ‘notoriedade’ que o hoje senador ganhou à época em que comandou a polêmica Operação Lava Jato e lembrou que, enquanto ministro da Justiça (governo Bolsonaro), Moro restringiu visitas sociais em presídios federais, causando ‘grande dificuldade aos líderes de grupos criminosos para comandar seus negócios ilícitos de dentro da prisão’.

“Desse modo, é possível aventar que um atentado contra a integridade do senador Sergio Moro está sendo preparado pelo Primeiro Comando da Capital - PCC a fim de demonstrar poder e causar temor ao Estado, como forma de supostamente diminuir a alegada opressão sofrida pela facção dentro do Sistema Prisional Federal”, argumentou.

Em momento algum, a decisão de Gabriela cita o promotor de Justiça Lincoln Gakyia, do Ministério Público de São Paulo, como alvo do ousado plano do PCC. Informações divulgadas na quarta-feira, 22, durante as diligências da Sequaz davam conta que o promotor estaria na mira da facção. Há quase 20 anos exercendo o papel de investigador do PCC, Gakyia se diz frequentemente ameaçado pela organização criminosa.

A juíza levantou o sigilo de parte dos autos da Operação Sequaz depois que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou nesta quinta-feira, 23, em ‘armação de Moro’ ao comentar o plano do PCC para  sequestrar o senador.

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Planejamento

A quadrilha usava códigos para planejar a ação contra Moro. Nas mensagens trocadas entre os criminosos, Moro era ‘Tóquio’ e sequestro era ‘Flamengo’. Ação era ‘Fluminense’.

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Os integrantes da organização monitoraram os passos de Moro, levantando uma série de dados pessoais do ex-juiz e sua rotina. Considerando a possibilidade do atentado ainda no segundo turno das eleições, eles chegaram a fazer um detalhamento do local de votação de Moro.

Os investigadores constataram a atuação do PCC em Curitiba há pelo menos seis meses, ‘com presença física dos investigados, veículos, bem como ações voltadas para a prática dos crimes’ sob investigação.

“As provas colhidas indicam que atos criminosos estão efetivamente em andamento na Cidade de Curitiba/PR há pelo menos seis meses, contando com a presença física dos investigados, compra de veículos, aluguel de imóveis e monitoramento de endereços e atividades do senador Sergio Moro”, registra trecho do despacho assinado por Gabriela Hardt.

A quadrilha alugou casas para poder desenrolar o plano contra Moro. Uma das residências usadas pelo grupo fica entre o escritório de advocacia da família de Moro e um antigo apartamento, que é próximo da atual moradia da família.

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Em meio ao planejamento da ação contra Moro, os integrantes da quadrilha também levantaram informações sobre a família do ex-juiz. Os dados eram anotados em um caderno espiral que foi apreendido.

 

Os alvos da Sequaz

A Polícia Federal pediu a prisão de 14 investigados. Gabriela mandou prender 11. Ela anotou que dentre os alvos há 'integrantes do mais alto escalão do PCC' . Veja a lista:

 
 

O principal alvo da Operação Sequaz chama-se Janeferson Aparecido Mariano, que usa os codinomes 'Nefo', 'NF' e 'Dodge'. Ele é apontado pela PF como cabeça do núcleo do PCC encarregado da missão.


Segundo os investigadores, 'Nefo' era 'responsável pela organização, financiamento, planejamento e execução do sequestro' do ex-juiz. Ele é considerado uma liderança da 'Restrita', ala do PCC 'responsável por matar ex-faccionados e também por cometer atos criminosos contra autoridades e agentes públicos'.


 

O braço-direito de 'Nefo' é Claudinei Gomes Carias, o 'Nei' ou 'Carro' ou 'Carro sem moto leguas'. Segundo os investigadores, ele era responsável por 'ações concretas na consecução do plano, com a realização de vigilância e levantamentos in loco sobre as atividades e endereço do senador'.

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A PF indica ainda que 'Nei' cooptou outros investigados, entre eles uma mulher chamada Cintia, que 'se mostrou a responsável pelo aluguel de uma chácara na região de Curitiba, que possivelmente seria usada como cativeiro'.

'Investimento'

Ao mandar prender os responsáveis pelo plano de sequestro de Moro, a juíza Gabriela Hardt destacou  a 'destinação de vultosos recursos financeiros e humanos', indicando que os criminosos 'prestavam contas' sobre os valores dispendidos no planejamento da ação contra 'Tóquio'.

A magistrada viu ‘grande investimento financeiro’ realizado pelo grupo. “Veja-se que em apenas uma prestação de contas analisada pela equipe policial foram descritos gastos que somaram mais de meio milhão de reais”, registrou.

A contabilidade do PCC na trama para pegar Moro: meio milhão de reais. Foto: Reprodução
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