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O que nos une

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Por Cezar Miola, Ítalo Dutra e Luiz Miguel Martins Garcia
Atualização:
Cezar Miola. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

O difícil processo de retorno de milhões de crianças e adolescentes às salas de aula evidencia, com ainda mais clareza, a necessidade de se aumentar os esforços para reduzir as desigualdades educacionais, ampliadas pelo longo período de afastamento dos ambientes de ensino. E é urgente recuperar o vínculo entre estudantes e escolas, com medidas ágeis, criativas e efetivas de estímulo a essa retomada, além do básico: garantir a segurança sanitária de estudantes, profissionais da educação e as famílias de cada um. E para além de retornar, é preciso meios para manter esses laços. E, claro: diagnosticar os déficits de aprendizagem e implementar medidas visando à sua recuperação, o que demandará a concretização da "garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida" (art. 3º, III da LDB). Mas isso não se fará se ficarmos apenas no terreno da argumentação.

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Tratamos de tarefas complexas, que exigem uma ação intersetorial. Para tanto, é fundamental avaliar as condições de cada rede de ensino e assegurar os recursos humanos e financeiros. Não é admissível, portanto, como ocorreu em 2020 (com indicativos de se repetir neste ano), que diversos entes da federação não invistam nem mesmo o mínimo constitucional assegurado à educação. Há, sim, muitas demandas a serem atendidas, da infraestrutura das escolas à remuneração e capacitação de professores; do acesso à internet ao apoio às famílias mais vulneráveis.

Em novembro de 2020, 5,1 milhões de crianças e adolescentes não tiveram acesso a seu  direito fundamental à educação. É o que mostra a pesquisa "Cenário da exclusão esco-lar no Brasil", realizada pelo UNICEF em parceria com o CENPEC.  O pior resultado foi registrado entre os estudantes de seis a 10 anos, etapa marcada pelo início da escolarização e da alfabetização. Das crianças e adolescentes que estavam sem acesso a educação em novembro de 2020, 41% eram dessa faixa etária. Nesse cenário, a adoção de estratégias como a Busca Ativa Escolar e a matrícula a qualquer tempo se tornam fundamentais para resgatar essas meninas e meninos que tiveram o direito de acesso à educação negado. Essa matrícula permite o retorno do estudante independentemente do momento do ano letivo em que ele se desligou do ambiente escolar. A tarefa é premente, já que, quanto mais durar o afastamento, menor a probabilidade de retorno, principalmente daqueles pertencentes a famílias em situação de vulnerabilidade social.

Por isso, é urgente fazer e falar a respeito. É imperioso que essas preocupações sejam compartilhadas pelas políticas públicas, mas que também encontrem eco nos veículos de comunicação, nas redes, na sociedade. Há algo muito grave se desenrolando a cada dia, que não tem o apelo de outras notícias tristes destes tempos sombrios, mas que vai marcar o presente e o futuro do país. Poder Público, estudantes, famílias: todos precisamos estar convencidos da extrema gravidade da situação, da importância do tema e da responsabilidade de cada um nesse processo. E reagir afirmativamente. Com esse intuito, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a União Nacional dos Dirigentes de Educação (Undime) e o Instituto Rui Barbosa, por meio do seu Comitê da Educação, têm promovido ações indutoras e de orientação focadas na redução dos impactos da pandemia na educação. Uma dessas iniciativas mostrará como alguns municípios e estados estão conseguindo trazer crianças e adolescentes de volta para as salas de aula. Agendada para o próximo dia 29, às 16h30 no horário de Brasília, a videoconferência " Desafios para a reabertura segura das escolas e a importância da matrícula a qualquer tempo ", com transmissão no canal do Conviva Educação, pretende apresentar práticas que estão dando certo e que podem servir de inspiração para as demais redes de ensino.

A iniciativa é singela frente ao desafio, mas carrega o valor simbólico da articulação e do diálogo, a partir da compreensão de que cada menino e menina que retorna e permanece na escola representa a possibilidade de um Brasil mais igualitário e com mais oportunidades. É o propósito que nos une, e que, esperamos, possa unir a nação.

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*Cezar Miola, presidente do Comitê Técnico da Educação do Instituto Rui Barbosa; Ítalo Dutra, chefe de Educação do UNICEF no Brasil; Luiz Miguel Martins Garcia, presidente da Undime e dirigente municipal de Educação de Sud Mennucci/SP

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