O celular do empreiteiro da OAS José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, apreendido na Operação Juízo Final, a 7ª fase da Lava Jato - em novembro de 2014 -, levou os investigadores a identificar o depósito de R$ 350 mil na conta da Paróquia São Pedro, no Distrito Federal, ligada ao ex-senador Gim Argello (PTB-DF). O arquivo de mensagens é revelador. Os textos indicam uma conduta agressiva de Gim Argello, provavelmente quando exigia propinas. Ele era chamado de 'Alcoólico' por Léo Pinheiro.
"Otávio, O nosso Alcoólico está indóssil (sic). Seria oportuno uma ligação sua para ele. Fico preocupado com as reações intempestivas. Abs. Léo", escreveu o empreiteiro no dia 5 de agosto de 2014 para Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez.
O ex-parlamentar foi preso nesta terça-feira, 12, na Operação Vitória de Pirro, 28ª etapa da Lava Jato. Para a força-tarefa da Procuradoria da República e da Polícia Federal, o repasse da OAS ao templo foi um pedido de Gim Argello para que Léo Pinheiro não fosse convocado a depor na CPI da Petrobrás, em 2014, da qual o então senador era vice-presidente.
Na decisão em que deflagra Vitória de Pirro e manda prender Gim Argello, o juiz federal Sérgio Moro se referiu a mensagens trocadas por Léo Pinheiro, em 2014, com interlocutores, entre eles o ex-presidente da Andrade Gutierrez e hoje delator da Lava Jato, Otávio Marques de Azevedo, como um 'verdadeiro encontro fortuito de provas'.
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O juiz da Lava Jato destacou ainda uma troca de mensagens de 30 de setembro de 2014, entre Léo Pinheiro e Gustavo Nunes da Silva Rocha, presidente da Invepar, empresa do Grupo OAS.
"Gustavo Rocha: Falei com ele [Gim Argello} agora. Fiquei de retornar com os próximos passos. Abs."
Em 14 de maio de 2014, data da instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobrás no Senado, José Adelmário trocou mensagens com Dilson Paiva e Roberto Zardi, ambos diretores da OAS.
"Dilson,
Preciso atender uma doação: Para: Paroquia São Pedro CNPJ 00.108.217/007980 C/C 01609.7 Agência: 8617 Bco: Itaú Valor $350.000,00 (trezentos e cinquenta mil reais) Centro de custo: Obra da Renest Projeto Alcoólico www.paroaquisaopedro.com.br Endereço QSD AE 25 Setor D Sul Taquatinga DF."
Os investigadores estão convencidos que 'Alcoólico' é o codinome utilizado por Léo Pinheiro para referir-se a Gim Argello, em trocadilho com a bebida gim, aguardente aromático e destilado à base de cereais que teve origem nos Países Baixos no século XVII.
De acordo com a força-tarefa, a mensagem significa o pagamento de R$ 350 mil para conta da paróquia por solicitação de Gim Argello ('Alcoólico'), com o custo sendo suportado pelos contratos da OAS junto à Refinaria do Nordeste Abreu e Lima.
Os investigadores resgataram troca de mensagens cifradas entre Léo Pinheiro e Roberto Zardi para esclarecer sobre o que estão tratando:
"José Adelmário: Dilson, vai lhe pedir um apoio. Vc. ainda continua tomando Gim? Qual alegoria marca? Abs
Roberto: OK, Tomei naquele dia e gosto. José Adelmário: A a. Abs"
Em 16 de maio de 2014, há registro de ligações telefônicas de Gim Argello para Léo Pinheiro e para Roberto Zardi. A força-tarefa identificou que, neste mesmo dia, consta cobrança do empreiteiro a seus subordinados quanto ao repasse na conta do templo.
"José Adelmário: Já foi feito o depósito da Igreja?
Dilson: Dr. Leo. Ainda não. Conversei pessoalmente com o Roberto Zardi ontem. Ele vai procurar o padre pessoalmente.
Dilson: Já está marcada a conversa para hoje. José Adelmário: Ok."
Para os procuradores, como o pagamento seria feito com intermediação da Paróquia São Pedro, Dilson Paiva diz que embora o pagamento não tivesse ainda sido realizado, Roberto Zardi - diretor de Relações Institucionais da OAS, em Brasília - iria 'procurar o padre pessoalmente'. Segundo a força-tarefa, isto 'sugere uma conversa pessoal com Gim Argello'.
Em 20 de maio de 2014, consta registro de outra ligação de Roberto Zardi para Gim Argello, de acordo com a Lava Jato. No dia seguinte, Roberto Zardi confirma a Léo Pinheiro o recebimento da 'doação' por Gim Argello ('Alcóolico'), relata a força-tarefa.
"Roberto Zardi: Doação, confirmado recebimento Alcoólico. José Adelmário: Ok."
Os procuradores identificaram ainda o nome 'Alcoólico' em troca de mensagens de Léo Pinheiro com Otávio Marques de Azevedo, presidente do Grupo Andrade Gutierrez que também fechou acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República.
"José Adelmário: Podemos falar com o Alcoólico na 5ª tb? Otávio Marques: Não entendi? José Adelmário: Já falamos é o G Otávio Marques: Ok. José Adelmário: Tudo bem? na 5ª fim de tarde ou 6ª entre 10 e 11hs poderíamos conversar? Abs."
Em outras mensagens, de 25 de junho de 2014, com empreiteiros, em conversa com Ricardo Pessoa, Léo Pinheiro volta a falar do 'Alcoólico'.
"José Adelmário: Mário ou quem ele determinar precisam procurar o Alcoólico urgente. Estão numa pressão impressionante. Vc. falou com Sergio? Abs
Ricardo Pessoa: Ainda não falei com Sergio. Márcio me disse que já enviou o amigo para conversar. Abs.
José Adelmário: Com o Alcoólico?
Ricardo Pessoa: Sim. São amigos o álcool e o meloncia.
José Adelmário: Ok. O clima não está nada bom."
COM A PALAVRA, A DEFESA DE GIM ARGELLO
O criminalista Marcelo Bessa, defensor do ex-senador Gim Argello, disse que não poderia se manifestar porque está estudando as informações que constam dos autos da Operação Vitória de Pirro.
COM A PALAVRA, A OAS
A OAS informa que estão sendo prestados todos os esclarecimentos solicitados e dado acesso às informações e documentos requeridos pela Polícia Federal, em sua sede em São Paulo, na manhã desta terça-feira. A empresa reforça que está à inteira disposição das autoridades e vai continuar colaborando no que for necessário para as investigações.
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