Com grande antecedência, a corrida presidencial de 2022 vem descrevendo fenômeno político atípico até mesmo para tempos de crises combinadas. Bem diferente de 1989, quando 22 disputaram o Planalto, a perspectiva atual é de acentuado afunilamento. Pré-candidatos "naturais" e balões de ensaio vêm sendo excluídos, um após outro, graças ao jeito Bolsonaro de ser e de governar, ao barulho das redes sociais e às mudanças eleitorais.
Nomes conhecidos já jogaram a toalha precocemente e grandes apostas de cúpulas partidárias foram chutadas para escanteio por correligionários. Exemplos? A sempre candidata Marina Silva (Rede) sequer sondou outra chance e João Amoêdo (Novo) nem mais poderá sonhar em relançar-se, pois foi vetado anteontem (28) pelo Diretório Nacional da sigla que fundou e liderou. Esse processo de consolidação tende a se acelerar até novembro.
Outros candidatos que não cristalizaram foi um outsider Luciano Huck, um Luiz Henrique Mandetta (DEM) fortalecido pelos maus números das gestões contra a pandemia da Covid-19 dos seus sucessores no Ministério da Saúde, um João Dória (PSDB) impulsionado pela presteza na oferta de vacinas, um Sérgio Moro (Podemos) investido da vingança contra Lula Livre e desmonte da Lava-Jato, um Biden brasileiro Tasso Jereissati (PSDB)...
A principal razão de um quadro enxuto de opções nas urnas presidenciais se deve agora às regras do jogo, sobretudo após a derrubada do veto de Bolsonaro ao surgimento das federações partidárias, compensando o fim de coligações proporcionais. Assim, duas ou mais legendas ideologicamente próximas poderão se unir para atuar de maneira uniforme em todo o país, sem que seja necessário se fundir. A primeira aliança deverá ser PSB-PCdoB.
Além de dar sobrevida a pequenos partidos, esse arranjo favorece grandes como PT, PSD e PSL, dedicados a compor amplas alianças no próximo pleito. A minirreforma promulgada anteontem pelo presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), consolida em 2022 o modelo criado em 2017, com voto proporcional, com cláusula de desempenho para acessar o fundo partidário e o tempo de rádio e tevê e nenhuma coligação pluripartidária.
Por meio de federação, Pacheco poderia até ser o candidato pretendido pelo PSD sem precisa deixar a futura legenda resultante da fusão de DEM e PSL, cujos nomes em teste são BEM, Mude e DS. Esse instrumento também é bom para Lula, que desde o início de sua elegibilidade restaurada trabalha por uma Frente Brasil Popular ampliada, que inclui o PSol sem candidato. A sorte está lançada. Para poucos.
*Sílvio Ribas, jornalista, escritor, consultor em relações institucionais e assessor parlamentar no Senado Federal