O ex-deputado federal Pedro Corrêa, em delação premiada fechada com a Operação Lava Jato, afirmou que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez "campanhas eleitorais com recursos arrecadados por PC Farias" - Paulo César Farias, o ex-tesoureiro da campanha presidencial de Fernando Collor de Mello (PTC-AL), encontrado morto em 1996, num dos mais enigmáticos episódios da história política brasileira, que completa este mês 20 anos.
"Renan fez suas campanhas com o dinheiro arrecadado por PC Farias", registra o "Anexo 51", um resumo da delação de Corrêa fechada com a Procuradoria Geral da República (PGR) sobre Renan Calheiros. O presidente do Senado é investigado por suposto envolvimento na corrupção sistematizada na Petrobrás e outras estatais, nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
A acusação de Corrêa remonta a década de 1990. PC Farias foi o tesoureiro da campanha presidencial de Collor, em 1989, e pivô do impeachment, em 1992, acusado de corrupção.
"Renan Calheiros fazia parte de um grupo que ficou conhecido como 'República de Alagoas'. Isto porque, Collor, quando assumiu a Presidência da República, trouxe uma série de auxiliares (Zélia Cardoso, Margarida Procópio, Geraldo Bulhões, Renan Calheiros, etc) da época que era prefeito de Maceió e governador de Alagoas", registra o termo de Corrêa.
Segundo o delator, a "República de Alagoas" era comandada "por Fernando Collor e PC Farias, que era arrecadador de propinas dos negócios realizados pelo grupo".
"Sabe de tudo isso porque convivia com PC Farias desde criança, fazendo política estudantil na ARES (Associação Recifense dos Estudantes Secundaristas), relembrando que o presidente da associação era Sérgio Guerra (senador e ex-presidente do PSDB, morto em 2014)."
Com sete mandatos parlamentares - carreira iniciada em 1978 -, Corrêa confessou que em todos eles recebeu propina de empresários beneficiados por indicados por ele, em cargos estatais, por contratos públicos. No caso do elo entre Renan e PC Farias, o ex-deputado diz que conhecia o ex-tesoureiro desde a infância.
O corpo de PC Farias PC Farias foi encontrado no dia 23 de junho de 1996, ao lado do da namorada Suzana Marcolino, também morta, na casa de praia que ele mantinha, perto de Maceió. O crime foi dado como crime passional - Suzana teria matado o amante e se suicidado. Há peritos, no entanto, que até hoje apontem o caso como duplo assassinato.
Corrêa, confessou ter recebido recursos de propina de PC Farias. "Na eleição de 1990, o colaborador recebeu dinheiro por fora de PC Farias, o montante foi de 100 mil dólares", registra o "Anexo 51".
A relação de Renan com Collor sempre foi de altos e baixos. Quando era deputado em Alagoas, na década de 1980, era ferrenho crítico do ex-presidente que era prefeito de Maceió. Em 1989, como deputado federal, embarcou na campanha de Collor a presidente e virou o primeiro líder do governo na Câmara, no início de 1990. Naquele ano, ele disputaria o governo de Alagoas e romperia com Collor depois de acusar PC Farias de patrocinar seu adversário Geraldo Bulhões - vitorioso. Em 1992, quando estourou o escândalo que resultou no impeachment, Renan acusou PC de comandar "um governo paralelo" no Planalto.
Petrobrás. As confissões sobre propina na era Collor servem para a Lava Jato apenas para consolidar um quadro de histórico de Renan como investigado no esquema sistematizado de corrupção nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. O presidente do Senado é alvo de investigação na PGR como um dos beneficiários da cúpula do PMDB nos desvios praticados na Petrobrás e em outras estatais loteadas entre partidos da base aliada.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, considera que o PT e o PMDB foram os dois partidos de comando do núcleo político alvo da Lava Jato. Em sua delação, Corrêa confirmou que Renan teria se beneficiado de R$ 6 milhões em propinas da Petrobrás, em 2006, quando o seu partido passou a dar sustentação para o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa.
"Renan foi o 'maior' dos participantes da reunião em que estava presentes os integrantes do PMDB, Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró (ex-diretor de Internacional), bem como o operador Jorge Luz"", descreve o item "(A)" do "Anexo 51". "Ficou acertado que os diretores da Petrobrás repassariam um valor de propina para a campanha do PMDB de 2006. O valor efetivo repassado foi de 6 milhões de dólares, tendo sido descontado da propina do PP, a contragosto do partido."
O PP, que tinha Corrêa como presidente, era quem sustentava Paulo Roberto Costa no cargo, na divisão de diretorias da Petrobrás entre PT, PMDB e PP, segundo confessaram delatores. A entrada do PMDB como cota da área de Abastecimento ocorreu devido uma tentativa de afastar o então diretor do cargo.
"Renan Calheiros participou da negociação e do recebimento da propina." Os dois primeiros delatores da Lava Jato, Costa e o doleiro Alberto Youssef, haviam confessado em 2014 a existência de tal acordo com Renan e membros da cúpula do PMDB.
Operador. Pedro Corrêa deu aos investigadores da Lava Jato, ainda, pistas sobre a participação do presidente do Senado no esquema de corrupção na Petrobrás ao indicar um suposto operador de propinas do peemedebista. Ele apontou o lobista Milton Lyra, conhecido como Miltinho, como o "maior operador" de Renan Calheiros.
"Miltinho se relacionou com Renan e começou a ser um faz tudo para ele, virando um dos maiores operadores do senador Renan Calheiros."
Segundo o delator, "Miltinho Lira era de Pernambuco, sento se ligado ao Estado de Alagoas, porque namorou durante muito tempo a filha do usineiro João Lyra".
Ex-presidente do PP e parlamentar por sete mandatos, Corrêa foi pego no mensalão, acabou condenado em 2012 e preso em 2013. Cumpria pena em Pernambuco, quando foi preso novamente em agosto de 2015, por ordem do juiz federal Sérgio Moro - titular da Lava Jato, em Curitiba. Alvo da 11ª etapa, batizada de Operação A Origem, o delator fechou acordo com a força-tarefa da PGR para reduzir ou escapar da das penas impostas por Moro, que em outubro o condenou a 20 anos de prisão pelo recebimento de R$ 11 milhões em propina, na Petrobrás.
COM A PALAVRA, O PRESIDENTE DO SENADO, RENAL CALHEIROS (PMDB-AL)
"O Senador Renan Calheiros assegura que não se reuniu com Pedro Corrêa e nunca o faria por se tratar de pessoa que não é de suas relações, nem políticas ou pessoais", informou o senador Renan Calheiros em resposta ao depoimento de Corrêa.
Em nota, Renan esclarece que todas as doações às suas campanhas foram legais e aprovadas pela Justiça. O senador lembra ainda que não foi candidato em 2006.
COM A PALAVRA, MILTON LYRA
Nota de esclarecimento
O empresário Milton de Oliveira Lyra Filho nega taxativamente as fantasias noticiadas a seu respeito, baseadas em suposta delação. A começar pelo apelido de "Miltinho", pelo qual jamais foi chamado. Suas atividades profissionais e empresariais são conhecidas do mercado desde 1993. A acusação de lobby é uma mentira que o empresário desafia seu autor a provar. Milton de Oliveira Lyra Filho lamenta que boatarias sem fundamento desprestigiem investigações sérias como as do Ministério Público Federal.
Assessoria de imprensa
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