Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

O ‘tapeceiro’ Bolsonaro: leia o voto do corregedor do TSE pela inelegibilidade do ex-presidente

Ministro Benedito Gonçalves destacou que ‘com habilidade [Bolsonaro] costurou os retalhos de informações falsas já tão naturalizadas em sua fala que soavam legítimas’

PUBLICIDADE

Foto do author Pepita Ortega
Atualização:

O voto do ministro Benedito Gonçalves, que defende a inelegibilidade de Jair Bolsonaro até 2030 e entra para a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, compara o ex-presidente a um tapeceiro que executa seu trabalho com esmero. Em 382 páginas - das quais extraiu um ‘resumo’ de 200 páginas para ler no Plenário do TSE na noite desta terça, 27 - ele atribuiu ilícitos a Bolsonaro: ‘espalhar mentiras atrozes’ sobre as urnas eletrônicas e ‘flertar com o golpismo’.

PUBLICIDADE

No documento dividido em 40 itens que prendeu as atenções do mundo político, o corregedor exibiu argumentos e fundamentos que o levaram a propor a condenação de Bolsonaro por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação - durante a polêmica reunião com embaixadores realizada no ano passado.

Na avaliação de Benedito, os ‘ilícitos comprovados’ na ação sob escrutínio do TSE transbordam em ‘leviandade, no uso das prerrogativas do cargo público e do comando das Forças Armadas para promover o acirramento de tensões institucionais, virulência, covardia, manipulação de sentidos e no golpismo’.

Jair Bolsonaro em sua residência em Brasília, no dia em que a Polícia Federal fez buscas no local. Foto: Adriano Machado/Reuters Foto: Adriano Machado/Reuters

O relator da Ação de Investigação Judicial Eleitoral que pode afastar o ex-presidente das urnas pelos próximos oito anos destaca ‘graves e infundados’ ataques de Bolsonaro ao sistema eletrônico de votação que resultaram na ‘banalização do golpismo’ e tem como símbolo a ‘minuta do golpe’ apreendida na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, durante batida da PF em janeiro.

Para o corregedor, Bolsonaro não é o ‘único elo’ entre os eventos, mas pessoalmente responsável pela reunião com diplomatas em que levantou suspeitas sobre as urnas e também pelos ‘efeitos pragmáticos’ da mensagem que difundiu.

Publicidade

Ele usou metáforas para descrever as ações de Bolsonaro e suas consequências. Disse que o ex-presidente usou suas redes sociais e a TV Brasil como um ‘espelho distorcido’ no qual fez ‘monólogo insidioso’ sobre as urnas.

Ainda de acordo com o ministro, Bolsonaro foi responsável por uma ‘tapeçaria’ que não ‘orna’ com os fundamentos da República - soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana e pluralismo político.

”Com habilidade, [Bolsonaro] costurou os retalhos de informações falsas já tão naturalizadas em sua fala que soavam legítimas. Usou como linha o simulacro de desejo por eleições transparentes e por resultados autênticos. Bordou o discurso com um apelo rude para que a comunidade internacional não desse ouvidos ao TSE. E arrematou os pontos com o alerta de que algo precisava ser feito – uma ação ainda sem verbo, mas que partia da ideia de que a simbiose Presidência da República/Forças Armadas jamais aceitaria uma imaginária farsa eleitoral”, sustentou o corregedor.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.